O Irã está avançando rumo à bomba atômica, tendo elevado “drasticamente” as capacidades de seu programa nuclear, alertou nesta sexta-feira (6/12) a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), órgão das Nações Unidas.
Em entrevista à agência Reuters, o chefe do órgão, Rafael Grossi, disse que a república islâmica está aumentando “em sete, oito ou mais vezes” a quantidade de urânio enriquecido a 60% – hoje estimada em cinco a seis quilos por mês – e se aproximando dos cerca de 90% necessários à fabricação de armas nucleares.
Segundo Grossi, o Irã já dispõe de recursos suficientes para a fabricação de quatro bombas atômicas.
“Isso é uma mensagem. É uma mensagem clara de que eles [Irã] estão respondendo ao que sentem como pressão”, disse o chefe da IAEA.
O governo iraniano nega trabalhar na fabricação de armas nucleares e insiste que seu programa nuclear tem propósitos meramente civis.
Mas a Europa e os Estados Unidos argumentam que não há razões civis para enriquecer urânio a 60%. Países que chegaram a esse patamar se tornaram produtores de bombas.
Grossi disse que inspetores da ONU planejam averiguar a situação no Irã após o país notificar a agência sobre os seus planos.
“Acho que é muito preocupante”, comentou Grossi. “Eles estavam se preparando e têm todas aquelas instalações meio que em espera, e agora as estão ativando […]. Se realmente colocarem todas em operação, será um salto enorme.”
IAEA solicita garantias ao Irã
Em relatório confidencial enviado aos Estados-membros após a entrevista, a IAEA confirmou que o Irã estava acelerando o enriquecimento de urânio.
O órgão instou o Irã a “fornecer garantias oportunas e tecnicamente confiáveis de que a instalação não está sendo usada indevidamente para produzir urânio com um nível de enriquecimento superior ao declarado, e que não há desvio de material nuclear declarado”.
O relatório da IAEA coincide com o lançamento, pelo Irã, de sua maior carga útil já enviada ao espaço, usando um veículo lançador de satélites desenvolvido por conta própria, segundo a mídia oficial iraniana.
O Simorgh é movido a combustível líquido e foi desenvolvido pelo Ministério da Defesa iraniano para operações espaciais.
Os Estados Unidos alertaram para as atividades espaciais do Irã, argumentando que a tecnologia usada para satélites também pode ser aplicada a mísseis balísticos potencialmente capazes de transportar ogivas nucleares.
Comunidade internacional apreensiva
A notícia da IAEA sobre o Irã deixou parte da comunidade internacional apreensiva. À Reuters, uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha qualificou a ação iraniana de “escalada séria”. “É óbvio que tais medidas pioram significativamente as condições para esforços diplomáticos”, afirmou.
“Aumentar a capacidade de passar mais rápido à [fabricação de] várias bombas do calibre de armas de urânio aumenta o risco de um erro de cálculo e de ação militar”, disse à Reuters Kelsey Davenport, da Associação para Controle de Armas, entidade de advocacy baseada em Washington.
Donald Trump, que voltará à Casa Branca em janeiro, adotou em seu primeiro mandato uma política de “pressão máxima” sobre o Irã para destruir a economia do país rival depois de abandonar um acordo nuclear firmado em 2015.
Agora em seu segundo mandato, ele deve nomear figuras igualmente rígidas em relação ao Irã.
Grossi, da IAEA, disse em novembro que Teerã havia aceitado um “pedido” para limitar seu estoque de urânio enriquecido a até 60% e aliviar tensões diplomáticas – desde que o Conselho de Governadores da IAEA não aprovasse uma resolução contra o Irã. Mas a resolução acabou sendo aprovada num esforço coordenado entre Reino Unido, Alemanha, França e EUA.
“Não temos nenhum processo diplomático em andamento que possa levar a uma desescalada ou a uma equação mais estável no que diz respeito ao Irã”, lamentou Grossi.
Reino Unido, França e Alemanha disseram querer retomar negociações com o Irã antes que o acordo de 2015 expire, em outubro de 2025. O acordo suspendia sanções ao Irã em troca de restrições às atividades nucleares do país. Desde que Trump abandonou o pacto, o Irã também deixou de cumprir essas restrições.
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