São Paulo – O Ministério Público de São Paulo (MPSP) cobrou explicações após a tornozeleira eletrônica usada por Karen de Moura Tanaka Mori, a Japa, alertar, pela segunda vez, que a presa teria saído do perímetro da prisão domiciliar. Ela está detida sob acusação de lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O alerta mais recente da tornozeleira eletrônica foi disparado na terça-feira (23/4). O aparelho permaneceu fora da área permitida por mais de duas horas, das 17h30 às 19h31, conforme relatório da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), obtido pelo Metrópoles. Na ocasião, a equipe de monitoramento tentou contato com a Japa do PCC, mas as ligações caíram na caixa postal.
Essa é a segunda vez que o aparelho aponta violação às regras da prisão domiciliar. O primeiro episódio foi registrado em 4 de março, quando os sinais emitidos pela tornozeleira ficaram 26 minutos fora do perímetro autorizado.
Na primeira ocasião, no entanto, ela negou que tivesse saído do seu apartamento, na zona leste da capital paulista, onde estaria realizando “tarefas domésticas”, conforme alegou.
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Reprodução/Polícia Civil
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Karen de Moura Tanaka Mori, a Japa, de 37 anos, viúva do líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro Reprodução/TV Bandeirantes
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Karen de Moura Tanaka Mori, a Japa, é viúva de Cabelo Duro Reprodução
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Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, líder do PCC na Baixada morto em 2018 Reprodução/YouTube
No primeiro descumprimento, a versão da Japa do PCC foi confirmada pela SAP. Segundo a análise da pasta, a primeira violação havia sido apontada por um erro de transmissão de sinal da tornozeleira – e não por “ação deliberada da monitorada”.
Já desta vez, o relatório inicial da pasta afirma que ela “violou sua área de inclusão por mais de uma hora” e que foi encaminhado ofício para o Judiciário. A defesa da investigada ainda não se pronunciou sobre o episódio.
Lavagem de dinheiro A Japa do PCC responde à investigação por suposta lavagem de dinheiro da facção. Segundo o MPSP, ela movimentou R$ 35 milhões após a morte do marido, o ex-chefão do PCC Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, que foi executado em 2018.
Com patrimônio milionário e rotina marcada por viagens internacionais, ela é suspeita de herdar “bens escondidos” de Cabelo Duro e liderar esquemas da facção em Santos, Cubatão e Guarujá, no litoral paulista, e na cidade de São Paulo. Ela alega inocência.
A Japa do PCC foi detida em flagrante durante mandado de busca e apreensão cumprido em fevereiro. Com ela, os agentes encontraram duas malas com R$ 1.039.600, em espécie, e cerca de 50 mil dólares (R$ 250 mil), além de documentos, o celular dela, um Iphone 14, e um Audi Q3.
Pouco depois, o juiz Guilherme Eduardo Martins Kellner, da 2.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), autorizou a prisão domiciliar de Karen. O magistrado considerou que ela tem um filho de 12 anos e que não é investigada por um crime violento.
“Apesar da gravidade dos fatos e dos indícios de autoria que pairam contra a indiciada, concluo, em observância ao Código de Processo Penal, que ela faz jus à prisão domiciliar”, disse o magistrado na decisão.
Empresária de sucesso Em depoimento à polícia, a investigada alegou ser uma empresária de sucesso e negou que o seu patrimônio tenha sido adquirido com dinheiro do crime. Também alegou que “nunca recebeu qualquer quantia” do marido e relatou que Cabelo Duro teria morrido “sem deixar quaisquer bens e dinheiro”.
A investigada, que é formada em enfermagem, disse que juntou dinheiro de 2008 a 2015 para abrir seus próprios negócios no ramo de estética. Segundo seu depoimento, enriqueceu após abrir “inúmeras empresas”, que se tornavam bem-sucedidas, e vendê-las para terceiros.
Para justificar a fortuna encontrada pelos policiais, afirmou não ter depositado o dinheiro no banco porque “temia que as autoridades a ligassem exatamente ao crime organizado e aos fatos ilícitos que a imprensa noticiava do seu marido”.
Já o Audi Q3 teria sido registrado no nome da tia por “não desejar que as pontuações de possíveis infrações de trânsito fossem cadastradas em seu nome”.
Como revelou o Metrópoles, a Polícia Civil chegou a formular um pedido na Justiça para poder usar o carro de luxo, mas a solicitação foi negada.