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Esquema usa influencer de até 6 anos para disseminar cassino on-line

São Paulo — Organizações criminosas estão aliciando influenciadores mirins, de até 6 anos de idade, para que os menores promovam aos seus milhões de seguidores jogos de azar on-line como o popular Jogo do Tigrinho. Desde o ano passado, a Polícia Civil de São Paulo já registrou 500 casos envolvendo apostas na internet.

Os jogos mais populares entre os brasileiros são uma espécie de cassino on-line e são ilegais no país por infringirem a Lei de Contravenções Penais. O Jogo do Tigrinho, por exemplo, simula um caça-níquel, e ficou famoso por prometer ganhos fabulosos.

Com base em uma denúncia formulada pelo Instituto Alana, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) notificou o Instagram para que, em 20 dias, a plataforma se manifeste sobre o uso de jovens e crianças para a promoção e divulgação de jogos de azar.

A Meta, empresa responsável pela rede social, foi procurada e afirmou que não iria se manifestar sobre o caso.

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Jogo do Tigrinho

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Polícia de SP atribui 4 suicídios a jogo de azar online

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Crianças são usadas por criminosos para divulgar plataformas de jogos

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Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, afirma ao Metrópoles que, antes de acionar o MPSP, a entidade tentou, sem sucesso, convencer a Meta para que retirasse os conteúdos de jogos de azar dos perfis das crianças e dos adolescentes. Além do Instagram, a empresa é responsável pelo Facebook e pelo WhatsApp.

“Queremos garantir que a Meta seja investiga pelo que deixa de fazer. Fica patente que, não só o Instagram, mas todas as redes sociais não oferecem ferramentas de proteção. Isso precisa ser corrigido urgentemente”, afirma.

A coordenadora acrescenta que há uma vasta gama de estudos que apontam consequências negativas da exposição a jogos de azar, principalmente para o público infantojuvenil, como queda no rendimento escolar e o aumento de exposição a telas.

O design gráfico dos cassinos on-line, que são coloridos e muito persuasivos, também são um recurso traiçoeiro destacado por Maria Mello.

“Isso pode fazer com que se aumente a compulsão e promover para que, no futuro, essas crianças e jovens se tornem adultos financeiramente desequilibrados”.

O instituto identificou nove perfis de crianças e adolescentes, que somam quase 38 milhões de seguidores, nos quais os jogos de azar foram promovidos. Entre eles há uma menina de 6 anos e um garoto de 7.

O Metrópoles apurou que, até a manhã dessa sexta-feira (28/6), o perfil da menina de 6 anos promovida o Jogo do Tigrinho, por meio do adulto responsável pela criança, identificado como Jair, que seria primo dela. Entre os quase três milhões de seguidores da menina, há inúmeras crianças que são expostas ao conteúdo ilegal.

Jair foi procurado pela reportagem, na tarde dessa sexta-feira, mas não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

Milhões de seguidores O perfil do garoto de 7 anos, usado para promover jogos de azar, é administrado pela mãe dele. Ela também não foi localizada pela reportagem.

Segundo apurado pelo Metrópoles, o perfil faz parceria com casas de apostas e exibe os supostos ganhos por meio do perfil da criança, que conta com mais de dois milhões de seguidores.

Um adolescente de 15 anos, com cinco milhões de seguidores, usa seu perfil no Instagram para recomendar jogos de azar on-line, além de fazer análises de probabilidades de ganhos e apresentar tutoriais sobre como fazer as apostas.

Outra adolescente, de 16 anos, promove cassinos on-line oferecendo aos seus quase 14 milhões de seguidores incentivos financeiros em troca de participação nas apostas.

“Essa interação de crianças e adolescentes jamais poderia ocorrer. Eles não podem se envolver com jogos de azar, com aposta, de maneira nenhuma”, afirmou Maria Mello.

A pesquisa Crianças e Adolescentes com Smartphones no Brasil, promovida pela Mobile Time/Opinion Box, mostra que dos usuários do Instagram, com idades entre 0 e 16 anos, 66% eram crianças. O levantamento foi feito no ano passado com 1.617 pais de crianças e adolescentes que têm smartphone próprio ou acessam a rede por meio de aparelhos emprestados.

“Isso vai explodir” O psiquiatra Aderbal Vieira Júnior afirma que o perfil dos “jogadores patológicos” está mudando por causa das novas plataformas oferecidas pela tecnologia. No passado, segundo o especialista, o problema eram as corridas de cavalo. Depois, os bingos e, agora com a internet, os cassinos on-line.

