Um cigano foi liberado de um sequestro seguido de cárcere privado após a família pagar R$150 mil. O homem foi capturado no município de Água Fria, na quarta-feira (07), quando voltava de um casamento em Camaçari, e foi resgatado nesta quinta-feira (08), em Amélia Rodrigues, a 88km de onde foi pego.
A vítima, identificada como Giliarde Cigano, mora em São Sebastião do Passé, mas estava no Clube Social de Camaçari, participando de um evento. Ao deixar o local de carro, com um primo, com destino a São Sebastião do Passé, eles teriam sido fechados por sete homens armados divididos em dois carros – um Gol Branco e um Meriva -, na altura de Água Fria, por volta das 19h.
O primo teria sido deixado dentro do veículo de Gilliarde, amarrado ao volante. Apenas o cigano foi levado pelos homens. As informações são do diretor da Associação Beneficente Cultural e de Desenvolvimento Social dos Povos Ciganos do Brasil (ABECC), Rogério Ribeiro. Segundo ele, a família da vítima o procurou em busca de auxílio.
“O resgate foi tenso. Eles começaram pedindo R$500 mil à família, mas acabaram aceitando R$150 mil”, contou Rogério. Ainda segundo ele, Giliarde foi liberado e entregue a um tio, em Amélia Rodrigues, por volta das 14h desta quinta (08).
O caso não foi registrado na polícia, pois, de acordo com Rogério, a família tem medo de represálias. Mas a Polícia Militar (PM-Ba) informou que agentes da 10ª CIPM foram acionados para averiguar uma denúncia de sequestro na localidade conhecida como Lamarão do Passé, em São Sebastião do Passé, e que eles realizaram buscas, mas nenhuma vítima ou suspeito foram encontrados.
A reportagem entrou em contato com a presidente da Associação Nacional de Mulheres Ciganas, Dinha Santos e o representante dos povos ciganos no Conselho de Igualdade Racial do Estado da Bahia, Diran Cigano, em busca de um posicionamento sobre o caso. Dinha informou que está averiguando junto à Diran e que as entidades vão se posicionar após as discussões.
Comércio
O sequestro de Giliarde se soma a outros casos do mesmo crime com ciganos como vítimas. Por isso, o diretor da ABECC afirmou ter protocolado para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, um documento pedindo providências para conter essas ações na Bahia, na quarta (05), em Brasília. “O sequestro de ciganos virou comércio na Bahia e sabemos que existem pelo menos quatro quadrilhas especializadas com policiais envolvidos”, pontuou Rogério Ribeiro.
Foto: arquivo pessoal |
No documento direcionado ao ministro Flávio Dino, ele compila dezenas de casos de sequestro ocorridos nos últimos dois anos. Em 2021, ele contabiliza 20 ocorrências com resgates de até R$150 mil; 10 casos em 2022 e pelo menos dois ocorridos este ano. Um deles teria ocorrido em janeiro, tendo um adolescente de 14 anos como vítima, no município de São Felipe. “A maioria não é denunciado, porque as famílias têm medo”, disse o diretor da ABECC.
Quanto à participação de policiais nas ações, a Polícia Militar (PM-Ba) informou que disponibiliza os canais de comunicação institucionais para recepcionar os relatos de condutas referente a policiais militares.