No BBB23, a partir de uma discussão entre Tina e Cézar durante o Jogo da Discórdia, sobre emprestar ou não uma lace, alguns questionamentos foram levantados pelo público nas redes sociais. Para alguns, a reação da jornalista angolana pareceu exagerada, mas para outros, foi o baiano quem pisou na bola ao lhe dar uma “bomba” por causa do acessório que ela não quis emprestar. E se você, caro leitor, ainda não tem conhecimento sobre essa modalidade que vai muito além da estética feminina, a coluna LeoDias conversou com Anna Lima, uma das principais referências da área em São Paulo, que apresenta a verdadeira história por trás das laces e wigs (perucas), e que faz entender os motivos pelos quais Tina protege as suas com unhas e dentes.
Anna explica que uso de perucas já era bastante comum no Antigo Egito, até mesmo pelos faraós, para cobrir a cabeça. A popularização desses acessórios se deu na cultura negra, mais propriamente nos Estados Unidos, em meados dos 70 e 80.
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Tina e Cézar discutem por causa de lace no BBB23
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Anna Lima
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Tina e Cézar discutem por causa de lace no BBB23
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Anna Lima
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Tina e Cézar discutem por causa de lace no BBB23
Tina do BBB
Tina e Cézar discutem por causa de lace no BBB23
Mais da história das laces
“Nisso entra também a inclusão social. Nessa época muitas mulheres negras já alisavam seus cabelos, faziam implantes, alongamentos, colocavam apliques. As perucas vieram para cobrir a cabeça, até mesmo pela questão de alisamento, de aceitação, não existia a transição capilar. E tinha a questão do racismo: as mulheres tentavam se encaixar na sociedade, e para isso usavam perucas. Depois isso se popularizou entre os europeus. Mas foi nos Estados Unidos, que hoje é o mercado mais forte, que isso cresceu”, informou ela, que hoje atende clientes em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Pessoas do mundo todo viajam para os Estados Unidos para comprar cabelos”.
Anna Lima ressalta que no Brasil, São Paulo e Rio são os dois principais polos de venda de perucas. Na capital paulista, a 25 de março, maior centro de compras à céu aberto do país, é possível encontrar uma infinidade de opções. Já na cidade maravilhosa, o bairro de Madureira, Zona Norte, é onde se concentra o mercado local das laces e perucas.
“Lace é um modelo mais detalhado, mais realista, tem um acabamento que dá a impressão de real. A wig são as perucas com vários modelos, são mais conhecidas para usar com fantasia ou no Carnaval, mas hoje em dias, com tantos modelos diferentes elas acabam tendo mais nomes e estilos”, conta a profissional.
Tipos de lace
Wig são as legítimas perucas, front lace possuem a parte frontal realista, já a full lace, ela é toda realista. “A pessoa joga o cabelo para um lado e para outro, ela pode usar colada, com colas próprias para o couro cabeludo, com uso de 3 a 4 semanas. Elas são feitas fio por fio na tela, seja na mão ou com uma máquina de varias agulhas. Full lace é completamente de cabelo humano”.
Quem mais usa?
“Não somente mulheres negras usam lace. As drag queens também, pessoas que fazem tratamento de quimioterapia, ou até mesmo pessoas que só querem mudar o estilo. Independente de fazer a transição [capilar] ou não, ter cabelo grande ou não, muitas mulheres usam ou podem recorrer às laces ou wigs. Essa também é a autoestima do povo preto, que se sente bem sem precisar se regredir a algo que acabou com a autoestima”.
Cuidados e tratamentos
No Brasil, entre as laces mais procuradas estão, além dos cabelos brasileiros, também cabelos da China e Índia. “Existem lojas específicas que trabalham com produtos para essas laces”. Os cuidados são básicos, os mesmos que temos com os nossos da cabeça. “Lavar conforme a necessidade, existem tutoriais que indicam a cada 15 e 20 dias. É preciso a manutenção como lavar e hidratar de acordo com a vida natural da pessoa, depende se ela mora na praia ou nada com frequência em piscinas. Já os cabelos orgânicos, eles tem produtos próprios para eles também”, explica Anna Lima.
Valores e mais!
“Existem perucas de R$ 29,90 até R$ 1.500 e R$ 2.200. Nessa questão do que é barato ou caro, vai muito do que a pessoa está buscando. As de cabelo humano podem chegar a valores de R$ 5 mil e R$ 20 mil.
“Quando uma pessoa vai procurar uma lace, ela tem que saber o por quê dela querer: se é para autoestima, se está querendo se conhecer. É sobre qual a necessidade, o que ela quer. E as laces atendem a necessidade de todos. Eu tenho perucas com três anos e também não empresto minhas (risos). É bem o diálogo que a Tina teve”, ressalta ela. “Muita gente usa naturalmente. Pra mim, é natural eu estar de peruca, lace, rabo de cavalo, de aplique, tictac, de trança, faz parte da minha personalidade”, conta Anna Lima.
“Sou filha de mãe preta e trancista. Para a minha cultura é muito importante. Nós passamos isso de geração em geração. A minha família toda usa cabelos naturais ou sintéticos. Então, a minha história com as perucas foi a partir da minha transição, de eu ter me enxergado de outras formas também. O povo preto tem isso de se enxergar sem se encaixar em padrões. Você pode se diferente, pode mudar sem regredir sua história. Não significa nada usar uma lace loira e lisa, ainda serei uma menina preta que luta pela minha identidade, e pra mim iso é muito importante. É por isso que uso e incentivo outras pessoas a usarem, independente de gênero e raça. Lace não é um simples um assessório. É importante respeitarem a raiz da história, que também vêm de uma questão racial”, concluiu ela.
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