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Bolsonaro recorre a viagens para mostrar apoio e diverge de Valdemar sobre estratégia no pós-Musk

Foto: Valter Campanato/Arquivo/Agência Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro 21 de abril de 2024 | 08:56

Disposto a mostrar que tem apoio popular para constranger o Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltará ao palanque neste domingo, 21, quando pretende reunir milhares de seguidores em um ato público no Rio. A ideia é que a ofensiva continue até às vésperas das eleições municipais, marcadas para outubro.

Quase dois meses após ter participado de uma manifestação nos mesmos moldes na Avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro vai aproveitar agora a briga entre o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o ministro do STF Alexandre de Moraes para tirar dividendos políticos da crise e se apresentar como vítima de perseguição.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, discorda da estratégia de recorrer a Musk para atacar Moraes. “O Elon Musk está brigando com o Alexandre. Isso é um problema deles lá. Nós já temos as nossas brigas aqui. Foi um erro termos entrado nisso”, disse Valdemar ao Estadão.

Não é o que pensa Bolsonaro. Tanto que o assunto vai ser explorado na manifestação deste domingo, no Rio. No vídeo em que convoca a população para o ato, na praia de Copacabana, o ex-presidente afirma que o País está à beira de uma “ditadura”.

Trata-se de uma referência indireta ao relatório publicado por uma comissão do Congresso dos Estados Unidos, nesta quarta-feira, 17, mostrando ordens de Moraes para remover 150 perfis das redes sociais.

O STF informou que os documentos divulgados não são decisões sobre a retirada de conteúdos ou perfis, mas, sim, os ofícios enviados às plataformas para cumprimento da sentença. Nesse capítulo, porém, as ameaças de Musk de não cumprir as decisões de Moraes, chamado por ele de “ditador brutal”, serviram como rastilho de pólvora para incendiar as fileiras da extrema direita.

“Vossa Excelência lembrou que, na virada do século, não existiam redes sociais. Nós já éramos felizes e não sabíamos”, observou Moraes, que também comanda o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante a cerimônia de entrega do anteprojeto de reforma do Código Civil ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), realizada nesta quarta-feira, 17.

Desde 8 de fevereiro, quando foi deflagrada a operação Tempus Veritatis (Tempo da Verdade), Moraes proibiu o contato entre Bolsonaro e Valdemar. Na ocasião, o dirigente do PL chegou a ser preso pela Polícia Federal por posse ilegal de arma de fogo e guarda de uma pepita de ouro.

As diligências que fecharam o cerco sobre o ex-presidente e militares de seu grupo investigam uma tentativa de golpe no País, em 8 de janeiro de 2023. Apesar de inelegível até 2030, Bolsonaro tem atuado como se estivesse em campanha. Para se contrapor ao movimento do STF e da Polícia Federal, ele vai participar de uma série de manifestações pelo País, a partir deste domingo.

Na lista das cidades que o ex-presidente visitará estão Joinville, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Campo Grande e Vitória. Além disso, tanto ele como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro farão gravações para que os candidatos possam usar nas redes sociais, quando a disputa começar oficialmente.

“O roteiro não está totalmente fechado porque não estou podendo conversar com o Bolsonaro”, afirmou Valdemar. “Inclusive, no Rio, eu não poderei ficar no palanque quando ele estiver lá.” Em Brasília, por exemplo, os dois procuram despachar na sede do PL em dias alternados para não se encontrar. Mas, quando não é possível, um fica no bloco A do prédio e outro, no B.

Ex-presidente tenta desconstruir minuta do golpe

Depois de pedir anistia aos presos pelos ataques às sedes do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF, Bolsonaro tentará agora desconstruir a minuta do golpe. Trata-se de uma estratégia de risco para evitar a prisão.

Encontrada em casas de auxiliares e também no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, a minuta previa a intervenção do chefe do Executivo para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento é peça central das investigações da Polícia Federal.

“O enfoque dos próximos atos será desfazer essa fake news de minuta do golpe e defender a liberdade de expressão”, destacou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), integrante da Frente Parlamentar Evangélica.

Sóstenes disse que o pastor Silas Malafaia, da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pediu que 25 deputados e senadores doassem R$ 5 mil para a manifestação em Copacabana.

A meta é atingir uma arrecadação de R$ 125 mil para financiar a montagem do palanque e do trio elétrico. O encontro da Avenida Paulista, em 25 de fevereiro, também foi organizado por Malafaia e custou R$ 100 mil.

Na ocasião, o ex-presidente admitiu ter conhecimento do texto descoberto pela Polícia Federal, hoje chamado de “fake news” por seus aliados. “O que é golpe?”, perguntou o capitão reformado, do alto do palanque. Ele mesmo respondeu: “É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Agora, o golpe é porque tem uma minuta do decreto de Estado de Defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência!”.

Além de partir para o “tudo ou nada”, Bolsonaro usará essas manifestações para impulsionar as candidaturas de aliados, como a do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura da capital fluminense. Alvo de investigação da Polícia Federal e suspeito de comandar um sistema de espionagem ilegal quando era diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem é homem de confiança da família do ex-presidente.

Ausente do comício na Avenida Paulista, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), confirmou presença, neste domingo, na praia de Copacabana. Citado pelo mundo político como possível herdeiro de Bolsonaro nas eleições de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também comparecerá.

As articulações do ex-presidente acenderam o alerta no Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, ministros dizem não ser possível ignorar que Bolsonaro consegue mobilizar muita gente para ir às ruas e tem forte organização nas redes sociais, ao contrário de Lula e do PT. Não é só: pesquisas indicam que, quase 18 meses depois das eleições de 2022, a popularidade de Lula está caindo e o País continua dividido.

Vera Rosa/Estadão Conteúdo

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