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‘Decisão não deve passar de hoje’, diz promotora sobre caso de fisioterapeuta que levou 68 facadas

O julgamento de Fábio Barbosa Vieira e Alex Pereira dos Santos deve ter capítulo final nesta segunda-feira (22), no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador. Os dois são acusados pelo ataque à fisioterapeuta Isabela Oliveira Conde, que foi esfaqueada 68 vezes em um carro na Avenida Bonocô em 2019 e precisou se fingir de morta para sobreviver. Fábio, ex-namorado da vítima e mandante do crime, dirigiu o veículo enquanto dois homens –  Alex era um deles – esfaquearam e espancaram Isabela durante todo o percurso. O terceiro criminoso, no entanto, não foi identificado.

Réus confessos, os dois ouvirão hoje a sentença pelo crime cometido. Pelo menos, é isso que prevê Isabel Adelaide, promotora titular do caso e coordenadora do núcleo do júri. “A decisão não deve passar de hoje. Não é um caso simples, é complexo. Porém, não vemos razão para que ele vire um dia, dois ou três de julgamento até porque eles confessam o fato. O que eles apenas alegam é que ele [Fábio] queria dar um ‘susto’ nela e não foi uma tentativa [de homicídio], mas eles dois confessam”, explica a promotora. 

Ao longo do dia, apenas a vítima será ouvida, já que os acusados falaram anteriormente e a promotoria julga suficiente o conjunto de provas reunidas. Os réus serão julgados por tentativa de homicídio qualificado por motivação torpe, impossibilidade de defesa da vítima, pela utilização de meio cruel e também por tentativa de feminicídio. No entanto, nenhum dos dois deve pegar a pena máxima, como aponta Isabel Adelaide.

“Existe uma mística em torno dos 30 anos. Hoje em dia, de acordo com a nossa legislação, uma pessoa ser condenada a 30 anos é um caso muito raro. Quando é uma tentativa, você tem uma redução de pena que é imposta a partir do Art. 14 do código penal e que necessariamente seria feita. Ainda que ele fosse condenado na pena base de 30 anos, o que é difícil, teria que haver a redução e ele não seria condenado por esse tempo”, diz a promotora.

Desde o início da manhã, Isabel, familiares e amigos estão no fórum para acompanhar o julgamento e a decisão do júri. O grupo apareceu com faixas de protesto contra o feminicídio.

Relembre o caso
A fisioterapeuta levou 68 facadas, distribuídas entre o tórax e cabeça, no dia 28 de fevereiro de 2019, uma quinta-feira de Carnaval, na Avenida Bonocô. Ela sobreviveu após se fingir de morta, mesmo, em seguida, sendo jogada numa ribanceira da BR-324, ainda em Salvador. 

Ao CORREIO, na época, Isabela contou que foi socorrida por populares e levada ao Hospital do Subúrbio. Apesar de ter pedido uma grande quantidade de sangue devido aos ferimentos provocados, não só pelos golpes e murros durante o ataque, mas por se arrastar num matagal, ela chegou consciente à unidade médica e contou tudo o que aconteceu à equipe médica. 

“Deus estava comigo do início ao fim. Falei tudo. Tive condições de falar o meu nome completo, dar os contatos de minha irmã e meu cunhado. Tive condições também de informar o responsável por tudo isso: Fábio Barbosa Vieira. Foi então que minha irmã e meu cunhado tiveram a ideia de ligar para Fábio e dizer que cheguei morta ao hospital. Ao mesmo tempo, avisaram à polícia”, contou Isabela em 2019. 

Cinismo
Acreditando que seu plano havia dado certo e que Isabela estava morta, Fábio chegou ao Hospital do Subúrbio fingindo estar atordoado com a notícia.

“Minha irmã disse que ele estava todo arrumado, de banho tomado, relógio novo, e dizendo que estava arrasado com a notícia. Ela abraçava minha irmã e, com todo o cinismo, dizia: ‘O que fizeram com Bela, o que fizeram com ela, que crueldade’”, relatou Isabela.

A irmã de Isabela, o cunhado e filha adolescente da vítima, de 16 anos, precisavam manter Fábio no hospital até a chegada da polícia. Então, num determinado momento, a adolescente chegou a perguntar pela mãe a Fábio. “Ele disse que havia me deixado no trabalho, que provavelmente depois teria saído com uma amiga. Ele ainda a abraçou e chorou na frente de todo mundo”, relatou Isabela. 

Logo depois, a máscara de Fábio caiu. “Ao ver a aproximação dos policiais, ele olhou para a minha família e minha irmã disse a ele: ‘Isabela está viva’. Foi quando ele correu, os policiais foram atrás, mas a população agarrou ele”, detalhou. 

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