A inflação medida pelo IPCA-15 não foi uma boa notícia para o governo. O índice apresentou alta de 0,54% em outubro, acima do esperado pelo mercado (0,50%), acelerando em relação a setembro (0,13%). Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada por esse indicador é de 4,47%, próximo do teto da meta do governo. Muita gente pensa que uma inflação de 4,5% é normal, não trazendo grandes preocupações. Não é bem assim.
Uma inflação de 4,5% significa que o poder de compra da população diminuiu em 4,5%. O que se comprava com R$ 100,00 há um ano, agora, compra-se apenas R$ 95,5 em bens em serviços. Ao longo do tempo, o impacto é ainda maior. Uma inflação média de 4,5%, acumulada em quatro anos, representa uma perda de poder de compra de 19,25%.
São várias as causas para a inflação deste ano estar próxima do texto da meta. A primeira decorre da recuperação do mercado de trabalho, com queda da taxa de desemprego e aumento da massa salarial. Mais pessoas trabalhando representam mais consumo. Para uma capacidade de oferta (produção) estagnada, o excesso de demanda se traduz invariavelmente em aumentos de preço. São leis de mercado.
Evidentemente, ganhos no mercado de trabalho são positivos para o país. No entanto, o tradeoff entre inflação e desemprego é embasado pela teoria econômica (curva de Phillips). Por essa razão, é fundamental que haja aumento da capacidade produtiva do país, como investimentos em infraestrutura e ganhos de da produtividade da mão de obra para suportar a elevação de demanda no curto prazo, e assim, o Brasil crescer de maneira sustentável, ou seja, sem gerar um processo inflacionário.
No entanto, o crescimento sustentável não parece ser o mais provável. Pelo contrário, o aumento de demanda não é atribuído apenas pela recuperação no mercado de trabalho, mas pelos estímulos do governo, como o aumento do gasto público e o crédito subsidiado.
Essa fórmula bastante adotada por governos de esquerda produz um crescimento artificial de curto prazo com consequências inflacionárias de médio e longo prazo. Aumentar o PIB às custas de mais inflação definitivamente não é crescer de maneira sustentável.
O atual governo ainda não entendeu a ineficácia dessa receita. A expansão do gasto publico tem piorado as contas do governo, elevado o dólar – que também impacta na inflação, na medida em que há componentes importados no processo produtivo-, e potencializado o aumento generalizado e persistente de preços. A inflação só não está mais elevada, porque o Banco Central age tecnicamente, subindo os juros para enxugar liquidez e desaquecer a economia, apesar de todas as pressões políticas do presidente Lula para baixar a Selic na “canetada”.
Se, em 2025, a nova diretoria do Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM), indicada majoritariamente pelo presidente Lula, ceder às pressões políticas do governo em baixar a Selic, a despeito das elevações do IPCA, o cenário para o descontrole inflacionário está dado. A responsabilidade do novo presidente do Banco Central e sua tropa é bem grande.