Investigava eu um dos labregos inteligentes que agora estão na moda nos Estados Unidos, de nome Theo Von, quando dei com uma entrevista de Donald Trump.
Vi só o bocadinho que me interessava – aquele em que falam de tabaco, álcool e droga, claro –, mas fiquei impressionado com a paciência e a atenção de Trump.
Apesar de ser muito conhecida a história do irmão Fred – recomendo, a propósito, o filme The Apprentice que Trump tentou proibir –, o irmão Donald explicou cuidadosamente o que lhe tinha acontecido.
Ocorreu-me então que a vitória de Trump sobre Kamala Harris também se pode dever à muito maior disponibilidade de Trump.
É muito fácil gozar, dizendo que Trump vai a todas, mas a impressão que Harris deixou é muito pior: a de quem não vai a nenhuma.
No estilo antigo da política, os políticos são distantes, circunspectos e misteriosos. Cultivam este mistério, para que cada eleitor o preencha como quer.
Trump é um político moderno. Discursava durante horas, deixando que as multidões, grandes, médias ou diminutas, se dispersassem à vontade.
Falava do que lhe apetecia, dizendo o que não devia, defendendo-se e elogiando-se obsessivamente, aborrecendo toda a gente.
Dava entrevistas a quem quer que fosse que pudesse ajudá-lo a ganhar um voto ou dois.
Numa palavra, trabalhava. Estava lá. Sabia-se o que pensava sobre tudo. Era chato. Não se ia embora. Não escondia os piores defeitos. Não escondia nada.
Compare-se com Kamala Harris, elitista e distante, tentando sempre dizer o mínimo possível.
Na verdade, Trump comprou os votos um a um. Tentou convencer todos os grupos, por muito pequenos que fossem.
Não tentou generalizar. Não tentou falar para o máximo número possível de pessoas, para ficar despachado.
O resultado foi que Trump passou por ser sincero. Mandou às urtigas o mistério. A impressão que deixou aos eleitores foi ter-se dado a conhecer. Era aquilo que era. Não havia mais.
Foi mais moderno. Foi mais humilde. Foi mais esperto.
(Transcrito do PÚBLICO)