InícioEditorialFechada desde 2019 para reforma, Biblioteca Anísio Teixeira é reinaugurada

Fechada desde 2019 para reforma, Biblioteca Anísio Teixeira é reinaugurada

Após um investimento de R$ 7,5 milhões, a nova Biblioteca Anísio Teixeira foi reaberta nesta quinta-feira. Além dos  11 mil livros do acervo, outros destaques do espaço são oficinas e materiais didáticos para pessoas com deficiência audiovisual e também formação em libras. O imóvel, que é tombado, passou por uma grande obra conduzida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que teve início em janeiro de 2019. A  estimativa de conclusão  era um ano, mas a reforma sofreu atraso por conta da pandemia.

A biblioteca, localizada na Ladeira de São Bento, no Centro de Salvador, conta com salas multiuso, setor de empréstimo, periódicos, de estudo, pesquisa e infantil, videoteca e auditório. O pátio externo conta com um espaço de convivência para realização de atividades culturais e educativas, além de abrigar um café. Apesar de reabera, a bibliotpós segue em recesso de final de ano desta sexta (30) até segunda (2), reabrindo suas portas para o público na terça (3), funcionando de segunda a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h30 às 12h. O acesso é livre e gratuito.

Com recursos oriundos do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD) do Ministério da Justiça, foi realizada na BAT uma requalificação corretiva, sob a coordenação do Iphan. A unidade foi entregue à Fundação Pedro Calmon (FPC) no início deste mês. Foram realizados a implantação de sistema de climatização, acessibilidade, instalações elétricas e hidráulicas, de combate a incêndio, além de novas áreas técnicas e administrativas.Diretor-geral da FPC, Zulu Araújo destaca a importância da manutenção destes equipamentos culturais para a sociedade: “Hoje as bibliotecas não são apenas um espaço de guardar livros, são espaços de trocas culturais, de experiências entre várias gerações e classes sociais. Requalificar estes espaços é um dever do Estado e um direito do cidadão”. 

Segundo Zulu, a biblioteca tem a mesma importância daquele que dá nome à unidade: Anísio Teixeira. “Ele foi um educador, que primava e considerava fundamental a educação, o conhecimento, escrita e leitura, para que o país se desenvolvesse”, pontuou o diretor-geral. O espaço, de acordo com ele, tem por obrigação proporcionar para a juventude baiana o acesso à história da Bahia e ao que circula do mundo. 

A diretora da biblioteca Laura Galvão ressaltou que o espaço é uma ferramenta transformadora. “Nós trabalhamos com leitura, escrita, além da nossa programação cultural e cursos de capacitação. Além de atividades também para pessoas em situação de rua”, destacou. Ela aproveitou para chamar a população baiana para conhecer o local: “Pode vir, pegar um livro, ler aqui, estudar, temos o espaço para isso, além de pessoas especializadas para atender o visitante. Também dá para pegar o livro emprestado”, acrescentou. 

A biblioteca levou 10 anos para ser reformada. Sobre a demora, o Iphan explicou que o “imóvel se encontrava em estado de arruinamento avançado, com escombros em seu interior e perda de vários elementos, como diversas paredes internas. Após a limpeza no interior das edificações e início dos serviços, como é costumeiro em obras de restauração, surgiu a necessidade de adaptações do projeto à realidade do estado de conservação do prédio, em especial aqueles que estão muito deteriorados. Isso leva à necessidade de reformulação dos projetos de arquitetura e complementares, o que demanda tempo”. 

Enquanto aguardava a obra, a biblioteca já passou por outros dois endereços: o prédio ao lado, na própria Ladeira de São Bento, e depois o Pelourinho. Rita Siqueira, de 75 anos, era uma das frequentadoras assíduas da BAT e foi acompanhando-a a cada novo endereço. Ela não “via a hora de vê-la aberta novamente na Ladeira de São Bento”. 

