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‘Canta, Bahia, Reggae!’ Descubra como o ritmo jamaicano virou parte da nossa cultura

Quem curtiu o Verão de 1998 sabe bem como é pegar o trem do amor. Há 25 anos, no tempo em que o axé dominava o país e o sertanejo universitário ainda frequentava a creche, o reggae invadiu o cenário baiano e nacional com o disco Fogo na Babilônia, de Sine Calmon e Morrão Fumegante. A faixa ‘Nayambing Blues’ desbancou Timbalada, Chiclete e qualquer outra banda de sucesso na época, sendo a música mais tocada no Carnaval daquele ano. A febre regueira estava em cada barraca de praia ou festa de largo, mostrando um ritmo genuinamente baiano: o reggae do Recôncavo. 

O que muita gente, que provavelmente já passou dos 35 anos, não sabe, é que aquele trabalho que mandava a Bahia cantar reggae e falava de um maluco que sabia era um trabalho gospel de Sine Calmon. Era uma forma de levar a palavra de Deus ao cantor de Cachoeira. O reggae, neste caso, foi um mero instrumento de vossa paz.

“As pessoas que estavam cantando louvavam sem saber, né? Foi um trabalho gospel, pô. ‘peguei o trem do amor, pra Jerusalém…’. Era um trabalho que eu fiz quando eu lia a bíblia. O termo Morrão Fumegante veio da bíblia: ‘Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo’. Foi todo baseado em Deus”, disse Sine.

O disco ainda teve o saudoso Ademar Furtacor, famoso nas músicas do axé, fazendo alguns arranjos. 

Do sagrado ao profano, o primeiro trabalho de Sine é a ponta do iceberg de um ritmo que se tornou peça integrante da cultura baiana. Do Recôncavo ao Pelourinho, é impossível imaginar a Bahia sem o ritmo vindo da Jamaica, mas que ganhou régua e compasso aqui.

O álbum  ‘Fogo na Babilônia’, de Sine Calmon, que invadiu o Verão baiano em 1998 (Foto: Reprodução)

Ano passado, Edson Gomes, o maior reggaeman do país, completou 50 anos de carreira, mas o próprio artista não começou do reggae, mas do sambão. Afinal, quem trouxe e como o reggae chegou em solo baiano? Outro questionamento, não menos importante, é quase uma tensão diplomática: Qual é a terra mais regueira do Brasil, Bahia ou Maranhão? Deixaremos a polêmica para o final.

Marco zero
É difícil estabelecer o marco zero da entrada do reggae no país e, consequentemente, na Bahia. No Maranhão, o reggae veio das ondas do rádio, onde era possível captar emissoras caribenhas pela proximidade. Na Bahia, tudo vai depender do ponto de vista.

Claro que existem alguns consensos, mas muito diversificados, como se o reggae tivesse entrado de várias formas, criando corpo em dois pólos: Recôncavo e Pelourinho. Os estudos são raros.

Mestra em Estudos Étnicos, Maria Bárbara Vieira Falcón escreveu o livro ‘O Reggae de Cachoeira: produção musical em um porto Atlântico’, mais focado no turbilhão regueiro em Cachoeira. Sobre a origem, poucos especialistas musicais se arriscam a cravar a gênese de tudo. 

A primeira fagulha foi o Festival Internacional da Canção, de 1969, no Rio de Janeiro, quando tivemos a visita de Jimmy Cliff, mas sem chamar muita atenção. Passou quase despercebido. Contudo, um ano parece ser o mais citado como um embrião do reggae em solo brasileiro: 1972. 

Além de ser o início da carreira de Edson Gomes, que na época já fazia algo bem parecido com um samba-reggae, foi também em 1972 que, pelo menos oficialmente, o primeiro brasileiro falou o termo ‘reggae’ na música, literalmente. Só pra variar, foi um baiano. Caetano Veloso gravou a música ‘Nine Out Of Ten’, no disco Transa, onde ele escreveu “Walk down Portobello road to the sound of reggae”. Em tradução livre, ele conta que andava pelo país em que esteve exilado, enquanto cantava reggae. Na Inglaterra, Bob Marley já era uma febre, o que despertou a atenção e admiração de Caê. 

