Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira 15 de dezembro de 2023 | 20:52
“Me alegrou”, diz o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre a decisão da COP28, conferência do clima da ONU, de fazer uma transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis. Para ele, no entanto, a transição definida na cúpula em Dubai (Emirados Árabes Unidos), encerrada na quarta-feira (13), será lenta se os países desenvolvidos não tomarem a frente.
Enquanto isso, ele aposta em ampliar a exploração de petróleo e gás no país. Também estuda a possibilidade de trazer gás da Argentina e dos Estados Unidos. Embora o combustível fóssil aumente as emissões de gases-estufa do Brasil, tornando mais desafiador o cumprimento dos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris, Silveira apresenta outra prioridade: aumentar a competitividade da indústria, com um combustível mais barato.
Após ter atraído holofotes e críticas internacionais no início da COP28 ao anunciar a adesão do Brasil à Opep+ (grupo expandido da Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Silveira sustenta que o momento foi adequado. “Foi uma bênção”, ele afirma nesta entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Enquanto isso, ele aposta em ampliar a exploração de petróleo e gás no país. Também estuda a possibilidade de trazer gás da Argentina e dos Estados Unidos. Embora o combustível fóssil aumente as emissões de gases-estufa do Brasil, tornando mais desafiador o cumprimento dos compromissos estabelecidos no Acordo de Paris, Silveira apresenta outra prioridade: aumentar a competitividade da indústria, com um combustível mais barato.
Após ter atraído holofotes e críticas internacionais no início da COP28 ao anunciar a adesão do Brasil à Opep+ (grupo expandido da Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Silveira sustenta que o momento foi adequado. “Foi uma bênção”, ele afirma nesta entrevista
O que o sr. achou da decisão final da COP28, de transitar dos combustíveis fósseis?
Me alegrou. Esperava até que ele fosse mais polêmico, exatamente pelo local onde a COP se deu, exatamente num país que vive vigorosamente a sua economia dependente do petróleo e do gás. Mas achei que foi extremamente coerente com o momento que o mundo vive, onde os fenômenos climáticos assustam todos nós.
Nós todos no Brasil sabemos que a sustentabilidade é um pilar fundamental nas políticas públicas internacionais e na política pública planetária. O que nós defendemos, de forma reiterada e de forma vigorosa, é que a transição energética seja também uma grande oportunidade de se fazer justiça entre os países do Sul Global e os países industrializados. Nós queremos tirar os países industrializados do conforto, ou até da apatia com o tema.
Ano que vem nós vamos ter a oportunidade com o G20, e eu em especial presidindo o tema de energia, de fazer um debate em torno da transição energética justa e inclusiva.
Ao longo da COP28, a delegação brasileira passou a afirmar com mais clareza uma posição favorável à eliminação gradual dos combustíveis fósseis, ao passo que o Ministério de Minas e Energia também anunciou que formará um grupo de trabalho sobre a transição energética no próximo ano. A pressão da COP pautou a posição brasileira?
Acredito que foi consolidando uma posição que já é a posição do governo. Chegamos na COP com toda aquela polêmica da entrada do Brasil na Opep+, e aquilo foi uma grande oportunidade de o Brasil não participar de algo que era vontade de alguns países desenvolvidos, em especial dos países da Europa. Queriam colocar o Brasil em uma camisa de força ambiental.
Nós não podemos participar dessa camisa de força. O Brasil precisa ainda explorar, de forma adequada e equilibrada, petróleo, minerais críticos, até porque a transição energética vai demandar minerais como lítio, cobalto.
O anúncio sobre a Opep+ e a visita à Arábia Saudita às vésperas da COP foram uma provocação? Foi proposital?
Não. Foi mais uma bênção de ter acontecido com a gente naquele momento o convite e o presidente Lula se manifestar a favor, até porque ele entende que nossa participação na discussão geopolítica internacional e no mundo árabe também é importante.
Mas o sr. acha que o momento foi adequado?
