O setor de bares e restaurantes foi um dos mais afetados pela pandemia. Em todo o país, o número de estabelecimentos caiu de 1 milhão para 750 mil; e o de empregos, de 6 para 3,9 milhões. A esperança voltou a sorrir para os empresários e trabalhadores da área com o avanço da vacinação e o retorno do público às mesas. Apesar das melhoras já sentidas com o fim das restrições sanitárias, uma outra epidemia passou a ameaçar a retomada do segmento: a violência.
Há uma semana, no último dia 21, o CORREIO alertou para o crescimento do número de arrastões cometidos em bares e restaurantes de Salvador e Região Metropolitana. Até aquela data, foram ao menos 8 casos em 60 dias. Três dias depois, na noite de 24 de abril, um bando assaltou o caixa, trabalhadores e clientes de uma hamburgueria e de uma loja de açaí na Pituba. As imagens do crime ganharam o mundo através da internet.
Não bastassem os já assustadores dez casos noticiados, o número de arrastões a bares e restaurantes deve ser maior. Diante da morosidade da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) em fornecer dados – que também não são conhecidos pela seção baiana da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA) -, a reportagem do dia 21 foi feita contando apenas os assaltos a bares e restaurantes registrados pela imprensa.
É compreensível que empresários desejem manter silêncio sobre essas ocorrências por causa do efeito negativo desse tipo de notícia ao negócio. Tal postura, porém, é um caminho que não leva à solução do problema. O que não se compreende é a letargia da SSP, seja para catalogar e divulgar informações às quais todo cidadão tem o direito de saber; seja para evitar novos casos.
Entre as ações anunciadas até aqui estão a adesão dos empreendimentos ao projeto Câmera Interativa da SSP, para que bares e restaurantes cedam à secretaria as imagens do interior e da área externa dos estabelecimentos. E o anúncio do governador de que vai comprar motocicletas para a PM fazer rondas em locais onde funcionam bares e restaurantes.
A primeira medida praticamente prova o dito de que o brasileiro só fecha a porta de casa depois que o ladrão entrou. De qualquer forma, essas imagens vão testar a capacidade de investigação da polícia baiana. A segunda é necessária, mas insuficiente. O policiamento ostensivo é dever da Polícia Militar e constrange quem pensa em realizar um ato delituoso. Mas nada do que foi anunciado indica qualquer tipo de prevenção ao crime. Constitucionalmente, a segurança pública cabe ao governo estadual, que precisa tomar a iniciativa de proposições, planejamento e liderança do combate aos arrastões.
Salvador é a porta de entrada da Bahia, e tanto cidade quanto todo o Estado encontram no turismo geração de renda e empregos, sendo uma fonte de arrecadação de imposto para sustentar ações de saúde, educação e segurança. Os arrastões a bares e restaurantes ameaçam o ir e vir, atentando, ainda, contra o direito que todos têm de se sentar em uma mesa, relaxar, desfrutar da vida apreciando bebidas, gastronomia, amizades e viver momentos de felicidade.
Na luta conta a covid, a defesa da vida impôs restrições que atingiram o coração dos bares e restaurantes, locais que servem de ponto de encontro entre grupos diversos para compartilhar lazer, assuntos de trabalho e aliviar dores cotidianas. Espera-se um efetivo combate aos arrastões que, assim como o coronavírus, põem em risco a vida de pessoas e a sustentabilidade de um negócio fundamental para o próprio Estado.