Também em 1972, o Grupo Arembepe, formado pelos músicos Carlos Lima, Chico Evangelista, Kiko Tupinambá e Dinho Nascimento, ensaiou os primeiros acordes regueiros, quase por coincidência. Músicos consideram esta banda soteropolitana como a primeira que assumiu um ritmo semelhante ao da Jamaica. Eles gravaram um álbum em 1974, com a música ‘Lá na Esquina’, quase uma mistura de soul com reggae. 

Contudo, o grupo optou em construir a carreira musical em São Paulo, onde conheceram um disco de Bob Marley trazido de Londres pela esposa de Chico Evangelista. Depois disso, o baiano Evangelista, falecido em 2017, assumiu a postura regueira e gravou a primeira canção com ritmo jamaicano, de forma literal: o Reggae da Independência, de 1978, uma homenagem ao 2 de Julho. 

“Nosso repertório tem muito reggae desde sempre. É difícil cravar, mas muitos especialistas colocam o Grupo Arembepe como primeira banda a fazer este ritmo no país. No nosso primeiro disco, a música Lá na Esquina mostra o ritmo. Claro, era mais um ritmo entre tantos que fazíamos. Apenas Evangelista, já fora do Arembepe, assumiu a postura de cantor de reggae”, conta o músico Kiko.

Em 1979, entra em campo Gilberto Gil. Com acesso ao reggae e sob forte influência de Bob Marley, Gil grava o álbum Realce e coloca no repertório Não Chore Mais, uma versão da canção de Bob Marley, ‘No Woman No Cry’. No ano seguinte, em 1980, houve uma invasão meteórica. Gil fez um show com Jimmy Cliff, que já não era aquele desconhecido de 1969. O show lotou a Fonte Nova, mas não dá para considerar como o marco zero (me perdoa, Gil). No Pelourinho, desde 1978 já existia o Bar do Reggae.

Estudo
Guitarrista e um dos fundadores do Adão Negro, Marcos Guimarães guardou um pouco a guitarra e decidiu estudar sobre o reggae na Bahia. Ele desenvolveu o trabalho acadêmico ‘Delineando a Identidade do Regueiro Soteropolitano’, pela Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas da Ufba. Ele não chegou ao denominador comum da origem. Não foi por falta de pesquisa. Para Guimarães, tentar delimitar um marco zero é limitar todas as variações históricas do reggae na Bahia. Segundo o músico e cientista social, o reggae baiano é difuso. 

“O que a gente descobriu na pesquisa, como sociólogo, é que tinham dois detalhes sobre este marco zero do reggae no país e na Bahia, especificamente. Primeiro, não é possível identificar a origem, pois o reggae entrou aqui de maneira difusa. Era uma pessoa que trazia um álbum de Marley e tocava no Pelourinho, um local que já vivia um período bem musical, com a entrada da música caribenha, como merengue, lambada… Muita gente não percebe, mas o reggae também é caribenho”, explica Guimarães, que junta isso ao movimento negro que buscava reconhecimento em Salvador.

“Tem também todo o movimento negro da capital, toda a reafricanização do Carnaval de Salvador, principalmente com os blocos afros. Facilitou esta entrada e difundiu o reggae de forma natural. Já existia um movimento negro se formando e o pessoal via o reggae também como parte crítica da própria existência do negro da nossa sociedade. Entrou no pacote, né? Engrossou o caldo”, completa.

