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‘Fizeram meu radiador refém’: saiba como não cair em ciladas nos postos de gasolina

Abastecer o carro pode trazer dores de cabeça maiores do que aquelas já causadas pelos altos preços da gasolina, álcool e diesel. Mal o motorista estacionada ao lado da bomba, e muitos frentistas não perdem a oportunidade de oferecer produtos muitas vezes desnecessários. Sempre com a desculpa de que o óleo está baixo ou que a cor e a textura da água do radiador estão inadequadas e que o limpador precisa trocar.  

Nos últimos dois anos, ao menos 29 pessoas passaram por situações como essa em Salvador. O dado foi levantado pela reportagem em uma pesquisa que levou 24 horas, por relatos de gente que se sentiu lesada ao abastecer. As comissões e as ameaças de demissão são os motivos que fazem os funcionários dos postos empurrarem as mercadorias para os condutores, é a justificativa.

O redator José Victor Sampaio, 23, foi um dos que caiu no “golpe”, em um posto de Sussuarana, quando foi abastecer o carro. O frentista disse que a água do radiador estava baixa. Mas, em vez de completá-la, jogou fora, e mostrou um manual no qual o protocolo seria completar a água com um fluído térmico vendido no posto.  

“Cada unidade do produto ficava por volta de R$ 100, um valor absurdo. E multiplicado por quatro, porque, de acordo com ele, meu carro, um UP, pequeno, precisava de quatro unidades. Falei: e agora? Não podia rodar com o carro sem radiador, senão ia fundir o motor e meu prejuízo seria ainda maior. Então o cara pegou meu radiador de refém”, narra Sampaio.  

Ele até ligou para o pai para ver se tinha limite no cartão, mas a peça já estava fora do carro. Por não ter saída, aceitou o produto. E deu sorte que outro frentista completou com água. “Quando eu disse que não precisava mais das outras duas unidades, ele tentou argumentar que o motor ia dar problema, que estava fazendo uma enorme besteira. A gente teve uma discussão bem acalorada. Foi uma situação muito complicada e constrangedora, me senti super impotente”, desabafa o redator.  

Com o advogado Matheus Peleteiro, 26, tentaram vender fluídos para limpar o sistema de partida a frio do carro. “Quando você passa muito tempo sem colocar a gasolina da partida a frio, ela seca e cria uma poeira lá dentro, que tem que limpar com o produto. Quando pediram para olhar o capô do carro, disseram que tinha secado e que tinha que colocar o óleo tal, e não entendo nada disso. Me ofereceram dois, um para limpar e outro para deixar fluída a gasolina”, conta Peleteiro. 

Ele só comprou o que limpava o recipiente. Mas, para confirmar a história, passou depois na concessionária. “Me falaram que sempre dão esse golpe e que não precisava ter colocado o óleo que coloquei, que era mais caro, mas o outro que tinham oferecido”, complementa. O episódio aconteceu em um posto da Avenida Paralela. Agora, o advogado recusa tudo que oferecem, já que faz a revisão do carro regularmente.  

Com a engenheira de controle e automação Stephanie Galvão, 25, o “problema” também estava no óleo e no radiador. “Estava com pressa e parei só para abastecer bem rápido, mas falaram que o óleo e o líquido do radiador estavam baixos. Quando falei que não, disseram que ia acontecer mil problemas com meu carro, então me senti pressionada. Nem me falaram o preço e a conta saiu mais de R$ 80. Me senti acuada porque eles sabiam que eu não sabia. Paguei só para não me estressar”, explica.  

No caso do estudante de engenharia mecânica Israel Maia, 24, ele já tinha a malícia, por entender do funcionamento de veículos. Mas, um dia, quis testar o frentista. “Tinha um posto na Barra que eu sempre ia, por ser perto de casa e os caras sempre ofereciam coisa, mas eu não aceitava. Um dia, quando tinha uma semana que tinha trocado o óleo do carro, deixei ele olhar só para ver o que ia dizer. Ele disse que ele estava velho, que a cor e textura estavam estranhas. Depois disso, perderam minha confiança. Nunca mais voltei no posto”, relata.  

Ele agora só abastece em lugares que não têm essa política. “Acho isso horrível, porque perdem a oportunidade de fazer uma simples troca de óleo, na honestidade. Preferem passar a perna e termina que ninguém confia mais. Pelo senso comum, todo mundo sabe que não se deve trocar óleo em posto. Hoje, tem dois que dou preferência, porque nunca pediram para olhar nada”, acrescenta Israel Maia.  

O presidente do Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniências do Estado da Bahia (Sindicombustíveis), Walter Tannus, disse que nunca antes tinha ouvido as queixas ouvidas pela reportagem. “É a primeira vez que ouço isso”. Segundo ele, cada empresário tem uma maneira de administrar, remunerar e incentivar os funcionários, algo que não envolve o sindicato.  

Já em relação aos preços mais altos dos produtos nos postos, Tannus justifica que estão inclusos os serviços. “O preço é livre, cada revendedor pode estabelecer o seu. Mas é importante comparar o produto da mesma marca e lembrar que, o produto no supermercado é mais barato, mas ninguém troca. No posto, está embutido o serviço e a mão de obra, por isso que normalmente é mais caro”, esclarece.  

A reportagem visitou alguns postos de Salvador de três bandeiras. Os frentistas falaram, em anonimato, que ganham cerca de R$ 200 em comissões a cada 3.500 litros de gasolina aditivada vendidos. Já para os óleos, palhetas e fluídos, a média de gratificação é de 3% sobre o valor do produto.  

Manual do carro traz orientações para evitar armadilhas

Conhecer bem o manual do carro que se dirige é uma forma de evitar armadilhas na hora de abastecer. A afirmação é do engenheiro mecânico e professor da UniRuy Wyden, Eduardo Tourinho. “Quanto mais a par você está do manual do automóvel, mais blindado está para não cair em certas armadilhas”, enfatiza. 

No manual existe discriminado quanto de cada produto deve ser colocado no veículo para ele funcionar bem, qual é o produto mais adequado, com que frequência deve ocorrer a reposição e onde cada produto fica no veículo.  

Além disso, é importante estar perto do frentista, saltar do carro quando for abastecer. De acordo com Tourinho, a água do radiador não precisa ser substituída. “É preciso observar se o líquido está no nível correto, no reservatório do arrefecimento, e acompanhar se há qualquer mudança. Se baixar, pode significar que seu radiador está furado, o que é ruim”, esclarece.  

Já o óleo deve ser trocado a cada 10 mil quilômetros rodados, mas pode variar, a depender do veículo. Essa indicação também está no manual. É bom verificar o óleo todo mês. 

No caso do limpador de para-brisa, o professor diz que é interessante mudar quando a borracha está quebradiça. “Não tem frequência fixa, mas se você deixar o carro em garagem, vai demorar mais tempo para substituir. Já se colocar no sol, a borracha vai ressecar mais rápido”.   

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