São Paulo — A festa da vitória de Ricardo Nunes (MDB), prefeito reeleito da capital, contou com a presença de um aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que é réu por lavagem de dinheiro e acusado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) de elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Colega de partido de Tarcísio, o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos, subiu no palco do Clube Banespa, na zona sul da capital, deu um abraço em Nunes e desejou parabéns a ele. Eles posaram para uma foto ao lado do sucessor de Santos em Embu, Hugo Prado (Republicanos). O governador estava presente no evento.
A cena, assistida por centenas de pessoas, ocorreu horas após Tarcísio dizer, durante a eleição, que havia sido interceptado um suposto “salve” do PCC pedindo voto no adversário de Nunes, Guilherme Boulos (PSol), ainda no primeiro turno.
O governador foi uma das “estrelas” da festa de Nunes e, de acordo com o próprio prefeito, foi o “alicerce da vitória”. “Agradeço ao líder maior sem o qual nós não teríamos essa vitória”, disse Nunes. “Você, Tarcísio, vai poder contar sempre comigo 24 horas por dia”, acrescentou.
Assista:
O suposto “salve” foi noticiado pelo colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles, no último sábado (26/10). “Isso aconteceu em São Paulo também, disseram que era para votar no outro”, disse Tarcísio na manhã de domingo, em coletiva de imprensa logo após votar.
“Teve o salve. Houve interceptação de conversas e de orientações. Uma facção criminosa orientando moradores de determinadas áreas a votarem em determinados candidatos. Com o serviço de inteligência, houve essa interceptação”, acrescentou o governador.
O prefeito e o PCC
Ney Santos é acusado de acumular um patrimônio milionário fruto do tráfico de drogas e outros crimes para o PCC, como roubo a banco.
Em 2016, ele foi alvo de uma extensa denúncia, ainda não julgada, feita pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPSP.
Na peça, ele aparece denunciado por um grande esquema de lavagem de dinheiro na aquisição de seu patrimônio, que incluía até mesmo carros de luxo. Postos de gasolina e imóveis estariam em nome de testas de ferro.
O dinheiro tinha como origem, segundo o MPSP, crimes que Ney Santos cometeu ao longo da vida. Ele foi preso em flagrante em 2003 por roubo a banco. Ele foi condenado em primeiro grau e absolvido após recurso.
“Claudinei Alves dos Santos, conhecido por Ney Gordo ou Ney Santos desde muito jovem, mereceu atenção dos órgãos policiais e de persecução por haver indicativos de que ele era membro do Primeiro Comando da Capital”, diz a denúncia do Gaeco.
Os promotores citam um relatório da Divisão de Investigação sobre Entorpecentes (Dise) de Taboão da Serra que apontou Ney Santos como responsável pelo tráfico de drogas na região oeste de São Paulo.
A denúncia cita, ainda, um episódio de 2010 em que Ney Santos era candidato a deputado federal e que um homem foi preso durante um comício de campanha com 40 tijolos de maconha.
De acordo com informações de inteligência da Polícia Militar, os entorpecentes seriam distribuídos no evento. Ney Santos disse que não sabia da existência da droga.
Sucessor
Após dois mandatos, Ney Santos não podia mais concorrer ao cargo e decidiu investir em seu vice, Hugo Prado, como sucessor. Sua candidatura recebeu uma injeção de R$ 1,9 milhão do diretório nacional do Republicanos, partido de Tarcísio.
Homem de confiança de Ney, Prado responde a ações de improbidade administrativa e chegou a ter seus bens bloqueados ainda neste ano. À Justiça Eleitoral, ele declarou 70% de seu patrimônio em dinheiro vivo.
Entre os bens estão cotas de R$ 150 mil em um empreendimento em Embu, R$ 2 mil em participações em uma cooperativa de crédito e R$ 350 mil em dinheiro em espécie.