“A quinta-feira de Donald Trump foi uma vitória de Pirro. Você vai tirar do seu caminho um cara que sabe que pode derrotar, e derrotar feio, e pôr um curinga no seu lugar”, disse no último domingo Stephen Bannon, que comandou os últimos meses da campanha de Trump a presidente dos Estados Unidos em 2016.
Quem seria o curinga do Partido Democrata capaz de substituir Joe Biden como candidato à reeleição e derrotar Trump que lidera todas as pesquisas de intenção de voto? Bannon não disse quem seria, mas sugeriu que poderia ser qualquer nome de primeira grandeza dos Democratas, inclusive a vice-presidente Kamalas Harris.
Bannon entregou-se ontem à justiça para cumprir uma sentença de quatro meses de prisão por desacato ao Congresso. Declarou-se preso político. Mas antes previu que o desempenho de Biden no debate da semana passada o forçará a abandonar a corrida presidencial, negando aos republicanos o seu adversário mais fraco.
A campanha de Trump até aqui bateu forte na tecla de que Biden é um presidente senil e que não terá condições de governar. Isso ficou demonstrado durante o debate quando Biden travou logo de início e não conseguia completar frases e esquecia fatos. Como entregar o destino da maior potência mundial a um homem nessas condições?
Estão prontos e já testados comerciais de campanha do Partido Republicano com os piores momentos de Biden no debate e a pergunta que pode ser fatal: “E se um dia ele acordar de madrugada com a informação de que os Estados Unidos foram atacados pelo Irã ou a China? Você confia que ele tomará a melhor decisão?”
A torcida entre os Republicanos é para que Biden permaneça candidato; a torcida entre os Democratas, para que renuncie à candidatura. Biden tem os votos necessários para ser consagrado candidato na convenção do partido em agosto. O dinheiro doado à campanha por empresários milionários está nas mãos dele e só será usado com seu consentimento.
Se ele não concordar em sair de cena, nada se poderá fazer. Mas, pela primeira vez, um senador democrata pediu abertamente informações à Casa Branca sobre o estado de saúde de Biden. O senador Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, afirmou ter ficado “horrorizado” com o que viu no debate. Não só ele.
A Whitehouse, seguiu-se outro senador, Peter Welch, de Vermont, que repreendeu a campanha de Biden por sua “posição desdenhosa em relação às pessoas que estão levantando questões para discussão”. Democratas candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado estão em pânico com o chamado “Efeito Biden” sobre suas trajetórias.
Biden, sua família e os responsáveis por sua campanha cavaram trincheiras e resistem ali com ferocidade às propostas de trégua ou de rendição. E agora, o que se deve fazer? Estão marcados comícios nos próximos dias para que Biden se exponha mais longamente a multidões de modo a provar que tudo está bem com ele. Vai colar?
Por anos, Biden teve uma resposta pronta para os pessimistas que questionavam sua aptidão para concorrer novamente à presidência aos 81 anos, e governar até os 86. Ele dizia, aparentando ser sincero: “Observem-me”. Uma vez observado, deu no que deu. Então, Biden arranjou outra resposta: “Foi um momento ruim, mas sei o que faço”.
Na véspera do debate, uma pesquisa do New York Times/Siena College conferiu que 69% do total de eleitores, e 55% dos eleitores de Biden viam o presidente como velho demais para exercer o cargo com eficiência. O debate agravou a situação de Biden, a essa altura uma espécie de doente político em estado terminal.
“É assim que o jogo funciona”, argumenta um estrategista democrata sob anonimato. “Se você faz uma aposta e perde, você paga. Esta é uma aposta enorme que eles fizeram e perderam.” James Carville, marqueteiro da campanha de Bill Clinton e autor do famoso slogan “É a economia, estúpido”, não medes as palavras:
“É como ver sua avó nua. Você não consegue tirar isso da cabeça.”