“Eu quero jogar contra o Real Madrid. Eles já nos venceram naquela final, então eu quero jogar contra eles novamente”. Assim definiu Mohamed Salah após a classificação do Liverpool para a final da Liga dos Campeões diante do Villarreal, no último mês. E o desejo do atacante foi atendido por Benzema, Vini Jr., Rodrygo e companhia, ao protagonizarem umas das melhores semifinais da história da Liga dos Campeões e ajudarem o Real Madrid a eliminar o então favorito Manchester City.
Agora, Real e Liverpool decidem quem ficará com a “orelhuda” neste sábado (28), a partir das 16h, no Stade de France, em Saint-Denis, cidade nos arredores de Paris. Essa será a terceira final da liga continental entre as duas equipes, que chegam com campanhas bem distintas, mas exibindo em campo o melhor que a prática do futebol tem a oferecer.
O CORREIO lista aqui quais são os principais atrativos que compõem essa final, o que pode desequilibrar para cada um dos lados dentro de campo e ainda relembra as duas outras finais disputadas entre Liverpool e Real Madrid.
Palco da final da Champions nesta temporada (Foto: Divulgação) |
Bagagens de peso
De um lado, um Liverpool que fez uma campanha quase perfeita até aqui na temporada, conquistando a Copa da Inglaterra e Copa da Liga, coisa que não acontecia desde a temporada 2000/01, e ficando em segundo lugar na Premier League, com 92 pontos, apenas um atrás do campeão City.
Na Liga dos Campeões, apenas uma derrota até aqui, e que aconteceu na partida de volta das oitavas contra a Inter de Milão, por 1 a0, quando tinha uma vantagem de 2 gols. Os ingleses também tem o segundo melhor ataque, com 30 gols, um atrás do Bayern.
Do outro lado, um Real Madrid que demonstrou em mais de uma oportunidade o peso que o clube e o elenco carregam. Na primeira fase, apesar da derrota histórica para o Sheriff, da Moldávia, no Santiago Bernabéu, o Real passou em primeiro e teve na sequência que protagonizar o que muitos chamaram de ‘milagres’. Eliminou o PSG, Chelsea e Manchester City, todos eles com o jogo de volta no mesmo Bernabéu.
A força dentro de casa também foi vista na La Liga, conquistada pela 35ª vez com 13 de vantagem para o Barcelona, vice-campeão. Foram 13 vitórias em casa, cinco empates e só uma derrota, além do melhor ataque na competição.
Resta saber o que vai pesar mais em campo neutro neste sábado, a regularidade do Liverpool ou o poder de decisão do Real Madrid na Champions.
Pontos fortes
Sem sombra de dúvidas a melhor qualidade do time comandado por Jüger Klopp é o setor ofensivo. Desde que chegou no Liverpool o treinador alemão ficou marcado por montar times que têm muito volume no ataque. Ao longo das temporadas, o time inglês foi se reforçando e encorpando as opções no banco de reservas. Para além do trio Salah, Mané e Firmino, que nesta temporada não foram tão eficazes quanto nos anos anteriores, dois nomes surgem como cartas na manga para o treinador: o português Diogo Jota e o colombiano Luis Díaz.
Esse segundo, inclusive, foi bastante elogiado por Klopp após a virada e classificação contra o Villarreal. Díaz jogou apenas 45 minutos e marcou um gol na virada por 3×2 no jogo de volta e ainda foi eleito o melhor em campo. “Luis tem um impacto gigante”, declarou o treinador. Salah também produziu uma das suas melhores temporadas da carreira e foi o artilheiro da Premier League, com 23 gols, empatado com Son, do Tottenham.
O resultado de um ataque com variações táticas e técnicas foi o recorde de gols marcados em uma única temporada pelo clube: 147 vezes em 62 partidas disputadas.
Do lado madridista, é fundamental notar a temporada excepcional do francês Karim Benzema, artilheiro da Liga dos Campeões com 15 gols. Mas, tão importante quanto os feitos do centroavante é o trabalho de um integrante da comissão técnica de Carlos Ancelotti: Antonio Pintus. O preparador físico italiano teve o seu retorno anunciado ao Real Madrid em junho do ano passado, isso porque ele já havia trabalhado com o grupo entre 2015 e 2018 quando Zidane era o treinador.
Antonio Pintus em sua passagem pela Inter de Milão (Foto: Reprodução) |
A atuação dele foi destacada na equipe tricampeã europeia de forma consecutiva, quatro anos atrás. Antes de retornar a Madrid, Pintus esteve na Inter de Milão. Coincidência ou não, o atacante Romelu Lukaku, que atuava na Inter naquela época, fez mais de 30 gols nas duas temporadas em que trabalhou com Antonius.