Seguindo a tradição de ser uma biblioteca inclusiva, a Anísio Teixeira recebeu óculos OrCam, que fazem a leitura do texto e o transformam em áudio para pessoas com deficiência audiovisual e analfabetos. Rita Siqieira gostou da novidade e defende a existência das bibliotecas. Ela chegou a Salvador há cerca de 54 anos e, em Paulo Afonso, onde morava, não tinha esses espaços. “Era a professora que me emprestava os livros. Aí, quando eu vim para Salvador, quando me casei, passei a ser fã das bibliotecas da cidade. Livro é um negócio caro, né? Não dá para sair comprando assim, é, no máximo, um sebo. Mas é o jeito que a gente que não tem muito dinheiro encontra para se distrair. Porque eu nunca tive dinheiro para sair muito, para viajar, então as minhas viagens eu faço através dos livros”, conta. 

O espaço entra em recesso de Ano Novo e volta a reabrir na terça-feira (2) (foto Ana Albuquerque)

Novo site da Biblioteca Virtual  

Um site com muito conteúdo moderno e acessível sobre estudos de gênero, raça, memória, quilombolas, indígenas e muito mais. Esse é o cartaz de apresentação do novo site da Biblioteca Virtual Consuelo Pondé (BVCP), carinhosamente apelidado de BV, que também foi lançado também nesta quinta.  

Para a Diretora do SEBP, Tamires Conceição, essas entregas demonstram o comprometimento da FPC com a sociedade. “A FPC empenhou esforços para o fortalecimento dessas entregas e elaborou junto com as Diretorias das bibliotecas, projetos que impulsionarão o uso desses equipamentos culturais para atender cada vez melhor as necessidades informacionais dos leitores”. Na biblioteca, o visitante também poderá ter acesso a computadores, que ainda serão instalados. 

História da Biblioteca Anísio Teixeira

O casarão número 26, em frente à Igreja de São Bento, foi uma doação da família Mariana Vianna feita ao Governo Estadual em 1956. A biblioteca, que até a doação funcionava no Corredor da Vitória, mudou então para o novo endereço. Antes denominada Biblioteca Central de Educação e Biblioteca de Educação, recebeu o nome do seu fundador, Anísio Teixeira, somente em 1985, transformando-se em uma biblioteca pública.

Por conta da estrutura do casarão, que ficou ameaçada, a biblioteca foi transferida para o prédio ao lado em 2003. Em 2014, mudou-se mais uma vez para a Rua Frei Vicente, no Pelourinho, onde funcionava desde então, também de maneira provisória. Em 2021, foram 646 ações culturais desenvolvidas no local e 476 visitantes para pesquisa e empréstimo de livros. 

“O prédio que foi doado estava em ruínas e chegou ao ponto de não haver possibilidade de realizar qualquer atividade no local, por isso saímos de lá e buscamos a reforma”, conta Zulu Araújo. A proposta de reforma foi encaminhada em 2012 ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. Em 2014, o projeto foi aprovado, mas somente em 2019 os recursos foram liberados pelo Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD) do Ministério da Justiça.

“A falta de conservação e de uso do edifício levou ao estado de arruinamento das edificações. Diante deste cenário, o Iphan interviu antes da perda completa dos edifícios, e pôde interromper o avanço da degradação através da realização das intervenções de restauração e adaptação dos bens, que se tornarão um importante equipamento cultural para a cidade de Salvador”, explicou o Iphan sobre o estado de degradação do local. 

A estrutura 

Sob a coordenação do Iphan, a reforma implantou um sistema de climatização, acessibilidade, instalações elétricas e hidráulicas, de combate a incêndio, construção de novas edificações e áreas técnicas e administrativas. O local ainda conta com sala de exposição temporária, setor de empréstimo e periódicos, videoteca, salas multiusos, sala de estudos individuais, setor de estudo, pesquisa e referência, setor infantil e auditório. 

