Raimundo da Conceição Cerqueira Neto, 20 anos, comeu uma pizza com a avó e conversou sobre assuntos aleatórios na noite em que seria assassinado. Algumas horas depois de deitar para dormir, homens encapuzados invadiram a casa dele, o arrastaram para fora e o executaram a sangue frio. Cerca de 50 metros adiante, em outra residência, um homem identificado como Galego também foi retirado de casa e morto no meio da rua, no bairro de Sete de Abril, em Salvador.
O crime ocorreu na rua da Mangueira, uma área residencial do bairro, na madrugada desta quarta-feira (18). Neto morava com a avó desde que tinha 1 ano, quando a mãe dele mudou para o Rio de Janeiro e o bebê ficou aos cuidados da família paterna. A avó estava em casa quando tudo aconteceu.
Segundo testemunhas, os homens encapuzados chegaram por volta das 3h30, arrombaram o primeiro portão, quebraram o cadeado da segunda grade e invadiram o imóvel. A idosa de 63 anos acordou e foi arrastada pelo braço pelos criminosos e empurrada de volta ao quarto, onde ficou trancada. Neto estava dormindo quando foi abordado e levado para fora do imóvel pelos bandidos. Ele foi executado na porta de casa.
O grupo fugiu sem levar nada e até o final da manhã não havia detalhes sobre a quantidade de bandidos envolvidos no crime e nem sobre a motivação. A tia da vítima, a pedagoga Rosana Cerqueira, contou que ele tinha participado de um jogo de futebol durante a tarde.
“Ele adorava jogar bola, mas o sonho dele era ser bombeiro. Ontem [terça-feira] ele fez vários gols e estava alegre. Ele comprou uma pizza, comeu com a avó e depois foi deitar. A gente ainda não entendeu o que aconteceu. Ele era um menino brincalhão e bem-humorado. A cada dia que passa a violência está maior e a gente não sabe o que fazer”, disse.
Ela coordena um projeto social no bairro que atende 93 jovens. “Quando esse tipo de coisa acontece desestimula a gente. Luto para salvar outros jovens dessa violência e agora isso acontece com meu sobrinho. Dói muito”, contou.
A avó do jovem ouviu os disparos e os gemidos do Neto, foi ameaçada de morte e está sob efeitos de medicamentos. O outro homem assassinado é conhecido na rua como Galego. Moradores contaram que ele estava morando em uma casa de aluguel, há menos de um ano, e que a esposa e a filha dele estavam no local quando tudo aconteceu. O imóvel ficou fechado após o ocorrido.
A frase “NT toda vida” foi pinchada no asfalto e na parede da casa de Neto. A maioria das pessoas evitou falar sobre o assunto, mas disse que o local vive um conflito entre facções que tem tirado o sossego dos moradores. Antes de fugir os criminosos pincharam letras de uma facção no muro ao lado do corpo. Alguns vizinhos recuperaram projéteis de balas deixados no local durante o crime.
Em nota, a Polícia Civil informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está investigando o caso. “De acordo com informações ainda preliminares, um grupo de indivíduos encapuzados arrombaram a residência de uma das vítimas, retiraram-na da residência e a executaram. Autoria e motivação são apuradas, assim como a circunstância da outra morte”, diz a nota.
A Polícia Militar informou, também em nota, que a ocorrência foi registrada pela 50ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/ Sete de Abril), mas que nenhum suspeito foi preso.
Os corpos deram entrada no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), mas até o final da manhã Galego permanecia como não identificado. A família de Neto informou que o sepultamento ocorrerá na tarde desta quarta-feira (18), no Cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília.
Violência
Nos últimos dias diversos casos de violência ganharam as manchetes devido a brutalidade das ocorrências. Na segunda (16), Wellington Ribeiro Luís foi assassinado a tiros e facadas por traficantes no Vale das Pedrinhas, depois de ter decapitado a própria esposa durante uma briga. A filha do casal, uma adolescente de 13 anos, presenciou toda a cena. Os corpos dos dois foram encontrados lado a lado.
No dia anterior, uma criança de 8 anos foi baleada na cabeça e a tia dela foi atingida no peito, na barriga e na perna durante um atentado na Boca do Rio. A mulher estava participando de um evento, em um bar, quando foi surpreendida pelos bandidos. Houve correria e a menina também foi atingida.
Um dia antes, o barbeiro Neviton Rodrigues da Silva, 39 anos, morreu depois de ser baleado na cabeça durante uma briga por som alto na Cidade Nova. Ele foi socorrido com vida, mas não resistiu. O responsável pelo tiro é um policial civil que era vizinho da vítima e que não teve o nome divulgado. Ele se apresentou, foi ouvido e liberado.
Ainda no último fim de semana, o corpo da bancária Rita Maria Brito Fragoso e Silva, 62 anos, foi encontrado com sinais de asfixia dentro do próprio apartamento dela, no bairro do Itaigara. O assassino, ainda desconhecido, usou um fio de carregador de celular para cometer o crime contra a idosa. A polícia está tentando identificar o criminoso.