Os corpos dos dois homens encontrados nesta segunda-feira (15), em uma via marginal da Avenida 29 de Março, no Trobogy, perto do Parque Tecnológico da Bahia, apresentavam marcas de disparos de armas de fogo e estavam na Rua Mundo, uma das vias internas do parque.
A inexistência de documentos pessoais com as vítimas impediu a identificação imediata. Os militares isolaram o local e acionaram o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para a perícia e remoção dos cadáveres.
O Parque Tecnológico da Bahia é uma estrutura do governo do estado e foi inaugurado há 10 anos, visando reunir empresas e instituições de pesquisa e inovação. Uma década depois, no entanto, quem passa pelo equipamento vê um espaço deserto, com áreas sem forro, salas desocupadas e poucos profissionais trabalhando. Apesar de ser divulgado que o Tecnocentro possui mais de 30 empresas atuantes e cerca de 120 pessoas trabalhando, uma visita da reportagem, em 2022, averiguou que o local se encontrava esvaziado e com obras em andamento.
O equipamento contou com um investimento de R$ 53 milhões para ser construído e é formado por um único prédio de quatro andares, vinculado à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti) e gerido pela Associação de Empresas do Parque Tecnológico da Bahia. No momento da inauguração, outro investimento, este de R$ 59 milhões, foi divulgado para a implantação da segunda etapa do parque, que estava prevista para ficar pronta em 2014. Não foi o que aconteceu. Contando, no início, com grandes nomes para desenvolver pesquisas no local, como a IBM Brasil, a Sábia Experience Tecnologia S.A e a Indra Brasil S.A., nenhum grande projeto foi desenvolvido antes que essas companhias se retirassem do Parque Tecnológico.
Segurança pública abandonada
Após a divulgação da notícia de que dois corpos haviam sido encontrados na área do parque, o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil), líder da bancada de oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), lamentou a negligência com o parque. “A que ponto chegamos, até as áreas do governo do estado viraram ponto de desova. O problema da segurança pública está acontecendo debaixo do nariz do governo. O Parque Tecnológico era para ser um lugar produtivo, moderno e inovador, mas pelo jeito foi negligenciado a ponto de os criminosos usarem aquele local como ponto de desova”.
Em uma publicação no Twitter, o presidente da Fundação Instituto Índigo, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e secretário-geral do União Brasil, também comentou o caso. O político afirmou não existir mais controle da segurança pública por parte do governo estadual: “Não falta mais nada para o governo do estado admitir, de uma vez por todas, que perdeu totalmente o controle da segurança pública da Bahia. Dessa vez, um episódio que acontece, literalmente, dentro das estruturas do próprio governo, debaixo dos olhos dos governantes”, declarou Neto.
“E justamente em um lugar que deveria fomentar a inovação e novas oportunidades, mas que se transformou em mais um cenário ideal para os bandidos. Esse é o resumo do que tem acontecido na Bahia há 17 anos: o governo cruza os braços enquanto os criminosos ditam as regras”, acrescentou.
O que dizem os órgãos do governo estadual
A Secti afirmou que os cadáveres não foram encontrados nas dependências do local, que possui monitoramento. “Os corpos foram encontrados numa via marginal à avenida 29 de Março, que fica próxima à entrada de serviço do prédio do Parque Tecnológico da Bahia. Os corpos não foram encontrados no Parque Tecnológico da Bahia. O prédio tem segurança, é monitorado. Nada aconteceu no prédio do Parque Tecnológico”, declarou a pasta, em nota.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Civil e a Polícia Militar haviam emitido notas. Em resposta à reportagem, a Polícia Civil disse que a autoria e a motivação do crime serão apuradas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que expediu as guias para remoção e perícia. Já a Polícia Militar afirmou que o policiamento na região é realizado diuturnamente pela 50ª CIPM, com o emprego de guarnições motorizadas, que fazem rondas ostensivas preventivas.
“Além do policiamento ordinário, guarnições do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) reforçam as ações de acordo com a mancha criminal. A unidade tem intensificado o policiamento, inclusive com operações, para coibir todos os tipos de ações delituosas, contando ainda com os reforços da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT) Rondesp Central e da Operação Apolo, que realizam constantes ações preventivas em toda a extensão de responsabilidade da unidade”, diz a nota da PM.