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Deixados de lado, jovens de 6 a 17 anos enfrentam preconceito com adoção tardia

A espera pela adoção já costuma ser longa. Não é do dia para noite que pais e filhos adotivos se encontram em um mesmo lar. Na Bahia, quando a criança ou adolescente tem entre 6 e 17 anos, esse processo pode ser ainda mais demorado e, às vezes, interminável. Em 2022, das 82 crianças adotadas em todo o estado, só 32 tinham pelo menos seis anos. Neste ano, a tendência se mantém. De 41 adoções, apenas 10 não eram de crianças com cinco anos ou menos. Por isso, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA)  lançou quinta-feira (25), Dia Nacional da Adoção, a campanha ‘Filhos são eternos bebês’.

A ação quer fazer com que a espera de adolescentes como Antônio dos Anjos, 17 anos, tenha fim. Ele vive no Lar Irmã Benedita Camurugi, em Simões Filho, e sonha em encontrar uma família mesmo estando a um mês de completar a maioridade.

“Eu sonho em ter uma família porque, desde pequeno, via outras crianças com mães e pais. Dias das mães e dos pais mesmo são os dias que eu menos gosto e fico triste. Na escola, quando é essa época, todo mundo fala sobre a comemoração e eu não tenho mãe/pai. É sempre difícil”, conta.

Para fazer com que histórias como a de Antônio terminem com o encontro dos pais adotivos, o desembargador Salomão Resedá, titular da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do TJ-BA, fala que a campanha quer mostrar os pontos positivos da adoção tardia, pois os pais preferem, em geral, crianças menores de 3 anos. “Não só a criança recém-nascida pode ser filha ou filho. Os mais velhos também estão aptos a construir essa relação”, inicia.

“Tem um aspecto que, quando a criança ou o adolescente tem uma pequena noção da vida, a tendência é ele dispensar um amor maior para aquela pessoa que o amparou. Ele já viveu o abandono, viveu a solidão de não ter uma família. A campanha quer dar visibilidade ao que está nesses lares e instituições”, completa Resedá, advogando pelo fato de que a adoção tardia é também uma experiência valiosa para quem quer se tornar pai ou mãe.

A professora Gicélia Cruz, 55, adotou uma menina de 7 anos e atesta o que o desembargador diz. Segundo ela, o processo com crianças mais velhas é enriquecedor. “A adoção tardia traz uma certa leveza por eles terem uma maturidade, mas também uma descoberta porque ser mãe é uma construção que independe da idade. Não há uma receita ou padrão. Tem sido uma construção para mim e para ela, no processo de nos reconhecermos enquanto mãe e filha”.

É esse o tipo de relação que Wesley Conceição, 12, espera construir com uma família que o adote. Ele vive no Lar Pérolas de Cristo e espera ainda ser adotado com os dois irmãos mais novos que foram com ele para o local. “Queria mesmo uma família, uma casa e um quarto que fosse meu e de meus irmãos que estão aqui comigo. É bom estar com eles no lar onde cuidam da gente, mas uma casa com pais seria mais legal”, fala o pequeno.

Juiz da 1º Vara da Infância e Juventude, Walter Ribeiro afirma que trabalha para que os pais não desenhem perfis de crianças. “Existe o perfil da criança desejada e é isso que estamos trabalhando para mudar. Essa criança não pode ser o que a sociedade quer, que no geral é uma menina branca com menos de três anos. Eu recomendo optar por perfil livre, porque filho é filho, independente de como eles sejam”, dá o recado.

Como se candidatar para a adoção: 

  • Internet Quem quer dar entrada no processo e se tornar um candidato à adoção, pode acessar o site do TJ-BA (tjba.jus.br), onde há um espaço de orientação manual para entender passo a passo o que é preciso. 
  • Presencialmente  Além disso, é possível também entrar em contato com a 1º Vara da Infância e Juventude ou ir até a sede do órgão. Nessas opções, a pessoa recebe orientação completa para ficar mais perto da possibilidade de adoção. 
  • Encontro Juiz da 1º Vara da Infância e Juventude, Walter Ribeiro detalha o processo: “O encontro entre quem quer adotar e uma criança não pode ser visto como uma ida ao Petshop ou boutique onde se escolhe uma roupa. A partir do momento em que você se cadastra, um sistema faz a busca de uma criança dentro do perfil que esses possíveis pais escolheram. Então, a combinação precisa bater seguindo uma série de critérios e o sistema faz a vinculação automática”, afirma.
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