Quem ouve a mistura de ritmos baianos que resulta na música vibrante de Rachel Reis, não imagina que tudo isso nasceu da dor. O ano era 2019 e a jovem de Feira de Santana cantava em barzinhos enquanto trabalhava num posto de saúde. Até que um colega e grande amigo faleceu. Rachel abandonou o emprego e passou a questionar a vida. “Logo depois que ele morreu, decidi ir para Pernambuco e gravar essas duas primeiras faixas, Sossego e Ventilador. Eu decidi que iria compor e trabalhar com música de verdade”, conta ela, que percebeu que precisava interpretar suas próprias canções.
Rachel seria logo apontada por críticos e analistas musicais como uma das grandes promessas de 2022. Contabilizados os hits, participação em festivais, parcerias realizadas e milhares de ouvintes, é fácil concluir que Rachel Reis é uma promessa que se cumpriu.
A jovem de 25 anos e “voz macia”, assim referida pela grande imprensa, nasceu num núcleo musical. “Minha família é muito importante nessa construção, porque cresci observando esse movimento deles”, pondera a artista.
A mãe cantava serestas e forró piseiro, ritmo adotado pela irmã da jovem cantora. Até queriam que fizesse o mesmo, mas ela sentia que deveria seguir o próprio caminho. “Eu sempre fui na minha onda mesmo, no que gostava de escutar”, recorda.
Assim, acabou por mesclar MPB, samba reggae, arrocha, pagodão baiano e batidas eletrônicas na música que gosta de classificar apenas como ‘eclética’. Rachel evita limitações de um único estilo.
Com a morte do amigo, percebeu que a vida é curta demais para não investir em seus sonhos. “Isso mexeu muito comigo, a gente trabalhava junto”, lamenta. Foi quando Rachel abandonou o repertório alheio e dramático dos barzinhos – que a deixava triste -, para investir na alegre sonoridade do seu primeiro EP, Encosta, lançado em 2021.
Começou a ganhar destaque nacional e a realizar shows pelo país, mas nessa época ainda fazia faculdade e “trabalho convencional” para sobreviver. Não foi uma fase fácil. Somada às dificuldades financeiras, havia a timidez de menina diante dos palcos e a total falta de tempo.
Veja o clipe de Maresia:
Melhores do ano
“Já tive que conciliar relacionamento, faculdade, trabalho convencional, trabalho musical… Então foi uma correria muito louca”, relembra, falando da época em que não podia viver somente de música.
Até que Maresia, hit do seu EP, entrou em mais de 10 mil playlists do Spotify e no Top Viral Brasil. Chamou a atenção de artistas como Taís Araújo, Bruna Marquezine e Carlinhos Maia. Nasceram parcerias com as cantoras Illy e Céu, além de convites para atuar em festivais importantes como Rock the Mountain, Coala e Sangue Novo. “A gente sempre tem esperança de que as coisas aconteçam. Eu imaginava coisas boas, imaginava pessoas com quem eu trabalho hoje”, diz Rachel.
O primeiro álbum, Meu Esquema, saiu e já marcou presença entre os 50 melhores de 2022, segundo a Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Rachel recebeu também indicação como artista revelação no Prêmio Multishow. “Quando a gente vê que acontece, custa a acreditar”, vibra ela. Além disso, a cantora foi indicada ao Prêmio Baianos do Ano, do Jornal CORREIO, na categoria Música.
Veja o clipe de Motinha:
Rachel mantém a mesma sensualidade latente que caracteriza sua música, tanto na sonoridade quanto nas letras. O próprio videoclipe de Maresia, lindamente produzido, retrata um homem sem camisa com quem ela interage num dia de calor. Seriam suas letras inspiradas em romances que viveu? “Eu nunca fiz nada exatamente igual a algo que estava vivendo. Mas, às vezes, brinco que a gente faz indiretamente. O nosso inconsciente faz e a gente não se dá conta”, confessa a cantora.
Rachel Reis diz que está solteira no momento, disposta a conhecer novas pessoas sem pressa: “Eu sou uma pessoa muito caseira, sempre fui de poucas amizades”.
De um modo geral, a vida de Rachel está, agora, mais pacata. E, pela primeira vez, pode se dedicar inteiramente à música como sempre sonhou. Tudo isso revela que quem apostou no sucesso de Rachel Reis em 2022 está do lado dos vencedores.