Ou seja, é plausível acreditar que o preparador físico italiano é influente por onde passa. E dessa vez não é diferente. Aliado à qualidade técnica do time do Real Madrid, o profissional conseguiu dar ritmo de jogo aos principais atores do elenco espanhol, a maioria deles com mais de 30 anos: Benzema, Modric, Kroos, Carvajal…
Na prática, essa intensidade pôde ser observada justamente nas viradas ‘milagrosas’ da Champions, contra PSG, Chelsea e City. Sempre que esteve atrás do placar, o Real teve forças para reagir. Será que precisará repetir o feito na final?
Ancelotti x Klopp
Não há dúvidas que esses dois nomes constam no topo do ranking dos treinadores mais qualificados da atualidade. Nesta temporada o italiano Carlo Ancelotti se tornou o primeiro treinador da história a ter conquistado um título de liga nos cinco principais países da Europa: Inglaterra (Chelsea), Itália (Milan), Alemanha (Bayern), França (PSG) e a mais recente na Espanha (Real Madrid).
Com um leque de variações no seu estilo de jogo, o Real Madrid de Ancelotti tem como principal característica a capacidade de, quase sempre, controlar o ritmo de jogo mesmo sem a bola. Ao longo da temporada, o treinador conseguiu variar o time titular, principalmente por não ter um jogador que atue como o “10 clássico”, proporcionando chances a Valverde, Isco, Vini Jr. e Rodrygo sempre flutuarem no setor de ataque para gerar espaço na defesa adversária.
Klopp e Ancelotti colocaram os times em alto nível nesta temporada (Fotos: Reprodução) |
Para a final na França, ainda restam dúvidas de quem será o terceiro elemento no trio mais ofensivo, ao lado de Vini e Benzema. Rodrygo e o uruguaio Valverde despontam como os favoritos. Além disso, o escape pelas laterais do campo, seja com os pontas ou com os laterais, é uma arma montada pelo treinador do Real.
Mas do outro lado a resposta chega de uma forma parecida. A intensidade do Liverpool de Klopp é também concentrada pelas laterais. Alexander-Arnold, principalmente, e Robertson atuam muitas vezes como alas ofensivos, obrigando o adversário a marcar em linhas mais avançadas, gerando espaço para os velozes atacantes do elenco.
Por outro lado, Klopp mostrou uma evolução quando se fala de manutenção da posse. Tanto na Champions quanto na Premier League, os Reds têm uma média de mais de 60% de posse de bola e uma precisão de 85% nos passes. Já o Real parece deixar o adversário jogar mais. Tem uma posse de pouco mais de 50% nas competições.
Relembre as outras duas finais
O primeiro duelo entre Liverpool e Real Madrid na final da Liga dos Campeões aconteceu na temporada 1980/81, com vitória dos ingleses. O jogo, aliás, também foi na França, no Parc des Princes, em Paris. Placar de 1×0 para o Liverpool, com gol marcado por Alan Kennedy.
Naquela época, a equipe inglesa despontava como uma das principais da Europa e foi quando viveu sua fase mais vitoriosa. Foi bi da Liga dos Campeões em 1977 e 78 e ainda voltou a vencer em 1984. Ao contrário do Real Madrid, que passou as décadas de 70 e 80 sem vencer nenhuma Champions e só voltou a ser campeão em 1998.
Já na segunda final o panorama era completamente diferente. Em 2018, o título em cima do Liverpool cravou o tricampeonato consecutivo do Real na liga continental, com o trio BBC – Bale, Benzema e Cristiano – vivendo um grande momento sob o comando de Zidane.
E para além do feito histórico, a partida disputada em Kiev, na Ucrânia, foi marcada por falhas sequenciais do goleiro alemão Karius, do Liverpool. Além de não ter impedido a bela bicicleta de Bale, o goleiro errou um passe e entregou para Benzema fazer o gol e, no fim, não conseguiu encaixar mais um chute de Bale e decretou o título para os espanhóis.
Na época, muitos acusaram Karius de ter sofrido uma concussão após se chocar com o zagueiro Sergio Ramos. Os exames confirmaram que ele sofreu uma lesão na cabeça. O zagueiro do Real também se envolveu em um lance polêmico, quando derrubou Mohamed Salah, que machucou o ombro e precisou deixar o campo ainda no primeiro tempo. A mágoa de não ter participado daquela final em 2018 foi o que motivou o egípcio a dar a declaração polêmica e querer enfrentar o Real Madrid na final de logo mais.