Ele destaca que, com a legalização das apostas, por meio de palpites esportivos, as chamadas casas de Bet se multiplicaram pelo país. Caso os jogos de azar sejam legalizados, como prevê um projeto de lei que tramita no Senado, o médico alerta para o risco de uma epidemia de viciados em jogatina.

“Isso vai explodir. A dependência em jogos de azar vai sair de controle. A cada semana vai aparecer uma casa de apostas diferente”, projetou o psiquiatra, também responsável pelo ambulatório de tratamento de dependência de comportamento do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), do Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ele acrescenta que, no caso do vício em jogo, o doente acredita que a origem de seu problema também seja a solução. “A pessoa continua jogando após perder com a desculpa de ter a sensação de que pode ainda ganhar, que pode recuperar o que perdeu. Aí, aposta pesado, acreditando que irá ganhar pesado”.

Após perder R$ 170 mil, “apostador falido” milita no YouTube contra apostas

Sinal vermelho A situação de risco, afirma o psiquiatra, sustenta o “efeito base” de prazer do jogador, produzido pela sensação decorrente da dopamina.

O sinal vermelho, pontua ele, é quando o apostador começa a contrair dívidas, perde noites de sono jogando, diminuindo seu desempenho no trabalho e nos estudos.

“O grande impacto imediato do jogador patológico é a questão financeira. Isso ocorre de forma precoce, é um grande sinal de que alguma coisa está errada”.

Apesar do sintoma evidente, o especialista explica que, para não sentir que jogou fora sua dignidade, única coisa que acredita ainda lhe restar, o apostador segue jogando, com a esperança de recuperar o dinheiro que perdeu. “É um momento de humilhação pessoal, admitir que teve o prejuízo. Leva tempo para admitir isso”.

O Metrópoles já mostrou o caso de um técnico de eletrônica que criou um canal no YouTube após perder o carro, o emprego e R$ 170 mil por causa de apostas em cassinos on-line. Por meio de uma rede social, o morador de Piracicaba, interior de São Paulo, fala sobre o vício e alerta seus seguidores sobre os riscos das apostas pela internet.

“Jogo do Tigrinho”: polícia registra mais de 500 casos de golpes em SP

Tratamento A dependência em jogos, incluindo os que são on-line, é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Unifesp oferece atendimento gratuito para esse perfil de público, destaca o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior.

Ele afirma que há casos em que, ao parar de jogar, algumas pessoas ficam com “fissura”, semelhante à de tabagistas quando ficam sem sua cota de nicotina. Isso pode acarretar momentos de irritabilidade e ansiedade.

O Proad disponibiliza um número para ajudar quem acredita estar viciado em jogo. Basta ligar ou mandar mensagem para (11)99645-8038.

Caso de polícia Investigações da Polícia Civil de São Paulo mostram que organizações criminosas pagam para influenciadores promoverem as plataformas de jogos on-line, em alguns casos compartilhando links que fazem os usuários caírem em golpes.

Atualmente, há oito inquéritos instaurados pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), investigando a participação de influencers em lavagem de dinheiro, estelionato, crime contra o consumidor e associação criminosa.

O delegado Eduardo Simões Miraldi, do Deic, explica que as plataformas de jogos fecham parcerias com os influenciadores no Brasil, que começam a divulgar os cassinos on-line. Para isso, os influencers disponibilizam links, incentivando seus milhões de seguidores a clicar neles. Em alguns casos, eles compartilham, inclusive, links usados por quadrilhas para aplicar golpes.

Com isso, as pessoas são direcionadas para plataformas, onde os jogos de azar estão hospedados. Nelas, elas são levadas a fazer um cadastro, geralmente pagando um valor por meio de cartão de crédito ou Pix.

O que diz a Meta Procurada pelo Metrópoles, a Meta se manifestou por meio de nota, na qual afirma não permitir menores de 13 anos em suas plataformas (Instagram, Facebook e WhatsApp), “salvo em casos de contas gerenciadas por um responsável”.

“Nossas políticas também não permitem conteúdos potencialmente voltados a menores de 18 anos que tentem promover jogos on-line envolvendo valores monetários”. A empresa acrescentou “remover” postagens “dessa natureza”.

Questionada sobre a notificação enviada pelo MPSP, a Meta não se posicionou.

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