Foi exatamente o adequado. Fui muito criticado naquele primeiro momento por estar em um fórum ambientalista discutindo a participação do Brasil numa plataforma dos países exportadores de petróleo. Mas aquilo ali foi muito importante para o Brasil naquele momento, porque mostrou que o Brasil tem musculatura para discutir com altivez a sua matriz energética.
O Brasil quer ser respeitado, junto com os países do Sul Global, pelos países industrializados, para que a gente possa transformar a oportunidade da transição energética também em uma grande fonte econômica de combate à desigualdade.
A França não tem petróleo, então ela pode fazer um discurso politicamente correto na visão dela contra o petróleo, mas ela explora petróleo no mundo inteiro, inclusive no Brasil, e quer, muitas vezes, pressionar o Brasil e pressionar os países do Sul Global, colocando barreiras, como nós estamos tendo dificuldade agora, na relação do Mercosul e da União Europeia.
No Congresso, tramita o PL [projeto de lei] das eólicas offshore, que também passou a prever incentivos a carvão. Existe um risco de o lobby dos combustíveis fósseis sabotar os projetos de transição energética?
O governo será rigoroso na defesa do consumidor de energia do Brasil. Nós estaremos do lado do consumidor. Até porque energia é fonte de geração e de desenvolvimento.
O gás é considerado “combustível de transição” para países que dependem de petróleo e carvão, que não é o caso brasileiro. Por que o Brasil prevê expandir em mais de 30% a oferta de gás nesta década?
Ninguém consegue no mundo dizer em quanto tempo a transição vai se dar, de forma definitiva. Enquanto os países ricos e industrializados não deixarem a retórica e o discurso e não monetizarem as matrizes energéticas limpas e renováveis, nós vamos ter uma transição lenta.
O Brasil está esperando um sinal dos países desenvolvidos? Qual a lição de casa que o país vai fazer para planejar a transição aqui?
A brasileira a gente já faz. Inclusive, na próxima terça-feira (19), o CNPE [Conselho Nacional de Política Energética] vai aprovar o grupo de trabalho para a aplicação das políticas nacionais de transição energética que vão ser enviadas ao Congresso.
Contratamos neste ano R$ 40 bilhões em linhas de transmissão, num país que já tem 186 mil km de linhas de transmissão. Para quê? Para gerar energia limpa e renovável no Nordeste, para exportar a sustentabilidade.
Prefiro acreditar que o Brasil será capaz de atrair indústrias internacionais a fim de que essa sustentabilidade seja exportada através de produtos manufaturados, ou seja, que seja respeitado e que seja mais vigoroso o nosso conteúdo local, e não que a gente exporte água e energia para outros países.
Estou acreditando muito na produção dos nitrogenados, já que nós somos celeiros de alimentos e, para isso, nós precisamos do gás. Eu acho que a política do gás é correta, nós temos que produzir gás. Brigo para que a gente tenha mais gás, pois 33% da indústria química nacional está ociosa por falta de energia competitiva.
A gente deve discutir, inclusive, a possibilidade de aumentar os estudos do gás da Argentina e do gás americano, que é o gás explorado em terra. Nós temos que ver se ambientalmente é possível se explorar esse gás. É uma grande fonte energética que o Brasil não pode dispensar ainda.
O sr. defende novos investimentos em petróleo e gás e aponta custos para as renováveis. Qual é a sua definição de transição energética?
A da COP28. A COP fez um documento em que disse que há de haver um planejamento para que nós saiamos dos combustíveis fósseis e tenhamos energias limpas e renováveis. Essa é a definição que eu defendo. Que nós tenhamos um horizonte real, concreto, justo, para que nós possamos avaliar qual a melhor estratégia para a transição energética nacional.
A decisão da COP orientou o governo?
Sim. A COP orienta o planeta. Agora, o Brasil já faz os seus gestos, mais do que isso, o Brasil já paga por essa transição. Agora nós queremos os gestos dos países que têm média salarial de US$ 2.500, US$ 3.000 como é na Europa e nos Estados Unidos.
Ana Carolina Amaral/Folhapress