A última semana de maio, em geral suave mês no calendário político, de gestão e congressual, não poderia ser mais surpreendente e contraditório na retomada dos caminhos democráticos do País, desde a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva para seu terceiro mandato presidencial, seguida dos brutais atentados golpistas, às representações dos três poderes da República, no 8/1 em Brasília. Situação emblemática pelos punhos fechados do Congresso – sobretudo na Câmara sob comando do deputado Arthur Lira – nas pancadas no primeiro escalão do governo, em especial contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, com fito de surrupiar poderes de sua estratégica pasta, estreitar campos de ação da mundialmente conhecida gestora ambiental, para imobilizar e “chumbar” a ministra nos mais estreitos limites do governo.
Contraste gritante com as imagens, palavras e atos de repercussão à esquerda e à direita), dos braços abertos e calorosos do presidente Lula, ao receber, dia 29, o ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, na rampa do Palácio do Planalto, que o arquiteto Oscar Niemeyer traçou como símbolo de representação popular e democrática, na capital do poder no País. Um dia para não esquecer.
Véspera da instalação da Cúpula Sul Americana no Brasil – com o propósito de discutir temas cruciais do Continente (da proteção ambiental da Amazônia à criação de moeda única, sul americana, com a participação de 11 chefes de estado do lado de baixo da linha do Equador.
Começava assim, “sem pecado e sem juízo,” como o diabo gosta, o fim de maio e começo de junho, metade do primeiro ano de novo governo petista, que parece escorrer pelos dedos. Maduro, uma das maiores expressões do “coisa ruim” no continente, ditador da Venezuela, além das pompas e honras da recepção no Palácio, teve “dia de majestade”. O chefe de um dos regimes mais incompetentes e perversos, com seu povo em fuga do caos dos últimos anos, e carregado de sanções por ataques aos direitos humanos,liberdades individuais e a legislação eleitoral, desembarcou no DF com sua comitiva. Depois, nos salões do Itamaraty: conversa fechada com o colega brasileiro, troca de discursos de mútuos elogios e uma entrevista coletiva inacreditável, principalmente da parte do brasileiro, que usou e abusou da expressão “narrativa”, um dos mais reles, óbvios e indigentes chavões usados pelo governo direitista do ex-presidente Bolsonaro, modismo de linguagem que não diz, reflete ou significa coisa alguma, salvo a mendicância intelectual e a falta de argumentos inteligentes que o governo passado deixou de herança e o atual passa adiante.
Lula afirma que a Venezuela “não é uma ditadura, nem Maduro é um ditador, e que tudo não passa de “narrativa”, e sugere que o venezuelano “deve criar a sua própria narrativa”. E fico por aqui, porque o resto está nos jornais, sites e blogs. A começar pelos protestos públicos e advertências, ao governo anfitrião da cúpula, dos presidentes Lacalle Pou (Uruguai), à direita, e do Chile, o jovem presidente Boric, à esquerda. E atos brutais e agressões contra jornalistas que cobriam a entrevista na despedida de Maduro, entre eles, a repórter da TV Globo , Delis Ortiz, atingida com um so co no peito, dado por um dos brutamontes da segurança do ditador venezuelano, que levou a jornalista necessitar dos serviços médicos de emergência no Itamaraty. Lástima completa.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: [email protected]