Dos 80 anos que Gilberto Gil completa neste domingo (26), eu o conheço pelo menos há uns 40. Isso mesmo. Na época que comecei a ter contato com o cantor e compositor, ele era casado com Sandra Gadelha, a musa inspiradora de Drão, uma de suas músicas mais belas. Eu e uma turma de adolescentes, fãs dele, frequentávamos sua casa ali no bairro do Costa Azul (que hoje não existe mais). Fazíamos companhia a Drão e às crianças, Pedro, Preta e Maria, durante as viagens de Gil que ela não podia acompanhar.
Era uma diversão e tanta. E quando Gil chegava e nos encontrava, brincava: ‘olha o jardim de infância’. Apesar de estarmos na faixa dos 18 a 20 anos, ainda éramos relativamente jovens para o casal. Era uma turma formada por futuros jornalistas como Isabela Laranjeira, Bebete Martins e eu. Iam também Moisés Santana, cantoras iniciantes como Sylvia Patrícia, Jussara Silveira, além de Pedro Santana, Marcos Melo, Bi Oliveira, Fábio Pestana, entre outros.
Na época, eu escrevia uma coluna de música na Tribuna da Bahia e fazia curso pré-vestibular no UCBA – só entrei para a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia em 1978.
A partir daí, já atuando como repórter no Correio da Bahia (antigo nome do jornal CORREIO) comecei a encontrar Gil como profissional, fazendo entrevistas e cobrindo seus shows. Quando passei a organizar o Troféu Martim Gonçalves (da TV Aratu, então retransmissora da Globo), que premiava os melhores do teatro baiano nos anos 1980, convidei Gil para entregar um prêmio e ele compareceu. Na época, ele já estava namorando com a atual mulher, Flora Gil.
Eu tinha uma foto na qual os dois estavam na plateia e eu só fui descobrir anos depois. Aí, entreguei a original ao casal durante um evento na Suíça e fiquei com a cópia digital (essa parte da história já contei aqui no Baú do Marrom. Clique aqui e leia)
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Foto de Roberto Monteiro |
Desde então, mesmo quando ele se mudou para o Horto Florestal, onde teve os famosos almoços com a Banda U2 e o Maestro Quincy Jones (o mesmo de Michael Jackson), nunca mais perdi o contato com o artista e a família, incluindo as filhas Nara e Marilia, do primeiro casamento com Belina, e o saudoso Pedro, além de Preta e Maria com Drão.
Encontro com o mestre em Montreux (Foto: Renata Autran/Divulgação) |
Assisti shows memoráveis de Gil, como o encontro dele com Jimmy Cliff na antiga Fonte Nova; a Refestança com Rita Lee, no antigo Balbininho (que foi destruído quando construíram a Arena Fonte Nova). O ano do Brasil na França, em Paris; o encontro dele com Alcione; Armandinho nos 80 anos de João Donato em Montreux, na Suíça; o show com Stevie Wonder na praia de Copacabana.
Nos bastidores do show Fé na Festa, em Londres (Foto: Arquivo Pessoal) |
Ainda tive o privilégio de vê-lo em Londres em 2010, quando estava estudando, e ele apresentou o show Fé na Festa, só com músicas que remetiam aos festejos juninos (já fiz um Baú sobre o tema). Ao se encontrar comigo nos bastidores, ele perguntou o que eu estava fazendo na capital inglesa e eu respondi que tinha ido estudar inglês. Ele brincou lembrando um trecho daquela música de Caetano, Baby: “Preciso aprender inglês, o que eu sei, e o que eu não sei mais”. Rimos bastante, ele fez um show belíssimo. E os encontros continuaram ao longo dos anos.
Fui convidado para um show especial em Brasília com Gil e Caetano, em homenagem aos 20 anos da morte de Ulisses Guimarães. Vi o encontro dele com Gal Costa e Nando Reis em Trinca de Ases. Além do Camarote Expresso 2222, onde sempre bato ponto. E no tradicional almoço que Flora Gil faz na semana do Carnaval.
Também não posso esquecer da “Melhor Terça-feira do Mundo”, um encontro realizado em seu apartamento no Corredor da Vitória que reuniu Xanddy e Bimba do Harmonia do Samba, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Márcia Castro, Regina Casé, e depois tudo terminou numa animada roda de samba onde até eu dancei com Ivete.
Teve ainda o especial Globo de Ouro Palco Viva – 30 Anos de Axé idealizado por mim e Paulo Borges, produzido por Flora Gil e dirigido por Leticia Muhana, que reuniu os grandes nomes dessa cena musical, e Gil foi um convidado de honra. Foram dez programas gravados no Teatro Castro Alves que resultaram num trabalho de qualidade impecável, exibido pelo canal Viva.
Gilberto Gil e Flora na Lavagem no Lago Leman, na Suíça (Foto: Renata Autran -Divulgação) |
Recentemente, fui à posse dele, no Rio de Janeiro, como imortal na Academia Brasileira de Letras. E, em São Paulo, no lançamento do Museu Virtual sobre sua obra, inaugurado pelo Google.
Mas como nem tudo são flores, eu tenho uma grande frustração: não assisti o encontro dele com Caetano, Gal e Bethânia no antológico show Doces Bárbaros, em 1976. Naquele ano, eu ainda não o conhecia pessoalmente e ainda era um estudante secundarista que morava no bairro da Liberdade. Ó, tempo rei!
Parabéns Seo Gilberto!