A tradição começou em Portugal, há mais de 200 anos e até hoje se mantém viva lá e aqui no Brasil. Em Salvador, a Festa do Divino Espírito Santo acontece no próximo domingo, 28, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo. Mas a celebração começa mais cedo, porque uma semana antes sai pelas ruas daquela mesma região o Bando Anunciador, que anuncia a festa e chama as pessoas para a celebração do domingo seguinte.
Nesse dia 21, fanfarras deram uma volta pelo Barbalho e Liberdade, para depois retornar ao Santo Antônio, num percurso que leva em torno de 50 minutos. Entre os que acompanhavam o cortejo, estava Jonas Raposo Lobo, de 9 anos. O menino foi o escolhido deste ano para encarnar a figura do Imperador, que tem importante papel simbólico.
“Jonas vem à Igreja de Santo Antônio desde 2019, quando tinha cinco anos de idade. Perguntamos a ele se queria participar da Festa do Divino como Imperador e ele ficou muito lisonjeado. Mas foi uma decisão dele, não o forçamos a nada”, ressalta a mãe de Jonas, a nutricionista Laiss, de 35 anos.
Laiss estudou numa escola religiosa e tem hábito de ir a missas desde criança. Jonas seguiu a mãe e vai sempre com ela, aos sábados e domingos.
Na origem da festa, o Imperador era um adulto, que saía pedindo contribuições financeiras às pessoas. Com o dinheiro arrecadado, a igreja pagava as fianças de alguns presos muito pobres, que eram soltos no dia da Festa do Divino. Com o passar do tempo, o Imperador deixou de exercer esse papel e passou a ser uma figura simbólica, representada por uma criança.
Laiss já viu outras crianças representarem o Imperador e se entusiasma com a ideia do filho realizar o papel na próxima semana: “Ele vai falando com as pessoas [durante o cortejo] e representa o Espírito Santo, que, por sua vez, representa alegria. Muita gente fala com o Imperador durante a festa, dá tchau para ele, o cumprimenta e até chora”.
O bailarino Felipe Silva Santana, que prefere ser chamado de Felipa Silva, tem 28 anos e foi “nascido e criado” no Santo Antônio Além do Carmo. Foi crismado na igreja do Santo Antônio e também batizado ali.
“Sempre venho a essa igreja e sempre vou à Festa do Divino, que, para mim, significa adorar a Deus e à nossa Virgem Mãe”.
História da Festa
A Festa do Divino Espírito Santo começou há mais de 200 anos, em Portugal e também passou a acontecer no Brasil. Em Salvador, um dos objetivos da celebração era arrecadar dinheiro para soltar presos, mediante o pagamento de uma fiança. “Eram presos muito pobres, que não tinham como pagar pela liberdade deles. Em Salvador, eram detentos do antigo presídio onde hoje é o Forte de Santo Antônio Além do Carmo”, explica Paulo Silva de Oliveira, conselheiro da Irmandade do Divino Espírito Santo.
Hoje, não há mais a soltura do preso, mas a igreja escolhe um ex-detento para participar da festa e entrega a ele doações como uma cesta básica. Mas Paulo ressalta que a identidade do ex-detento é preservada, para que não prejudique a possibilidade de arrumar um emprego nem seja vítima de preconceito.
Na próxima semana, o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, celebra a missa na Igreja de Santo Antônio, na Festa do Divino.