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O ex-presidente Jair Bolsonaro 20 de abril de 2024 | 14:44
Fake news, distorção, ataques à imprensa, apoio a Israel e uma recente preocupação com os yanomamis compõem algumas das publicações feitas por contas oficiais de Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais, mesmo após o ex-presidente ter se tornado inelegível depois de difundir mentiras sobre o sistema eleitoral e ser condenado a indenizar jornalistas por ofensas ditas durante o seu mandato.
Em meio a postagens convidando apoiadores para manifestação a seu favor em Copacabana (RJ) no domingo (21), canais oficiais do ex-presidente repetem ataques à imprensa e se propõem a mostrar uma versão alternativa daquilo que a mídia, segundo a versão de Bolsonaro, não estaria disposta a mostrar.
No último domingo (14), uma das contas oficiais do ex-presidente publicou um vídeo no qual um homem que diz ser ex-integrante do PCC afirma ter sido instruído, assim como outros membros, a votar em Lula (PT) nas últimas eleições.
A estratégia de ligar Lula à facção, comumente utilizada por bolsonaristas, já rendeu a Bolsonaro multa de R$ 15 mil no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por fazer a associação nas eleições de 2022. Os ministros do tribunal entenderam que foram propagadas mentiras “que buscaram abalar e ofender intencionalmente a imagem de Lula”. O tribunal determinou ainda a remoção do conteúdo publicado.
Também compõe o repertório das redes de Bolsonaro referência à crise humanitária dos yanomamis, usada politicamente para criticar o governo petista. Em vídeo publicado no dia 29 passado, um homem afirma que os yanomamis relatam ter vivido “um período muito bom na gestão do Bolsonaro”.
Como mostrou o Painel, o ex-presidente também divulgou a aliados, no dia 28, um vídeo com supostas imagens de miséria dos indígenas. Na lista de transmissão do WhatsApp, Bolsonaro escreveu: “Yanomamis condenados. Peço repassar”.
A gestão Bolsonaro foi marcada por uma crise entre os yanomamis que levou o Ministério da Saúde a decretar emergência em saúde pública.
Também politizada, a guerra entre Israel e Hamas tem rendido postagens nas redes de Bolsonaro. Uma publicação contém desinformação ao fazer circular um boato de que a organização terrorista Hamas teria queimado um bebê vivo no forno. Segundo o site boato.org, voltado à checagem de notícias, não há indícios de que isso tenha ocorrido.
A utilização política da guerra foi intensificada nas redes de Bolsonaro depois que Lula comparou, em fevereiro, a ação de Israel em Gaza a de Hitler contra os judeus. O uso político do conflito também se refletiu nas ruas e fez parte do discurso de aliados de Bolsonaro durante ato na Paulista, em fevereiro.
Em janeiro, outra desinformação circulou em conta oficial do ex-presidente. Dessa vez, a postagem fazia referência a uma acusação falsa de que o presidente Lula teria ganhado um carro zero-quilômetro da empresa chinesa de carros elétricos BYD. Conforme checou a Agência Lupa, a informação é falsa.
Na verdade, a BYD entregou um modelo Tan à Presidência da República em regime de comodato para “testes de uso e conhecimento do produto”. O empréstimo sem custo ocorreu no dia 24 de janeiro e tem prazo de um ano.
Além de postagem com conteúdo falso e a repetição de estratégias que já lhe renderam multa, as redes de Bolsonaro divulgam informações distorcidas.
Exemplifica a tendência publicação de janeiro reunindo recortes de vídeos com falas do presidente Lula, por meio dos quais se busca construir a imagem de que haveria um cenário de manipulação para impedir Bolsonaro de retornar ao poder.
No conteúdo distorcido, Lula também aparece dizendo ter “consciência de que jamais a gente poderia chegar ao poder pela via do voto, pela via democrática” e insinuando que os ataques do 8 de janeiro são de responsabilidade do atual governo.
O vídeo termina com a fusão da imagem do presidente com a de uma figura de traços demoníacos, que afirma “aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar eleição”. A publicação tem a marca d’água das redes sociais da deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC).
Além das postagens, o ex-presidente voltou a fazer críticas infundadas contra o TSE no início de fevereiro, quando disse em entrevista que o tribunal trabalhou para “eleger Lula a qualquer preço”. Em convocação para a manifestação de domingo em Copacabana, o ex-presidente também tem afirmado que o Brasil está “perto de uma ditadura” e vê ameaçada a liberdade de expressão.
Atualmente, Bolsonaro é alvo de vários eixos de investigação envolvendo, dentre outros pontos, milícias digitais, que teriam promovido ataques virtuais a opositores e às vacinas contra a Covid-19, venda de joias presenteadas por autoridades, falsificação de cartão de vacina e golpismo.
Ana Gabriela Oliveira Lima/Folhapress