Uma estudante de Artes Cênicas usou suas redes sociais para proferir ofensas racistas contra colegas de turma. Com termos como “pavor de conviver com pessoas escuras” e “essa negadinha”, as falas da graduanda repercutiram na internet. O caso aconteceu na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na última segunda-feira, 9.
Na publicação, a moça – que não teve a identidade revelada – disse que toma banho de sal grosso diariamente após as aulas e passa hidratante para “não absorver a energia podre dessa galera”.
“Tenho pavor de conviver com pessoas ‘escuras’, eles devem [ter] um complexo de inferioridade muito forte em relação às pessoas brancas, e geralmente essa negadinha ainda são (sic) corajosos e totalmente sem noção e vem xingar a gente (risos)“, escreveu.
“Tem um colega que é meu colega desde o ensino médio. Ele se acha a última bolachinha do pacote. Para mim, ele e um pedação de bosta é a mesma coisa. É um moreno praticamente igual a todos os outros que convivem com ele. E o mais engraçado é que tenho só uma colega que é branca e loira e ela não desgruda um segundo desses negos que ainda com ela (risos) ainda bem que eu não ando mais com ela”, aponta em outro trecho.
O Diretório Acadêmico de Artes Visuais da Instituição se manifestou. “Repudiamos todo e qualquer tipo de discriminação, exigimos providências e não descansaremos até que sejam seriamente punidos”. A instância convocou a comunidade acadêmica para um ato de protesto, que ocorreu nesta terça-feira, 10. A manifestação contou com a presença de discentes, docentes, técnicos-administrativos em educação e comunidade em geral.
O reitor da UFSM, Luciano Schuch, informou na reunião pública que a denúncia foi encaminhada para a Polícia Federal. “Nós, administrativamente, já estamos tratando junto à direção do Centro de Artes e Letras (CAL), com a nossa assessoria jurídica, que auxilia no processo disciplinar, que é um processo breve, de no máximo 30 dias. Como há materialidade, neste caso será preciso reunir a comissão, analisar os fatos e proferir a punição.” afirmou. Porém, não informou que sanções serão aplicadas à aluna
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas e o Observatório de Direitos Humanos da Universidade Federal de Santa Maria também fizeram uma nota de repúdio diante dos comentários racistas da graduanda. Os grupos destacaram que tais palavras “violentam nossos estudantes negros e negras, bem como ferem os princípios da diversidade e da pluralidade que constituem a sociedade brasileira e consequentemente suas instituições. Racismo é crime”. “Seguiremos em luta pela responsabilização destes atos e pela construção de uma instituição que respeite a diversidade do nosso povo”, finalizou
Após a repercussão, a estudante falou nas redes sociais:
“Eu não sou racista. Aquele foi um comentário que eu postei no dia 6 de maio de 2022 (sexta-feira passada), não reflete minha opinião sobre as pessoas negras, pardas ou indígenas. Não tem nada a ver com ódio contra uma pessoa ou várias, ou contra características de uma pessoa ou várias. Apesar disso, eu não vou me desculpar pelo que eu escrevi. Porque eu tenho minha vivência individual e minha história de vida, cada pessoa tem a sua, e aquele texto que eu escrevi não teve nada de mais e não foi direcionado a uma pessoa especifica e sim um texto que eu postei no meu Instagram individualmente”.
COM A PALAVRA, CENTRO DE ARTES E LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
“O Centro de Artes e Letras repudia veementemente quaisquer manifestações de cunho racista e discriminatório. A Direção, junto com a Administração Central da universidade, está providenciando a apuração dos fatos recentes, para que haja a devida responsabilização e encaminhamento de acordo com as normas institucionais”.
COM A PALAVRA, A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
“A Universidade Federal de Santa Maria repudia qualquer forma de preconceito, racismo, agressão, assédio, abuso de poder, violência verbal ou física dentro e fora da Instituição. Frente às manifestações racistas e injúrias raciais proferidas no âmbito acadêmico da UFSM nesta semana, a Universidade informa que o caso foi registrado no canal oficial de denúncias da instituição, que é a Ouvidoria, e está sendo tratado através das vias administrativas e judiciais cabíveis. Nesse sentido, a UFSM comunicou à autoridade policial competente e irá instaurar processo disciplinar discente para apurar o fato.
Esse tipo de manifestação fere os princípios da diversidade e da pluralidade, que constituem a sociedade e nossa instituição. A UFSM se solidariza com as vítimas, porque acredita em uma universidade plural, sem espaço para qualquer tipo de preconceito. Qualquer situação de assédio e discriminação deve ser denunciada por meio da Ouvidoria no site http://ufsm br/ouvidoria”.