Teria sido tão fácil para Bolsonaro se reeleger. Todos os presidentes candidatos a um novo mandato se reelegeram. Seu principal adversário é um ex-presidiário que ficou 580 dias preso.
Verdade que a mais alta Corte de justiça do país soltou-o, anulando suas condenações e devolvendo-lhe o direito de se candidatar. Mas ainda se discute se ele é culpado por ter sido solto.
O antipetismo não é mais tão forte como era há quatro anos, mas ainda é. E Bolsonaro, às vésperas das eleições, decretou estado de calamidade pública no país para dar dinheiro aos mais pobres.
Aos mais ricos, deu gasolina barata. Aproveitou a queda no preço internacional do petróleo e obrigou a Petrobras a baixar o preço dos combustíveis. Aos políticos, deu o Orçamento Secreto.
É de calamidade pública a situação do país? Não é. Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes proclamam que a economia está bombando como nunca se viu, e que o próximo será um ano melhor.
Morreram mais de 680 mil brasileiros vítimas da pandemia da Covid-19. É, morreram, infelizmente, mas não fosse a firme atuação do governo sob o comando do ex-capitão teria sido pior.
Aquela história de “morram os que tiverem de morrer”, de “não sou coveiro”, de vacinado “pode virar jacaré”, foi apenas “força de expressão”, e Bolsonaro já se lamentou disso. Passou. Esqueça.
Ameaças à democracia? Ataques ao processo eleitoral e à justiça? Esqueça também. Se Bolsonaro não tivesse chamado tanta atenção para isso, as urnas eletrônicas não teriam sido aperfeiçoadas.
Se a justiça achasse que elas são seguras, não teria concordado em deixar que as Forças Armadas, no dia das eleições, façam uma apuração paralela para conferir tudo direitinho.
O preço dos alimentos está alto? Sim, mas já esteve mais. Inflação? Culpa da guerra na Ucrânia. Não, não foi culpa dos russos que invadiram a Ucrânia, mas dos ucranianos que os provocaram.
Golpe? Não vai ter golpe. Bolsonaro jamais falou em golpe. E, um dia desses, disse até que “se for a vontade de Deus”, ele transferirá a faixa presidencial ao sucessor e irá para casa conformado.
Espera-se, pois, um sinal de Deus, se possível ainda na noite de 2 de outubro, ou na noite do segundo turno, em 30 de outubro. Pastores evangélicos saberão decodificar o sinal.
Então, por que mesmo assim Lula está à frente das pesquisas e Bolsonaro uma dezena de pontos atrás? Para resumir a resposta: porque Bolsonaro foi o pior presidente da história do Brasil.
Quem o diz? Ora, os eleitores. A essa altura, a pouco mais de duas semanas das eleições, a aprovação do governo dos presidentes candidatos à reeleição era maior que a desaprovação.
Em 1998, o governo Fernando Henrique (PSDB) era considerado ótimo ou bom por 43% dos brasileiros, ruim ou péssimo por 17%. Em 2006, o de Lula, era aprovado por 48% a 18%.
O governo de Dilma Rousseff (PT) em 2014, reeleita afinal por três pontos de vantagem, era aprovado por 37% dos brasileiros e desaprovado por 24%. E o de Bolsonaro agora?
Segundo o Datafolha, apenas 30% dizem que o governo Bolsonaro é ótimo ou bom, contra 44% que dizem que é ruim ou péssimo. Bolsonaro é o candidato mais rejeitado e o menos confiável.
Sim, eu sei, o Datafolha não é o Data Povo que dá Bolsonaro como eleito. (Data Povo é um instituto que não existe, mas que é como se existisse para os bolsonaristas devotos.)
Quer dizer que Bolsonaro não se elegerá? Só os descrentes em milagres ou no imprevisível é que se arriscam a garantir que ele será derrotado. No momento certo, a palavra de Deus se fará ouvir.
E aí saberemos se essa eleição foi de fato, como diz Bolsonaro, uma luta entre o bem e o mal, e quem era o mal.
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