 Adão Negro foi a banda que inovou ao introduzir batidas do rock, rap e surf music no reggae do Recôncavo (Foto: Divulgação)

Nesta ebulição do reggae no Centro Histórico, foram construindo peças que determinaram o curso do ritmo na cultura baiana. No estudo de Guimarães, um dos poucos dedicados a criação do reggae na Bahia, assegura que “o Pelourinho torna-se então um ícone central nesse processo de resgate da tradição negro-mestiça. O reggae/Rastafarianismo contribui vigorosamente para a síntese ocorrida no processo de reafricanização da cidade de Salvador”. O start ocorre quando surge o Bar do Reggae, o primeiro temático do estado, fundado em 1978 (portanto, antes de Gil e Cliff), sob a tutela do regueiro e policial aposentado, Albino Apolinário. 

“Minha mãe tinha um boteco popular que tocava samba, merengue, essas coisas.  Um dia ela me deu dinheiro para comprar um discão de samba, voltei com um de Bob Marley. Foi um auê. Eu só podia tocar quando ela não estava, pois a única coisa que sabíamos sobre o reggae era que o rastafari precisava ter dreads, não usar sabão e fumar muita maconha. Era só o que sabíamos, mas a porra já estava na alma do Pelourinho. Quando fundei o Bar do Reggae, a polícia não gostou. Dizia que era lugar de tráfico de drogas, de putas, de tudo. Nós fechávamos ruas inteiras de gente, a polícia odiava. Até que jogaram a gente para a Praça do Reggae, ‘limpando’ a requalificação do Pelô”, lembra Albino. A Praça do Reggae foi inaugurada em 1999 e está abandonada desde 2011.

Praça do Reggae, no Pelourinho, um dos marcos da presença do ritmo na Bahia, está fechada desde 2011 (Foto: Arquivo CORREIO)

Albino lembra que o reggae teve seu tempo de ouro entre os anos 80 e início dos anos 2000. “Quando me tornei policial, mantive o Bar. Uma vez vi Alpha Blondy no antigo Iguatemi. Estava de farda, o cantor não me deu bola, a farda não é algo que o regueiro gosta. Desabotoei a farda e mostrei a camisa de Bob Marley que estava por baixo. Ele abriu o sorriso e veio falar comigo. Sempre fomos marginalizados pela polícia, inclusive eu, da própria corporação. O reggae pulsava na cidade, mas todos que gostavam eram taxados de marginais. Mas como começou o reggae baiano propriamente dito? Não sei dizer”, indaga Albino. 

Encontros
Se a entrada foi de diversas formas, um nome pode ser o difusor e pai do reggae encorpado com influências baianas: Nengo Vieira. Menino de Cachoeira, já batia baba com outro garoto que cantava samba, de nome Edson Gomes.

Em Salvador, Nengo foi apresentado ao reggae ainda em 1977, quando o ritmo engatinhava. “Minha família era musical. Gostava de samba, chorinho, MPB… Com 17 anos, conheci o disco de Bob, Rastaman Vibration. Gostei, mas não me chamou atenção. Somente em 1980, quando comecei a fumar machonha, o reggae entrou no meu coração e não quis saber mais de nada, só de fumar e cantar reggae”, conta Nengo. 

Três anos depois, um encontro mudaria para sempre o destino do reggae baiano, conhecido mundialmente como reggae do recôncavo. Em 1983, Nengo já tocava no Estúdio 5 e fazia palhinhas com Lazzo Matumbi.

Enquanto isso, em Cachoeira, Edson Gomes já tinha composições eternizadas, como ‘Malandrinha’ e ‘Viu’, mas o reggae man cantava suas músicas com elementos do samba e soul. Em Cachoeira, ele era conhecido como Tim Maia do Recôncavo. Suas composições eram tocadas ao som de um samba percussivo, quase um samba-reggae. 

