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Esposa de jornalista desaparecido implora por buscas: ‘cada segundo pode ser vida ou morte’

Após a notícia do desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira, neste domingo (5), no Amazonas, a família do jornalista implorou às autoridades brasileiras que iniciem as buscas na região o mais rápido possível.

Em uma carta divulgada nas redes sociais, Alessandra Sampaio, esposa do jornalista Dom Phillips, pede urgência nas buscas promovidas pelas autoridades brasileiras.

“No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia. Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas”, disse Alessandra.

O jornalista Dom Phillips colabora para vários jornais do mundo e está trabalhando no livro “Como salvar a Amazônia” desde o ano passado. Morando em Salvador, ele é correspondente no Brasil há mais de 15 anos.

“Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida. Só posso rezar para que Dom e Bruno estejam bem, em algum lugar, impedidos de seguir por algum motivo mecânico, e tudo isso vire apenas mais uma história numa vida repleta delas”, continuou a esposa de Dom na carta.

Ainda no texto, Alessandra fala de sua preocupação quanto aos riscos que o marido e o companheiro de pesquisa estejam correndo em áreas de conflito, já que Dom fez muitas denúncias enquanto jornalista.

“Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil. Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes”, pediu Alessandra.

O Ministério Público Federal (MPF) afirma que já acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil para encontrar o jornalista e o indigenista. Ainda segundo o MPF, quem conduzirá as buscas é a Marinha do Brasil pelo Comando de Operações Navais.

“Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Força Nacional, a Polícia Federal e todos os poderes à sua disposição para encontrar nosso querido Dom”, disse o cunhado do jornalista Dom Phillips, Paul Sherwood, em rede social. “Ele ama o Brasil e dedicou sua vida à cobertura da Floresta Amazônica”.

“Entendemos que o tempo é essencial, então por favor encontrem nosso Dom o mais rápido possível”, continuou.

Nesta segunda-feira (6), a Polícia Federal (PF) ouviu as duas últimas pessoas que se encontraram com os desaparecidos. Os nomes dos homens não foram divulgados, mas, segundo informações preliminares, são dois pescadores. Eles não estão sendo considerados suspeitos e falaram na condição de testemunhas. Após o depoimento, os homens foram liberados.  

Área remota
Segundo um funcionário do Ibama, que preferiu não se identificar, a região do Vale do Javarí faz fronteira com a Colômbia e o Peru, é de difícil acesso, conflituosa e concentra muitos pontos de garimpo ilegal. Além disso, a área também é uma rota de tráfico de cocaína.

Vale do Javari, no Amazonas, onde desapareceram indigenista brasileiro e jornalista inglês (Foto: Univaja/ Reprodução)

Em nota, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que instaurou um procedimento administrativo para apurar o caso e acionou as autoridades para buscar os dois homens desaparecidos entre a comunidade de São Rafael e o município de Atalaia do Norte (AM)

O desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira foi confirmado nesta segunda-feira (6), pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Eles desapareceram na manhã de domingo (5), enquanto faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até o município de Atalaia do Norte, no Amazonas.

Ainda no domingo uma equipe saiu de Atalaia do Norte em busca dos dois, percorrendo de barco o mesmo caminho feito por eles, mas até agora ninguém foi encontrado.

Ameaças
O indigenista Bruno Araújo Pereira sofria ameaças constantes de invasores e garimpeiros que atuavam em terras indígenas. O indigenista é um exímio conhecedor da região e a falta de contatos após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.

Eles viajavam em uma embarcação nova e tinham combustível suficiente para a expedição.

“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International”, ressalta a nota.

Dom Phillips e Bruno Pereira já haviam percorrido a região em 2018, quando o repórter inglês escreveu sobre tribos isoladas da Amazônia para o The Guardian. O Vale do Javari tem a maior concentração de povos isolados no mundo.

Em uma publicação feita nesta segunda, um porta-voz do jornal manifestou preocupação com o desaparecimento. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, frisou.

Desaparecimento
Phillips e Bruno Pereira estavam numa expedição para visitar a equipe de Vigilância Indígena localizada próxima à base da Funai no Rio Ituí. O jornalista faria entrevistas com indígenas da região. Ambos chegaram ao local na noite de sexta-feira (3).

No domingo (5), retornavam para Atalaia do Norte e pararam na comunidade ribeirinha São Rafael, em uma visita pré-agenda, para que Bruno Pereira fizesse uma reunião com um líder comunitário para discutir a vigilância do território, alvo de constantes invasões.

Após o encontro, eles continuaram a viagem em direção a Atalaia. O percurso levaria cerca de duas horas. A previsão de chegada era para entre 8 horas e 9 horas de domingo.

No início da tarde de domingo, uma equipe da Univaja partiu para fazer buscas à dupla, sem sucesso. No fim da tarde, outra equipe partiu da cidade de Tabatinga (AM), mas também retornou sem informações sobre o indigenista e sobre o jornalista.

Eles viajavam, segundo a nota das entidades, em uma embarcação nova e tinham combustível suficiente para a expedição.

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