InícioEditorialEntenda como a crise na Itaipava afeta a economia baiana

Entenda como a crise na Itaipava afeta a economia baiana

O pedido de recuperação judicial feito pelo Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava, Crystal e Petra, deve ter consequências diretas na economia da Bahia. O grupo carioca possui uma fábrica que emprega 2,7 mil pessoas – entre trabalhadores diretos e indiretos – no município de Alagoinhas, no nordeste baiano. Os funcionários estão com o pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) atrasado e não tiveram participação nos lucros nos últimos dois anos porque a empresa não atingiu a meta esperada.

Em um comunicado enviado aos trabalhadores da fábrica na segunda-feira (27), a empresa afirma que o pedido de recuperação judicial é consequência de uma crise que se agrava há 18 meses. Redução de faturamento, pressão inflacionária, aumento dos custos de produção e dificuldade de repasse de preços dos produtos vendidos são os principais motivos para a decisão. 

Na terça-feira (28), a 5º Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro concedeu uma medida cautelar que protege o grupo ao impedir a cobrança de dívidas. 
Apesar de a recuperação judicial ser um indicativo de que a empresa não deseja encerrar suas atividades, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Bebidas da Bahia (Sindibeb) se preocupa em quais podem ser as consequências da crise para a indústria local. 

“É uma fábrica que vem tendo problemas, o FGTS está atrasado desde 2019 e há dois anos os trabalhadores não têm participação nos lucros e resultados porque a empresa não atinge a meta”, afirma Alberto Santiago, presidente do sindicato. Enquanto isso, o clima é de tensão entre os trabalhadores, que ainda não sabem qual será o futuro dos seus postos de trabalho. 

A fábrica em Alagoinhas está localizada na BR 101

(Foto: Grupo Petrópolis/Reprodução)

Já o secretário de Desenvolvimento Econômico de Alagoinhas, Bruno Fagundes, aparenta tranquilidade e defende que não há indicativos de que a fábrica do município será fechada. “Em conversas com a direção da fábrica sobre o pedido de recuperação judicial, nos foi passado que não há possibilidade de impactos negativos para Alagoinhas”, garante. 

O grupo possui oito empresas no país, sendo duas delas em estados no Nordeste: Bahia e Pernambuco. A escolha pela construção da fábrica em Alagoinhas não se deu por acaso. O município oferece uma série de incentivos fiscais (não pagamento de impostos) para que fábricas de bebidas sejam instaladas na localidade. Outro atrativo do município de 152 mil habitantes é a reserva de água do aquífero Marizal-São Sebastião. O setor de indústria representa 28% de todo o Produto Interno Bruto do município.

O economista Edísio Freire explica que empresas que recorrem ao pedido de recuperação judicial tendem a não honrar seus compromissos, pelo menos a curto prazo – o que reflete negativamente na economia. “A Ford é um exemplo de empresa relevante que deixou de operar no estado e provocou consequências no fluxo econômico através de desemprego, perda de renda da população e diminuição do consumo”, afirma.

O que é recuperação judicial? 

O pedido de recuperação judicial acontece quando empresas que passam por dificuldades financeiras acionam a Justiça para evitar o encerramento das atividades. No caso do Grupo Petrópolis, as dívidas ultrapassam os R$4,2 bilhões e mais da metade (52%) do valor é referente a despesas com fornecedores e terceiros.

Quando o pedido é aceito, a empresa ganha um prazo para renegociar o que deve, Mesmo com o fôlego garantido, o processo nem sempre se dá de forma linear. A companhia telefônica Oi, por exemplo, entrou com um novo pedido de recuperação judicial para se proteger de credores depois de ter ficado seis anos em um processo semelhante. 

Para o economista Edísio Freire, é essencial que as grandes empresas estejam atentas à governança para evitar crises como a das Americanas e Oi. “Precisa existir uma justiça distributiva do ponto de vista de renda e um política tributária mais justa. As empresas tentam gerar operações para pagar menos impostos a todo modo e esquecem de cuidar verdadeiramente da governança”, pontua. 

Relação do Grupo Petrópolis com a Bahia começou em 2013

O Grupo Petrópolis é um dos maiores no setor de bebidas e concentra 14 marcas de produtos como cervejas, água mineral e energéticos. Fundada na região serrana do Rio de Janeiro em 1998, a empresa era dona de 15% do mercado nacional de cerveja até o início de 2020, segundo dados da consultoria Nielsen incluídos no pedido de recuperação judicial. A fatia foi reduzida para 10% em agosto do ano passado. 

Com a promessa de geração de emprego e renda, a fábrica em Alagoinhas foi inaugurada em novembro de 2013, com a presença do presidente Lula (PT). O Grupo Petrópolis também teve forte atuação no Carnaval de Salvador, colocando a cerveja Itaipava como marca oficial dos circuitos em três anos seguidos. 

Nos últimos dois carnavais, no entanto, a Ambev fechou o contrato de exclusividade com a prefeitura. Tão logo a notícia do pedido de recuperação judicial foi divulgada, as ações da concorrente tiveram alta de 5,79%. 

O Grupo Petrópolis tem parceria com o Governo do Estado na concessão da Arena Fonte Nova, que só comercializa bebidas do grupo no estádio. A reportagem questionou o governo sobre o vínculo com o grupo após o pedido de recuperação judicial, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. A Arena Fonte Nova também não se pronunciou.

*Com orientação de Flávio Oliveira.

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