“Eu apresentei o reggae a Edson. Cruzei com ele em 1983, num festival de música em Cachoeira. As composições de Edson eram diferenciadas, porém virgem de musicalidade. Quando o reggae entrou no circuito, tudo mudou e ali nascia o reggae baiano autêntico. Uma música engajada, de resistência. Apresentei o reggae à nossa referência, né? Sem falsa modéstia, não sei se surgiria o reggae que conhecemos se eu não tivesse cruzado o caminho de Edson. fomos parceiros e criamos a voz da resistência. Nós sentimos tudo que cantamos. Sentimos a dor, sentimos o racismo, o preconceito e a necessidade… Vivenciamos nossas músicas”, lembra Nengo.  

Ainda em 1983, Nengo e Edson iniciaram uma parceria que determinou o rumo do reggae e o sucesso que estourou entre os anos 80 e os anos 2000. Eles fizeram o primeiro show de reggae genuinamente baiano em Salvador, no Forte de Santo Antônio, no Barbalho, tudo com recurso próprio. Foi o primeiro show de Edson cantando reggae. Mas o reggaeman queria algo diferente do tradicional vindo da Jamaica. “Aquele primeiro show, o reggae jamaicano tinha algo que me incomodava do ponto de vista do encaixe com as músicas. O contrabaixo tinha pouca nota, pedi para incrementar, crescer o tempo. Ensaiamos tudo dias antes do show. Com estes experimentos, acabamos, eu e Nengo, criando este ritmo conhecido como reggae do recôncavo. Foi aí que músicas como ‘Malandrinha’ saiu do ritmo do samba e entrou no reggae”, lembra Edson Gomes.

Primeiro show de reggae genuinamente baiano e o primeiro de Edson Gomes. Na imagem, da esquerda para a direita: Tonho Santana, Nengo Vieira, Jair Soares, Ruy de Brito e Edson Gomes (Foto: Acervo pessoal)

Curiosamente, em 1987, um ano antes de Edson lançar seu primeiro álbum, a cantora Sarajane gravou a música ‘Rastafary’, no seu primeiro disco, Descobrimento do Brasil. Se Edson já era sucesso, despertou interesse das gravadoras que se dedicavam ao axé, um ritmo que dominava o país. 

Um ano depois de Sarajane gravar ‘Rastafary’, finalmente o reggae resistência ganha corpo, com o primeiro álbum de Edson, com sucessos como ‘Malandrinha’, ‘Samarina’, ‘Sistema é um Vampiro’, ‘Viu’ e ‘Rastafary’. Não tinha jeito. Ali morreria o Tim Maia do Recôncavo e nascia o Rei do Reggae no país.

A mais tocada
Porém, Cachoeira / São Félix não estavam satisfeitos e queriam mais. Nos anos 90, cantores do axé regravavam o ritmo e o Olodum criava o samba-reggae. Mas o reggae do Recôncavo preferia manter o estilo de música engajada. Dançante, mas engajada. Nengo Vieira tinha uma banda chamada Remanescentes em que um garoto de 17 anos, também cachoeirense, tocava guitarra: Sine Calmon. 

“Sine ficava na frente do nosso palco doido para subir, babando. Ali é meu filho, tocou cedo conosco”, lembra Nengo. Em 1997, já como líder da banda Morrão Fumegante, Sine Calmon ganha o país com a música ‘Nayambing Blues’, que se tornou a canção mais tocada no Carnaval. Apesar da febre, a música não ganhou como a melhor da folia. A Latinha, da Timbalada, venceu.

“Foi algo bem interessante, pois foi a primeira vez que tiveram de colocar uma nova premiação, a ‘de música mais tocada’, para dar a premiação para Sine Calmon e Banda Morrão Fumegante. De certa forma, foi uma forma de mostrar que o reggae já era marginalizado no polo da música baiana. É uma música engajada, da contracultura. É difícil ter o espaço que merece”, conta Serginho, líder de outra referência do reggae no país, o Adão Negro. Curiosamente, ele também foi músico da Banda Morrão Fumegante.

