São Paulo – O relatório da investigação interna da Polícia Militar concluiu que o soldado Geovany Jorge Alves da Silva Júnior, 37 anos, que foi preso em flagrante e é acusado de vender entorpecentes na Cracolândia, não deve ser punido por tráfico de drogas na Justiça Militar. Ele está preso preventivamente pela Justiça comum.
O soldado da PM era lotado no 13º Batalhão da PM, unidade responsável por patrulhar a região da Cracolândia, onde trabalhava como motorista do comandante. No documento, obtido pelo Metrópoles, a corporação também sugere que o tenente-coronel Armando Luiz Pagoto Filho seja considerado inocente.
Geovany foi detido em flagrante no dia 17 de agosto, após a polícia encontrar cinco tijolos de maconha, escondidos em uma oficina mecânica na Alameda Dino Bueno, no centro da capital paulista. Foi o dono do estabelecimento, que também foi preso na ocasião, quem delatou o soldado como participante do esquema.
Os policiais encontraram R$ 1,5 mil euros (R$ 8 mil) com Geovany, que não soube explicar a origem do dinheiro. A suspeita de tráfico de drogas, então, passou a ser investigada em dois inquéritos diferentes – um na Polícia Civil e outro na Militar.
Investigação da PM Para o coronel da PM Paulo Sergio de Melo, responsável pelo Inquérito Policial Militar (IMP), o soldado deveria ser absolvido na Justiça Militar. “Todas as evidências apontam como certo de que não houve o crime de tráfico de drogas e associação”, escreve, no relatório, concluído em 14 de novembro.
Geovany era investigado no IPM com base no artigo 290, do Código Penal Militar. Pela legislação, os agentes de segurança são proibidos de “receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma” droga em lugar sujeito à administração militar.
Os investigadores da PM alegam que, após buscas, não encontraram drogas guardadas no armário ou na viatura de Geovany. A conclusão da corporação de que o soldado seria inocente também teria como base depoimentos de testemunhas e o resultado de perícia nos celulares de PMs relacionados ao caso, segundo o coronel.
Os aparelhos passaram por pesquisas de palavras-chaves para tentar encontrar conversas que comprovariam o esquema de tráfico na Cracolândia. Os investigadores buscaram os seguintes termos: drogas, pacote, embrulho, erva, tijolo, paiol e vapor. Outras palavras, como “droga”, no singular, “crack” ou “maconha” ficaram de fora da consulta. Nenhuma conversa relevante foi encontrada.
Depoimento Em depoimento, prestado em agosto, o tenente-coronel Armando Luiz Pagoto Filho, então comandante do 13º Batalhão, declarou que escolheu Geovany para fazer parte da sua equipe desde setembro de 2022 porque o soldado já tinha “bastante proximidade” com ele.
O comandante afirmou, ainda, que “nunca teve motivos para desconfiar da honestidade do PM” e chegou a comprar um carro, um Nissan Frontier XE, que pertencia ao pai de Geovany.
Na investigação, o tenente-coronel confirmou que sua viatura já havia sido levada para a oficina, onde as drogas foram encontradas, mas para realizar “serviços de funilaria”.
Segundo depôs, o local teria sido indicado por Geovany, que relatou que conhecia o proprietário e era cobrado apenas pelo custo dos materiais.
Após o caso, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) transferiu Pagoto Filho para o CPA/M-10, que cuida da região de Santo Amaro, na zona sul da capital.
No Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Geovany é réu por tráfico de drogas e alega inocência. A primeira audiência do caso foi realizada no dia 30 de novembro, mas o caso segue sem sentença.
O Metrópoles procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP). O espaço segue aberto para manifestação.