São Paulo — O escritório do advogado do ex-tenente-coronel da PM José Afonso Adriano Filho foi invadido na noite de quinta-feira (14/3), em Sorocaba, no interior de São Paulo. O militar está preso sob a acusação de chefiar um esquema de corrupção em licitações da Polícia Militar como revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.
A invasão ocorreu após a publicação de entrevista concedida por Adriano Filho ao repórter Rogério Pagnan, onde afirma que há desvio de verbas em todas as unidades gestoras da PM por meio de um esquema de caixa 2.
Ao jornal paulistano, o advogado Oswaldo Duarte Filho afirmou ver relação entre a entrevista concedida por seu cliente e a invasão de seus escritório.
O advogado disse ter visto dois homens deixando o prédio em um veículo dele. Tentou acionar a PM pelo 190, por meio de várias ligações, mas não teve sucesso. Foram levados do escritório alguns objetos, entre eles um computador, mas três celulares ficaram para trás.
O caso é investigado pela Polícia Civil, segundo a Secretaria da Segurança Pública.
Histórico “Todas as unidades (gestoras executoras da PM) têm caixa 2. Todas (as 104) têm. Quem falar que não tem está mentindo”, disse Adriano Filho ao jornal, em entrevista na quinta.
O ex-PM está preso na Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, desde 2017. Ele cumpre pena de 52 anos por peculato (quando um funcionário público, em razão de seu cargo, desvia bens ou recursos públicos para seu benefício ou de terceiros).
Segundo a denúncia, o ex-tenente-coronel criou empresas que eram escolhidas como vencedoras de pregões da PM, que ele mesmo organizava. No entanto, as compras e serviços nunca eram concretizadas. José Afonso Adriano Filho e outros agentes apenas recebiam o dinheiro que saía dos cofres da corporação.
O ex-tenente coronel disse ainda que, entre 2005 e 2012, um total de 27 oficiais foram beneficiados, e era ele quem organizava os repasses de dinheiro como uma espécie de “BNDES dos coronéis”. Os valores ultrapassaram os R$ 2 milhões.
De acordo com o ex-PM, ele fazia os cheques em nome de uma empresa chamada Comercial das Províncias, para despistar qualquer suspeita. O coronel tentou fazer acordo de colaboração premiada em 2017, mas a negociação não foi para frente.
A denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) aponta que José Afonso Adriano Filho desviou mais de R$ 7 milhões, fraudando 207 licitações com uma empresa e 120 vezes com outra empresa.
As concorrências públicas envolviam obras diversas, compra de materiais de informática e manutenção de rede telefônica do quartel, mas nunca ficou comprovado que os serviços e compras eram de fato efetivados. O tenente-coronel foi preso em 2017, em Itu, também no interior paulista.