Uma tutora que abriga mais de 100 cachorros na residência onde mora, na Candangolândia, foi indiciada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA) por omissão de cautela na guarda de animais. As investigações tiveram início após os cães da mulher causarem um verdadeiro massacre, matando diversos gatos em uma das quadras da região.
Ao Metrópoles o delegado da DRCA Jonatas Silva afirmou que as denúncias de moradores da área já foram recebidas e que um inquérito, além de dois termos circunstanciados, já foram instaurados contra a tutora. O delegado ainda detalhou que a estimativa da delegacia é de que a mulher abrigue mais de 100 animais no imóvel, entre adultos e filhotes.
Moradores das quadras 2 e 4 da Candangolândia relataram a situação de terror causada pelos cachorros, que perambulavam à solta pelas ruas da região. “Já não sabemos mais o que fazer. Aqui em casa já perdemos dois gatos e outras dezenas foram mortos de forma brutal [pelos cães]. Eu moro na rua debaixo [a casa da tutora] e não posso mais passear com meus cachorros”, relatou uma moradora que preferiu não se identificar.
“A culpa não é dos cães, é da tutora totalmente irresponsável e louca. Além de ser uma acumuladora, a condição em que ela deixa os cachorros é deplorável. Os animais não param de procriar e a maioria é desnutrida e doente. É um problema que já tomou conta da comunidade. Todos tentamos dialogar e propor soluções, mas ela não se recusa a escutar”, acrescenta.
Segundo vizinhos da tutora, muitos dos cães andam à solta pelas ruas das quadras, perambulando inclusive pelos telhados das casas. Em imagens de câmeras de segurança de 16 de agosto deste ano, é possível ver, por exemplo, quando cinco cães arrastam um gato pela rua, com cada um cachorros puxando um pedaço do corpo do animal. O gato resistiu aos ferimentos e foi tratado.
Veja:
Em um outro vídeo, uma segunda moradora mostrou os danos causados a um dos seus gatos que foi vítima de um dos ataques brutais dos cães. Fotos também mostram o estado em que demais felinos ficaram após a ação dos cachorros à solta. As imagens podem ser fortes.
As denúncias detalham ainda que o quintal de um terceiro vizinho foi invadido pelos cães, que teriam matado vinte gatos que haviam sido resgatados na rua. Os moradores da região estimam que os cachorros já tenham machucado mais de 150 animais pela rua.
“O problema é grande e as pessoas também começaram a ser atacadas [pelos cães]. Meu maior medo é o dia em que uma criança ou um idoso [for alvo dos ataques] e não conseguir fugir”, completa uma das moradoras.
Administração e Zooneses
Ainda segundo uma das moradoras ouvidas pela reportagem, as Zooneses do Distrito Federal e a Administração Regional da Candangolândia já teriam sido acionados e empenhados para procurar uma solução para o problema, todas frustradas pela tutora dos animais.
“Ela não permite a entrada na casa para separar os cães com sarna, castrar as fêmeas. Até foi sugerida que encaminhassem os cães ao Hospital Veterinário ou que fizesse uma feira de adoção para os filhotes, mas ela se recusa a entregar os cachorros”, conta.
Acionada pelo Metrópoles, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), responsável pela Gerência de Zoonoses (GVAZ), informou que “não possui a competência de recolher animais abandonados, atuar em situação de maus-tratos e de acumuladores” e que atua apenas mediante autorização dos tutores.
A Administração Regional da Candangolândia, por sua vez, afirmou ter “enfrentado certa resistência da tutora em atender às demandas encaminhadas”. “Entre as ações já realizadas, fizemos visitas com moradores, coleta de material, abrimos vagas no Hospital Veterinário para o tratamento dos animais, muitos dos quais estão doentes, e também disponibilizamos vagas para castração. Além disso, os veterinários têm se deslocado até a residência para oferecer atendimento aos animais, e a Secretaria de Desenvolvimento Social tem oferecido suporte à família”, completou em nota.
Estamos comprometidos em encontrar uma solução eficaz para você, morador; para os animais que necessitam de cuidados; e para a família, que vive uma situação delicada no momento.
O GDF também criou a Secretaria Extraordinária de Proteção Animal (SEPAN) do Distrito Federal (DF), que é o órgão responsável por zelar pelo bem-estar dos animais.
O Ministério Público e a Justiça já estão acompanhando o caso, tendo em vista que a delegacia de crimes contra os animais indiciou a tutora por omissão de cautela na guarda de animais, contravenção prevista no artigo 31 do decreto-lei 3.688/1941.