Era para o desfile militar de 7 de setembro, no Rio, ocorrer na Avenida Presidente Vargas, centro da cidade. Por tradição, sempre foi lá, e por que desta vez não seria? Por que quebrar a tradição?
Não seria porque Bolsonaro, à míngua de votos para se reeleger, queria fazer o desfile na orla da praia de Copacabana. Ali, há bolsonaristas à beça. A parada militar viraria um comício.
Aí, os chefes militares disseram que em Copacabana o espaço não permite exibição de tanques e de outros armamentos pesados. E que, de resto, não pegaria bem usar tropas em comício.
Bolsonaro, então, mandou cancelar o desfile na Presidente Vargas e negociou com os militares a participação de um percentual expressivo deles no comício que se espera gigantesco.
Todas as providências estão sendo tomadas para que o ato seja uma demonstração impressionante de força do bolsonarismo. As pesquisas mostram Bolsonaro e Lula empatados no Rio.
E logo lá, berço do bolsonarismo, onde há quatro anos Bolsonaro derrotou Fernando Haddad (PT) por 60% contra 15% dos votos válidos no primeiro turno, e 68% contra 32% no segundo.
Ou Bolsonaro se recupera muito no Rio, São Paulo e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do país, ou adeus à reeleição. Só lhe restará tentar aplicar um golpe, cujo ensaio seria no dia 7.
Os chefes militares já fizeram concessões para o comício armado. Jatos da FAB sobrevoarão Copacabana e arredores; paraquedistas saltarão nas areias da praia, e barcos da Marinha se farão ao mar.
Haverá tiros de canhão na terra e no mar, a pretexto de saudar a presença do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, e de parte dos seus ministros.
Bandas de música do Exército e da Marinha se encarregarão de animar os bolsonaristas e os curiosos. E aqui mora um dos problemas: e se petistas aparecem com bandeiras vermelhas?
E se começam a vaiar a cerimônia e a protestar contra o comício armado? E se isso degenerar em atos de violência? Como ficará a imagem dos militares? Como eles reagirão se ouvirem desaforos?
Bolsonaro prometeu aos chefes militares que não discursará contra as urnas eletrônicas e os tribunais superiores de justiça. Como acreditar em sua palavra? Desde quando ela merece confiança?
Faltam 40 dias para as eleições, e 17 para o ensaio do golpe.
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