Os ciclos de vendas e recebimentos nem sempre se alinham perfeitamente e isso faz com que o capital de giro seja uma estratégia importante para qualquer negócio.
Este é o recurso financeiro necessário para cobrir os custos operacionais diários, como pagamento de salários, fornecedores e impostos, garantindo que a empresa continue funcionando enquanto aguarda o dinheiro das vendas a prazo.
Historicamente, muitas empresas, especialmente as de menor porte, dependiam exclusivamente de recursos próprios ou de emergências custosas, como o cheque especial, para equilibrar o caixa.
No entanto, o mercado de crédito empresarial está em plena transformação, e o empréstimo para empresas se consolida cada vez mais como uma ferramenta estratégica, e não apenas um último recurso.
Essa mudança é confirmada por dados recentes. Um levantamento do Sebrae, com base em informações do Banco Central (BC), revelou que o crédito concedido a pequenos negócios atingiu R$ 109 bilhões apenas no primeiro trimestre de 2024, o melhor resultado em oito anos.
Entre as modalidades mais procuradas, o capital de giro aparece como uma das principais finalidades, mostrando que os empresários estão buscando ativamente soluções externas para manter a saúde do caixa.
A urgência do capital de giro e o dilema do empresário
A necessidade de capital de giro surge de um descompasso natural no ciclo financeiro: a empresa precisa pagar antes de receber. Por exemplo, a matéria-prima é comprada e paga em 30 dias, mas o produto final é vendido com prazo de recebimento de 60 dias. Esses 30 dias de intervalo precisam ser financiados.
Quando esse intervalo não é bem planejado, a empresa entra em uma crise de liquidez, mesmo que seja lucrativa no papel. A falta de dinheiro no caixa, momentânea ou prolongada, impede o empresário de:
- Aproveitar descontos em compras à vista.
- Garantir estoque suficiente em períodos de alta demanda.
- Pagar fornecedores no prazo, perdendo a credibilidade.
A solução mais preocupante, e comum, é vista em outra pesquisa do Sebrae: 61% dos donos de pequenos negócios recorreram a empréstimos por meio da pessoa física para financiar a própria empresa.
No caso dos MEIs, essa proporção sobe para 73%. Essa confusão entre o patrimônio pessoal e o empresarial é um dos maiores riscos de mortalidade dos negócios.
Como bem destaca Arthur Inácio, gerente financeiro da CashMe: “Quando o empresário recorre ao próprio CPF para salvar a empresa, ele está não apenas misturando as contas, mas assumindo um risco pessoal desnecessário. O empréstimo PJ, quando bem planejado, é uma ferramenta de gestão que protege o patrimônio e a saúde da família.”
O que mudou no mercado de crédito para empresas
O crescimento na busca por crédito empresarial não é apenas reflexo de uma necessidade, mas também de um mercado que se tornou mais acessível e diversificado.
A popularização das fintechs e a maior oferta de crédito com garantia, como o home equity, empréstimo com imóvel em garantia, têm transformado a experiência de crédito para a pessoa jurídica.
O uso de garantias reais, como imóveis ou veículos, permite que as instituições financeiras ofereçam:
- Taxas de juros significativamente menores: A garantia reduz o risco para o credor, o que se traduz em um custo final menor para o empresário.
- Prazos de pagamento mais longos: Permite que o empresário organize o fluxo de caixa sem a pressão de parcelas elevadas no curto prazo.
- Valores de crédito maiores: Ideal para quem precisa de um aporte robusto para grandes projetos ou para sanear o caixa de forma definitiva.
Essa nova realidade do crédito com garantia torna o financiamento do capital de giro muito mais sustentável do que linhas tradicionais e caras como o cheque especial ou o cartão de crédito PJ.
Capital de giro como alavanca de crescimento
Para o empresário que está pensando em dar o próximo passo, o crédito não serve apenas para “apagar incêndios”. Ele é o combustível para o crescimento estratégico.
A decisão de como abrir um negócio com sucesso ou expandir uma operação existente exige um planejamento financeiro que contemple o capital de giro ampliado. Um aporte financeiro bem utilizado pode financiar:
- Aumento de estoque: Para aproveitar uma oportunidade de compra em grande volume ou para se preparar para a sazonalidade.
- Investimento em tecnologia: Aquisição de um novo sistema ERP ou maquinário, que pode otimizar a operação e aumentar a margem de lucro.
- Estruturação de vendas a prazo: Possibilitar que a empresa ofereça prazos mais longos aos seus clientes sem comprometer a liquidez interna.
Em 2025, uma pesquisa do Sebrae sobre a finalidade do empréstimo entre pequenos negócios mostrou que 41% utilizaram o recurso para acesso ao capital de giro, mas também houve crescimento na busca por “compra de máquinas e equipamentos” (29%) e “reforma e ampliação do negócio” (21%).
Isso demonstra que o empréstimo está migrando de uma necessidade de sobrevivência para uma estratégia de investimento.
A importância de se profissionalizar na gestão
O acesso facilitado ao crédito, no entanto, exige maturidade na gestão. Um empréstimo barato e de longo prazo pode se tornar um problema se o capital não for alocado corretamente ou se a empresa não tiver um controle financeiro rigoroso.
Muitos empreendedores, especialmente os que gerenciam uma microempresa, acabam focando demais na operação e negligenciando a saúde financeira. É por isso que, antes de buscar qualquer linha de crédito, é crucial ter clareza sobre:
- A real necessidade: Qual é o valor exato necessário para equilibrar o caixa e por quanto tempo?
- O fluxo de caixa projetado: A empresa terá receita futura suficiente para pagar as parcelas sem comprometer o novo capital?
- O custo efetivo total (CET): Comparar diferentes modalidades de crédito e entender que a taxa de juros não é o único custo envolvido.
“A melhor linha de crédito para capital de giro é aquela que o empresário sabe exatamente como e quando será paga. O empréstimo com garantia, por oferecer taxas e prazos mais justos, dá ao empreendedor o tempo necessário para colocar a casa em ordem e usar o capital não apenas para fechar o mês, mas para planejar o próximo ano”, reforça o X, especialista financeiro da CashMe.
A decisão de tomar um empréstimo deve ser um ato de planejamento e estratégia, e não de desespero. Ao se profissionalizar na gestão financeira e escolher a modalidade de crédito mais vantajosa, como as que utilizam garantias, o empresário transforma um passivo potencial em uma ferramenta poderosa para a estabilidade e o crescimento.
