Neste sábado (25), em Salvador, um grupo de 50 mulheres teve acesso gratuito a exames e orientações voltados à endometriose, doença que afeta cerca de 15% da população brasileira feminina em idade fértil, ou seja, de 20 a 45 anos. A ação, promovida pelo Movimento Brasileiro de Conscientização sobre a Endometriose (MovEndo), em alusão à campanha mundial ‘Março Amarelo’, aconteceu na sede da Associação Bahiana de Medicina (ABM), no bairro de Ondina.
A programação contou com palestras ministradas por especialistas, material informativo e distribuição de camisas. Houve também aferição de pressão arterial, exames de sangue, ressonância magnética, ultrassonografia, sessões de fisioterapia pélvica e consultas com nutricionistas, oferecidos para quem tinha retirado uma senha no local no dia anterior.
A endometriose se caracteriza pela migração e implantação do tecido endometrial em órgãos da região pélvica, atingindo principalmente ovários, ligamentos uterinos, útero, intestino e bexiga, o que provoca um processo inflamatório no organismo da mulher. Principal causa da infertilidade feminina — 60% dos casos no estado —, a doença pode causar dores intensas no período menstrual.
“O primeiro objetivo desse evento é desmistificar que mulher sentir dor no período menstrual é normal. Isso é o gatilho para que ela procure o serviço médico e possa ser investigada de forma adequada”, explica o cirurgião pélvico Marcos Travessa, diretor do Centro de Endometriose da Bahia. “Os trabalhos atualmente mostram que um retardo de nove anos no diagnóstico dessa doença. Com isso, vêm as sequelas e complicações.”
Apesar de a endometriose ser considerada incurável, por meio do tratamento adequado, os incômodos e consequências podem ser atenuados, evitando-se, inclusive, que a paciente tenha sua capacidade fértil comprometida. Segundo Travessa, “a palavra ‘cura’ é algo muito subjetivo e forte”. “Assim como a pressão alta e o diabetes — este, em grande parte das vezes — não existe cura. São doenças crônicas e que têm tratamento. Há qualidade de vida com a endometriose”, ressaltou o cirurgião pélvico.
E é isso o que busca a jovem Jaqueline dos Santos, de 22 anos. “Desde a primeira menstruação, eu senti uma diferença em relação a minhas irmãs. Aí, só parava na emergência”, relembrou ela, hoje em tratamento. Para Jaqueline, a ação neste sábado foi uma oportunidade de entender melhor a doença com que convive. “A gente conhece nosso corpo, e dá pra lidar melhor com a situação. É muito importante”, opinou.
Diagnosticada há 10 anos, a recepcionista Elania Rodrigues, 37, também considerou de grande valia o fato de ter podido se reunir com outras mulheres que têm endometriose. “Eu gostei muito da iniciativa. Pretendo vir todos os anos e passar pra mais pessoas esse tipo de informação: que a dor não é normal e deve ser investigada”, contou ela, que tem sentido avanços a partir do tratamento da doença.
Tipos de tratamento
No tratamento de pacientes com sintomas leves e que não pretendem engravidar, podem ser usados medicamentos anti-inflamatórios, como os contraceptivos hormonais, para minimizar a dor. Eles inibem a atividade dos ovários e retardam o crescimento do tecido endometrial. Além disso, mudanças comportamentais, como a adoção de uma dieta anti-inflamatória e a prática de exercício físico regularmente, são fundamentais ao controle dos sintomas.
Para a maioria das mulheres com endometriose moderada ou grave, o tratamento mais eficaz é a cirurgia que, cada vez mais, tem sido feita por videolaparoscopia ou por via robótica. Durante a cirurgia, o médico retira o máximo possível de tecido endometrial produzido fora do lugar habitual (ectópico), sem danificar os ovários.