Capaz de comparar mais padrões que um cérebro humano, o Chat GPT é um algoritmo baseado em inteligência artificial (IA) que usa todo seu potencial para apresentar resultados mais eficientes e rápidos. Dessa forma, robôs jurídicos, por exemplos, conseguem ler processos de mil páginas em alguns segundos e comparar padrões entre milhões de processos e potencializar o trabalho. Um robô médico, por sua vez, lê 40 milhões de endoscopias do intestino é capaz de localizar um padrão cancerígeno maior que um médico humano.
Apesar de surpreendente, os especialistas acreditam que a eficiência da AI tem limitações importantes e que não pode e nem deve ser usado sem boas doses de senso crítico, além de uma atenção rigorosa. Mas afinal, quais os impactos que o Generative Pre-Trained Transformer (numa tradução algo como Transformador pré-treinado generativo) terá no mundo do trabalho? Conseguirá substituir os humanos?
Criado por um laboratório de pesquisas em inteligência artificial dos EUA chamado OpenAI, com sede em San Francisco, o algoritmo do Chat GPT teve seu desenvolvimento baseado em redes neurais e machine learning. A meta era que a IA melhorasse os diálogos virtuais, aprimorando a experiência e os recursos oferecidos por assistentes virtuais, como Alexa ou Google Assistente.
Mimetismo
Doutorando em Cultura Digital e professor dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Cinema da Unijorge, Moisés Costa Pinto afirma que esse tipo de IA tem grande potencial de mudar radicalmente a relação do homem com o trabalho.
Moisés Costa Pinto acredita que novas habilidades profissionais serão criadas à partir do desenvolvimento do Chat GPT (Foto: Amanda Penna/Divulgação) |
“Elas podem mimetizar tarefas até hoje feitas apenas por humanos e acelerar muitos processos produtivos. Quer dizer, o que sabemos hoje como trabalho pode estar se reconfigurando radicalmente; muitas profissões criativas podem desaparecer, transformarem-se ou mesmo serem criadas por causa da abundância de inteligências artificiais como o ChatGPT”, acredita.
Costa Pinto reconhece que a revolução das IAs está apenas no começo e ainda não se sabe a extensão total do impacto. “O que podemos dizer, por ora, é que o mercado de trabalho não será o mesmo e isso implicará em uma corrida por novas habilidades profissionais relacionada ao trabalho com essas tecnologias”, complementa.
Para o mestre em Inteligência Artificial e Ética pela PUC-SP, Alexandre Le Voci Sayad, que atua como co-presidente da aliança internacional da UNESCO em educação midiática, a UNESCO MIL Alliance, ainda é cedo para ver o impacto no mercado de trabalho como um todo e que tudo vai depender das próximas gerações como o ChatGPT4.
“A Inteligência Artificial só substitui probabilidades e comparação de padronização de dados, ou seja, isso ela faz melhor que humano, ela compara um volume de dados muito mais que o cérebro humano é capaz, e pode assim criar predições, pode criar possibilidades de cenários”, esclarece, ressaltando que não há nenhum indício científico que a inteligência artificial tenha consciência ou sentimento. “Então o que a gente prega quando aplica a ética na inteligência artificial é que a decisão final seja sempre humana, mas que ela possa ajudar nesse processo”, pontua Sayad.
Ferramenta
Para Alexandre Le Voci Sayad, a fortaleza do Chat GPT e outras inteligências artificiais generativas reside em atuar auxiliando o profissional naquela etapa onde se torna mais difícil para um cérebro humano ou um computador de programação simples, analisar tantos dados. “Se eu tenho que fazer uma tarefa de muitos cenários, muitos dados, que exijam muitas comparações, muita identificação de padrão, aí eu posso usar a inteligência artificial para isso, para fazer uma triagem de resultados para mim, e eu como profissional com a minha força, tomar a decisão final, é para isso que está sendo muito útil e é um uso ético”, explica.
Alexandre Le Voci Sayad defende que a ferramente de inteligência artificial precisa ser usada com cuidados e muito senso crítico, evitando erros básicos e plágio (Foto: Divulgação) |
O representante da UNESCO MIL Alliance salienta que o Chat GPT é um avanço daquele preenchimento automático que o Google tinha, que comparava milhões de textos e entregava um padrão encontrado. “No entanto, quanto mais você usa, mais base de dados é usada, a IA aprende e se aperfeiçoa. É preciso aprender como funciona IA, que passa de um processo linear para tarefas específicas para inteligência artificial, que é um processo recorrente de análise de dados e estatístico, é um salto”, reforça.
Com uma postura bem próxima, o professor Moisés Costa Pinto acredita que o grande salto na maioria das carreiras criativas será justamente o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao trabalho colaborativo com as IAs, como o ChaGPT.
“Escribas, como jornalistas, podem usar a ferramenta para corrigir rapidamente o texto ou pedir sugestões de estilo. Diretores de Arte podem usar IAs para acelerar o processo de diagramação ou produção de uma arte, com a IA sugerindo estilos, cores, enquadramentos etc. Contadores podem usar inteligências artificiais para resumir e mostrar inconsistências em dados de planilhas com milhares de linhas e colunas”, ilustra.
Sayad diz que não há motivos para temer, mas é fundamental conhecer, experimentar e trabalhar junto. “É justamente atuar nos pontos onde a IA não pode atuar e são muitos. Ela é, de fato, uma tecnologia de uso sistêmico e geral, o impacto dela vai durar muito tempo, nós estamos entrando mesmo em uma nova era de tecnologia e ninguém tem resposta pronta agora, quem tem está mentindo, nós estamos aprendendo a lê-la e entender seus impactos éticos”, completa.
Costa Pinto vai além e sugere um desafio: que os profissionais abram o ChatGPT e perguntem o que ele pode fazer para ajudar na atividade profissional. “Para serem bem utilizadas, ela só precisa da criatividade do profissional em questão”.
Armadilhas
O professor da Unijorge destaca que assim como como toda ferramenta, o ChatGPT é uma tecnologia auxiliar e que a principal armadilha no uso é confiar o resultado do trabalho inteiramente a ele. “Em seu atual estágio, ele ainda não é confiável em sua integralidade. Ele pode conter ‘alucinações’ que podem desinformar, incorrer em erros graves e prejudicar o profissional, seu cliente e sua empresa. Revisar o trabalho do ChatGPT é muito importante”, sugere.
Costa Pinto ressalta ainda que outra falha grave é atribuir a si mesmo a autoria de um conteúdo produzido pelo ChatGPT. “Ele produz com base em uma base de dados gigantescas e, muitas vezes, pode deixar grandes pedaços de conteúdos de outros autores sem o devido registro. Logo, se pode ser acusado de plágio do trabalho de terceiros”, ensina.
Sayad destaca que assim como não se acredita na primeira resposta de uma consulta ao Google, por exemplo, é preciso ver a ferramenta com alguma desconfiança. “Precisamos tomar o cuidado para não acreditar e tudo que a IA nos dá, ela erra muito e vai errar muito ainda, e o tipo, a complexidade do pensamento humano não é comparável ainda as conexões de probabilidades estatísticas que resolve hoje, então está muito longe para a gente aceitar o que ela oferece como algo definitivo ou correto”, finaliza.