Sine Calmon abriu as portas para a nova geração do reggae baiano, longe de Cachoeira e abraçando as ruas de Salvador. Bandas como Adão Negro, Diamba, Mosiah e Scampo saíram um pouco daquele ritmo original do recôncavo e adotaram em suas músicas outras tendências, como o rock, rap e surf music. Conhecido por críticos da época como Neo Reggae, essas bandas ganharam espaço também no meio acadêmico, fazendo constantes shows nos campos da Ufba e festivais, no final dos anos 90 e início dos anos 2000. 

“A gente procurou ser verdadeiro com a gente, pois não éramos do recôncavo. O Adão tinha a influência natural de Edson Gomes, mas a gente sabia que não era ele. A gente falava daquilo que nos incomodava, com engajamento, mas tínhamos uma experiência e outras formas de acessar a realidade, como no movimento estudantil, principalmente nesta influência do Adão nas universidades. É massa, pois existe um respeito mútuo nestas realidades”, conta Serginho.

“Sem contar que esta geração do reggae surgiu junto com outras tendências importantes na música baiana, como a banda Inkoma, de Pitty, Catapulta, Dois Sapos e Meio… Tocamos juntos em shows, era uma variação muito interessante, uma ebulição alternativa”, conta.

Sine Calmon estourou com o ‘Trem do Amor’ e cantou em cima do trio com Lazzo Matumbi e Ivete Sangalo, em 1998 (Foto: Arquivo CORREIO)

Nova geração
A preocupação agora de Serginho é sobre o surgimento de uma nova geração, que parece ainda não ter ocorrido. Para ele, é preciso que o reggae repense algumas formas (sem perder sua essência), acompanhando as novas tendências da juventude. 

“Me incomodou um pouco, por exemplo, a falta de reggae na grade de programação do Afropunk (festival que ocorreu no final do ano passado, em Salvador). Mas isso nos faz refletir sobre muitas coisas. O reggae tem alguns desafios para o futuro. Na minha opinião, claro. A primeira delas é a renovação. Nós temos hoje grandes artistas, consagrados, como Edson, Adão, Diamba… Mas eu sempre fui muito crítico. Há mais de uma década falta a renovação do reggae. O reggae, o regueiro, digo com conhecimento de causa, de alguma forma, também tem um discurso muito burguês em alguns aspectos. Por exemplo: é uma visão de mundo ainda muito machista, em certos momentos até misogina”, explica o cantor do Adão, que tem um programa nas plataformas digitais bem interessante, o Bahia Cast.  

Um dos cofundadores da República do Reggae, principal evento do ritmo no país, Serginho não vê renovação inclusive na grade de programação do maior evento do ritmo. Ele já foi até a Jamaica procurar atrações para a festa e hoje se diz preocupado pela falta de novos talentos regueiros.

“O reggae precisa compreender que as identidades e identificações são fluidas e o reggae não acompanhou o novo tempo. Quem é o artista emergente de Salvador que canta na República do reggae? Ou de qualquer lugar do Brasil? O artista mais novo que pode ocupar espaço na mídia e que pode ser um Natiruts do amanhã se chama Maneva. São meninos eminentemente brancos e classe média de São Paulo. Eles possuem uma musicalidade que o próprio reggae já disse que não é reggae. Complicado…”, conta. 

Bahia ou Maranhão
Se falta renovação, Serginho não foge da maior polêmica do reggae no país: qual a capital brasileira do ritmo?

“Esta pergunta tem várias respostas possíveis. O Maranhão tem um fenômeno específico, muito bonito e verdadeiro com o reggae. Eles possuem um ponto específico muito interessante de transformar tudo em reggae. Mas aí eu provoco: quantos artistas nacionalmente conhecidos saíram do Maranhão? A lista começa e termina com Tribos de Jah”, comenta Serginho.

“Se você for olhar por este aspecto, eu digo para todos que este binômio Cachoeira e São Félix está para o reggae, assim como Seattle está para o rock americano. Edson Gomes, Sine, Nengo, Marco Oliveira, Geraldo Cristal… Do ponto de vista artístico que imprimiram um estilo musical brasileiro, com certeza é a Bahia”, conclui ele. 

