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Até ontem à noite, o governo permaneceu acuado pelo escândalo protagonizado por Waldomiro Diniz. O governo saiu do canto do ringue com a fita divulgada pelo Jornal Nacional onde o subprocurador da República, José Roberto Santoro, aparece tomando o depoimento extra-oficial do bicheiro Carlos Cachoeira na madrugada do dia 12 de fevereiro.
A primeira fita (a de Waldomiro com Cachoeira) mostrou que existia um corrupto dentro do Palácio do Planalto como assessor do mais poderoso ministro do governo – o chefe da Casa Civil da presidência da República José Dirceu de Oliveira.
A fita exibida pelo Jornal Nacional mostra que havia um subprocurador da República certo de que criaria, no mínimo, uma grave crise política. Ele disse a Cachoeira em um momento da conversa entre os dois:
– Daqui a pouco, o Procurador Geral chega. Ele vai vir aqui e vai me ver tomando um depoimento para, desculpe a expressão, ferrar o chefe da Casa Civil da presidência da República, o homem mais poderoso do governo. Ou seja: para derrubar o governo Lula.
Antes mesmo, portanto, de tomar o depoimento oficial do bicheiro, o homem obrigado a zelar pelo cumprimento da lei (no caso, o subprocurador) já concluíra pela culpa do ministro José Dirceu. E mais: apostava que isso poderia resultar na queda do presidente da República.
Assim como o procurador Luiz Francisco Fernandes de Souza sempre foi tido como ligado ao PT, o subprocurador Santoro é, desde sempre, tido como ligado ao presidente do PSDB, José Serra. Santoro prestou serviços a Serra quando esse foi ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso.
Ele foi também um dos procuradores que detonaram o escândalo Lunus – empresa da então governadora Roseana Sarney, do Maranhão, e do seu marido Jorge Murad. O escândalo sepultou a candidatura de Roseana à presidência da República. A Polícia Federal encontrou R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo no cofre da Lunus.
A temperatura política a partir desta manhã deverá atingir no Congresso um grau elevado. Porta-vozes do governo dirão que Santoro fez parte de uma manobra para derrubar o ministro José Dirceu e atingir o próprio presidente da República. Líderes dos partidos de oposição desafiarão o governo a apurar tudo por meio da instalação de uma CPI.
Se o episódio Waldomiro lançou suspeição sobre o governo, o episódio Santoro promoveu a mesma coisa com a oposição – ou parte dela, pelo menos. Assim como não é possível desvincular Waldomiro de José Dirceu, não dá para desvincular Santoro do PSDB e do seu presidente.
Não surgiu até aqui uma única prova de que Waldomiro fez o que fez (cobrar propina) a mando de José Dirceu ou com o prévio conhecimento dele. Não deverá aparecer uma única prova de que Santoro tenha agido sob inspiração de Serra.
E daí?
Na política, o que costuma valer não é o fato – mas a versão.