O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o Centrão, grupo político liderado por ele, deram nesta semana mais uma amostra de como é a relação entre o governo Lula e o Legislativo nesse terceiro mandato do petista no Planalto.
Nessa relação, classificada nos bastidores do Congresso como um “semiparlamentarismo branco”, Lira e seus aliados decidem os rumos do país, mas a conta e a responsabilidade pelos atos acabam nas costas do governo.
As votações de terça-feira (28/5) são exemplo disso. Patrocinadas por Lira e pelo Centrão, a derrubada do veto de Lula ao projeto que acaba com as saidinhas de presos e a taxação das “blusinhas” prejudicam a imagem do governo.
No caso das saidinhas, o governo está sendo tachado de “defensor de bandido”, mesmo com Lula tendo sancionado o projeto que acaba com as saídas temporárias quase em sua totalidade, vetando um único artigo.
A situação piorou após o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), comprar a derrota já precificada há dias, ao dizer que a manutenção do veto era “questão central” para Lula.
Como mostrou a coluna, logo que Lula vetou o projeto, importantes lideranças do Centrão garantiram que o veto seria derrubado, na medida em que a proposta foi aprovada pela ampla maioria dos parlamentares.
Aumento de impostos A taxação de compras internacionais online abaixo de US$ 50 foi ainda pior. O governo Lula e o próprio PT passaram semanas se opondo à iniciativa de Lira, vista como um gesto do deputado ao setor varejista.
Petistas na Casa e a própria primeira-dama Janja argumentavam, nos bastidores, que isso prejudicaria a imagem do PT em pleno ano eleitoral, pois, independente da autoria, a responsabilidade cairia no colo do governo Lula.
Dito e feito. Logo após sua aprovação na Câmara, a taxação foi colada no governo pela oposição. O PT aceitou o acordo para votação com um percentual menor do imposto de importação, diante da pressão de Lira.
Tal acordo, incluiu também o PL de Jair Bolsonaro. Mas foi Lula que recebeu da oposição a pecha de ter aumentado o imposto sobre as compras abaixo de US$ 50 feitas em sites estrangeiros.