Se não é possível determinar o marco zero, tampouco cravar onde está o melhor reggae, o importante é que o reggae nunca perca sua essência engajada. Edson Gomes fala uma coisa interessante nos seus shows. Ele diz que o reggae toma a pessoa pela dança, pela musicalidade e pelo balanço, mas a letra também faz a pessoa pensar e refletir sobre a importância de lutar e não baixar a cabeça. Afinal, baiano não come reggae de ninguém…

***

Reggae é música!

Navegue na linha do surgimento do reggae na Bahia, através dos álbuns lançados. A capital regueira fora da Jamaica é aqui! (desculpaê, Maranhão…)

  • 1972 – Álbum Transa, de Caetano Veloso. 

A música Nine Out Of Ten é a primeira música brasileira a se referir ao termo ‘raggae’. Caê fala sobre sua experiência de ouvir o ritmo em Londres, onde ele estava exilado. 

  • 1974 – Álbum Grupo Arembepe, Iaiá

A banda Arembepe testa novos acordes que lembram o reggae com soul music. A música é ‘Lá na Esquina’.

  • 1978 – Reggae da Independência

Ex-integrante da banda Arembepe, Chico Evangelista grava um reggae que seria o primeiro a adotar um tempero baiano, que fala do 2 de Julho.

  • 1979 – Realce, de Gilberto Gil

Gil, com tranças, entra de vez no reggae, sendo o primeiro a gravar uma música de Bob Marley no país: Não chore mais. No ano seguinte, fez turnê com Jimmy Cliff. 

  • 1987 – Descobrimento do Brasil, Sarajane

Edson Gomes e Nengo Vieira já são referência no reggae e pega também o mundo do Axé. Sarajane gravou Rastafary, de Edson Gomes, chamando atenção para o que já fervilhava no Pelourinho e recôncavo. 

  • 1988 – Reggae Resistência, Edson Gomes

O reggae man já era referência, mas seu primeiro álbum ocorreu este ano, com sucessos imortalizados e regravados por diversos artistas, como Malandrinha, Samarina, Sistema é um Vampiro e Rastafary.

  • 1990 – Edson Gomes e Banda Cão de Raça, Recôncavo

Mais um sucesso de Edson, que apresenta outras composições importantes para o reggae nacional, como Fala só de Amor, Lili e Adultério. 

  • 1992 – A música do Olodum

A banda de percussão grava a música que consagraria de uma vez outra vertente do ritmo jamaicano: samba reggae. Até Jimmy Cliff gravou a canção. 

  • 1997 – Fogo na Babilônia, Sine Calmon e Banda Morrão Fumegante

O Brasil se rende ao álbum que estoura em todo país, No ano seguinte, no carnaval da Bahia, a música Nayambing Blues é a mais tocada nos trios, mas não ganha como música do carnaval. 

  • 1998 – Somos Libertos, Nengo Vieira

Papel fundamental na difusão do reggae, finalmente Nengo grava seu primeiro álbum, com sucessos como Basta Man. “Todo pé rapado tem o mesmo direito…”

  • 2000 – Ninguém está Salvo, Diamba

A nova geração do reggae baiano mistura periferia, rock e surf music. Diamba abriu a geração com sucessos como Ninguém Está Salvo e Mangaba Soul. 

  • 2003 – Exerça, Scambo

Bem diferente do reggae do recôncavo, mas não menos importante, o Scambo mantém a essência engajada da música da primeira geração, mas dialoga com rock e surf music. Destaque para Sol de Ninguém. 

  • 2005 – Vence Tudo, Adão Negro

Vítimas do sucesso, Adão já tocava em cada canto da Bahia desde os anos 90, era sucesso absoluto, mas só gravou oficialmente seu primeiro álbum em 2005, ao vivo. Adão foi uma das bandas que sofreram mais com as piratarias. Eles faziam shows, no outro dia já estavam vendendo no camelô.

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