Entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial de 2018, Paulo Guedes, anunciado meses antes por Bolsonaro como ministro da Economia do seu futuro governo, conversou meia dúzia de vezes em Curitiba com o então juiz Sérgio Moro, o chefe da Operação Lava-Jato.
Autorizado por Bolsonaro, Guedes convidou Moro para ser ministro da Justiça, mas para isso ele teria que renunciar à sua carreira de juiz. Em troca, mais tarde, Bolsonaro o nomearia ministro do Supremo Tribunal Federal. Moro, que condenara Lula à prisão, topou -e deu no que se viu.
Esta semana, em conversas com empresários paulistas e agentes do mercado financeiro, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central desde fevereiro de 2019, desestimulou a candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à sucessão de Lula daqui a dois anos.
Comentou, segundo a Folha de S. Paulo, que a situação econômica do país nos próximos anos sofrerá forte deterioração, o que poderia atrapalhar uma eventual vitória de Tarcísio. Melhor seria que ele se candidatasse à reeleição e só disputasse a presidência em 2030. Seria consagrado.
Mas, porém, contudo… Se Tarcísio, mesmo assim, decidisse concorrer à presidência em 2026, ele, Campos Neto, aceitaria ser seu ministro da Fazenda. Isso seria anunciado ainda durante a campanha, repetindo a estratégia usada por Bolsonaro no caso de Paulo Guedes.
Campos Neto e Tarcísio são amigos de longa data. Guedes tornou-se amigo de Bolsonaro ao se oferecer para assessorá-lo durante a campanha de 2018. À época, nem Bolsonaro acreditava que seria eleito. Guedes avalizou Bolsonaro junto aos afortunados, garantindo-lhes que ele era um liberal. Pois sim…
Tarcísio já é o candidato dos afortunados para derrotar Lula daqui a dois anos. Não precisa de um avalista junto a eles. Mas reconhece que Campos Neto seria um bom nome para ministro da Fazenda; e que o padrinho de sua candidatura, Bolsonaro, nada teria a opor, pelo contrário.
Foi Bolsonaro que nomeou Campos Neto presidente do Banco Central. No dia do segundo turno da eleição presidencial de 2022, Campos Neto vestiu uma camisa da Seleção Brasileira para ir votar. Pelos seus cálculos, Bolsonaro seria reeleito. Perdeu por pouco.
Na última segunda-feira (10/6), Campos Neto foi homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Em seu discurso, defendeu um Estado mínimo, mas com força suficiente para dar previsibilidade aos agentes do mercado financeiro. Os afortunados amaram a fala e aumentaram as críticas ao atual governo.
Lula não gostou nem um pouco da fala. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, menos ainda: “Isso é que é a tal autonomia do Banco Central. […] Quando a gente diz que ele (Campos Neto) é político, jamais um técnico, fica escancarado agora”.