O pátio externo funciona como espaço de convivência para realização de atividades culturais e educativas da instituição, além de abrigar um café. “Com o projeto de requalificação, nós passamos a ter condições de ampliar as ações de fomento à leitura no Centro Histórico, ampliar e capacitar a equipe de colaboradores para fazer da biblioteca um espaço contemporâneo e inclusivo. Ela funcionará como um centro cultural”, diz o diretor-geral da FPC. 

“Ao fazer essa reforma, coisas muito interessantes foram encontradas, como uma edícula do fim do século XIX, perto da descida que vai dar na Barroquinha, que foi restaurada e passou a ser o nosso café-teatro. Também foram encontradas pinturas da década de 1940 e 1950 no salão  principal e pinturas no teto e nas paredes laterais do primeiro andar que estavam escondidas. Tudo isso foi restaurado e preservado. Essa reforma, ao mesmo tempo, preservou o patrimônio histórico material brasileiro e qualificou o espaço para a sua marca principal, que é a biblioteca”, destaca Zulu Araújo.

Araújo acrescenta que a biblioteca integra o roteiro turístico-cultural do Centro Histórico e “nunca ficará obsoleta”. “São espaços onde são desenvolvidas atividades culturais. A internet é um suporte, mas não substitui. Primeiro porque grande parcela da população não tem acesso à internet e segundo porque, mesmo tendo o acesso, isso não significa que as pessoas tenham o suporte necessário para acessar e utilizar da melhor maneira. O espaço da biblioteca é importante porque socializa de maneira igualitária, é acolhedor e estimulante”, finaliza. 

Quem foi Anísio Teixeira?

Anísio Teixeira nasceu em Caetité, na Bahia, e foi um jurista, educador, intelectual e escritor. É tido como o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX. O educador propôs e executou medidas para democratizar o ensino na Bahia e no Rio de Janeiro e defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado. 

Anísio cursou Direito no Rio e, em 1924, retornou à Bahia para assumir o cargo de Inspetor Geral de Ensino (equivalente hoje ao de Secretário da Educação), iniciando sua carreira de pedagogo e administrador público. Ele assumiu o cargo de conselheiro geral da UNESCO em 1946 e, no ano seguinte, foi convidado novamente a assumir o cargo de Secretário da Educação da Bahia.

Criou a Escola Parque, em Salvador, que se tornou um centro pioneiro de educação integral. Em 1951, assumiu a função de Secretário Geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tornando-se, no ano seguinte, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Anísio Teixeira morreu em 1971.

Rita Siqueira, assim como Anísio, defende a educação e fez questão de passar para seus filhos e netos a mesma paixão pela leitura que ela tem. “Todos os meus filhos e meus netos gostam de ler. Eu fiz questão de incentivar isso para eles. Quando eles começavam a ler eu comprava revistas em quadrinhos, livros infantis e dava para eles lerem. Aí tinha o tempo de leitura e só depois o tempo da televisão”, conta.

Mas essa paixão que Rita tem não foi passada por ninguém e, se dependesse da professora que a ensinou a ler, não iria existir. “Eu só comecei a ler com 8 para 9 anos. A professora usava uma palmatória enorme e batia mesmo em quem não conseguia acertar as palavras, aí eu ficava com medo e travava, tinha pavor. Depois de muita insistência, finalmente foi. Um dia eu estava na rede com uma cartilha e comecei a juntar o “b” com o “o”, com o “l” e depois o “a”. Aí de repente eu li “bola” e saí lendo tudo, desencantei mesmo”. 

Depois disso, foi um livro atrás do outro. Ela diz que já chegou a ler 15 livros em uma semana e que lê de tudo, sem muita preferência, mas coloca algumas restrições curiosas. “Eu leio qualquer coisa que você me der, eu só não gosto dessas coisas de Filosofia, autoajuda, nada disso. A gente já tem tanto problema, vai ficar pensando em por que o mundo é assim, por que a gente é assim? Não dá! Eu quero me distrair, mergulhar nessas histórias curiosas”, finaliza Rita.

*Colaborou Laiz Menezes

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