A reunião ministerial de 5 de julho de 2022, presidida por Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, durou pouco mais de 3 horas. Mas o vídeo da reunião, guardado na memória do computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, e apreendido pela Polícia Federal, tem apenas uma hora e 33 minutos.
É o que basta para dar uma ideia das razões que levaram Bolsonaro a defender um golpe para rasgar a Constituição caso não fosse reeleito dali a três meses, impedir a posse de Lula que liderava todas as pesquisas de intenção de voto, e permanecer no poder. Não se ouve uma única voz discordante entre os que compareceram à reunião.
Estavam lá os ministros Anderson Torres (Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Guedes (Economia) e Marcelo Queiroga (Saúde), entre outros. E também os comandantes do Exército e da Força Aérea, além do secretário-geral da Marinha.
Bolsonaro exigiu que seus ministros – em total desvio de finalidade das funções do cargo – deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado para fins dissociados do interesse público.
Em seguida, deu início ao seu show de horrores contra a democracia.
“Tem acordo ou não tem com o TSE [Tribunal Superior Eleitoral]? Se tem acordo, que acordo é esse que está passando por cima da Constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu Exército, meus 23 ministros”.
“Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. [,,,] Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”.
“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”.
“A gente vê o que está acontecendo, está na nossa cara. A guerra de papel e caneta, a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem que ser mais, mais contundente, como eu vou começar a ser”.
“Não tenho prova de muita coisa, mas não tenho dúvida. Eu tenho que me virar, acreditando que vai dar tudo certo ano que vem? Eu vou descer daqui da rampa preso por atos antidemocráticos igual a Jeanine Áñez”.
(Jeanine Áñez Chávez é uma política boliviana que se autoproclamou presidente interina do seu pai em 2019, após a renúncia de Evo Morales. Era a segunda vice-presidente do Senado. Governou durante dois anos. Acabou sentenciada a 10 anos de prisão.)
“A fotografia que pintar no dia 2 de outubro [véspera do primeiro turno da eleição] acabou, porra! Quer mais claro do que isso? Nós estamos fazendo a coisa certa, mas o plano B, a gente tem que botar em prática agora”.
“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin [Edson, ministro do STF]. O cara não tem limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Ou que o Barroso [Luís Roberto, presidente do STF] tá levando 30 milhões de dólares. Que o Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo”.
“A guerra de papel e caneta, a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem que ser mais contundente, como eu vou começar a ser. Porque se aparece o Lula com 51% no dia 2 de outubro, acabou”.
“Eu já fui convidado para locais ‘cabulosos’ aqui em Brasília. Será que se, nesse lugar cabuloso, eu tivesse cheirado uma carreira de cocaína, ou tivesse relações sexuais com outro homem ou com uma menina de 14 anos, o que vocês acham que iria acontecer comigo? Seria refém do sistema. Será que isso aconteceu com alguém aqui em Brasília ou fora de Brasília?”
“O TSE cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência Eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Para nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe Supremo das Forças Armadas?”