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Gonzagão baiano, demasiado baiano

Filho de uma petrolinense, nunca considerei haver rivalidade exacerbada dos baianos em relação aos pernambucanos. No sentido contrário, no entanto, já ouvi cada groselha – e a recorrência hoje suscita irritações tão frenéticas como a percussão de ‘Manguetown’, da Nação. Mas sou do time da justiça e da concórdia, e sempre lanço um papinho que desarma o lado de lá da ‘fronteira’ Juazeiro x Petrolina: “enquanto sulistas e sudestinos não davam o devido valor a Luiz Gonzaga, foram Caetano Veloso, Gilberto Gil e Raul Seixas quem mais o reverenciaram e cobraram seu reconhecimento nacional. Não fossem eles…”. E aí desenvolvo um tanto mais esse argumento de mesa de bar, que costuma servir para interromper comentários comparativos não solicitados que vão dos carnavais, o que é mais comum, ao número de arranha-céus do Recife. Lá tem muito mais. Se os pernambucanos têm mania de “competição”, nós também temos nossas fraquezas: um certo fetiche por auto-referenciação, não importando a circunstância. Vide a caçada ao serial killer Lázaro Barbosa, que aqui no jornal nunca esquecíamos de mencionar que o maluco era baiano. Para unir as duas pontas, recordo aqui de duas ocasiões em que o pernambucano Gonzagão, nosso protagonista e também o artista mais importante da cultura nordestina para todo o sempre, que também é baiano oficialmente. A naturalidade local começou a ser forjada em Feira de Santana, no dia 14 de maio de 1984, quando a Câmara Municipal da segunda maior cidade da Bahia (é capaz de Recife ser a primeira) outorgou ao filho de Exu (PE) o título de Cidadão Feirense. O acontecimento é lembrado pelo jornalista Adilson Simas e consta no site Feirenses.com.br, que relembra personagens e acontecimentos históricos na cidade. Para celebrar a feiradesantanidade do Rei do Baião, teve até show do próprio no tradicional (mas já extinto) Clube de Campo Cajueiro. O site lembra, no entanto, que a relação do Mestre Lua com Feira já havia começado muito tempo antes: em 1954 (portanto, rebobinando três décadas da honraria), ele compôs com o parceiro Zé Dantas a canção ‘Feira do Gado’, onde a alteza sertaneja é citada. “Mundo Novo adeus / Adeus minha amada / Eu vou pra Feira de Santana / Eu vou vender minha boiada”, avisa o trecho inicial da música. Anos depois, o Rei do Baião gravou uma versão com Raimundo Fagner que fez bastante sucesso. Lua vem Um mês depois da obtenção do passaporte feirense, Luiz Gonzaga viria a ampliar sua naturalidade para todo o território baiano. “AL homenageia com título o compositor Luiz Gonzaga”, dizia o título da reportagem publicada no dia 19 de junho de 1984, no Correio da Bahia, às vésperas do São João e menos de uma semana depois deste João soteropolitano que vos escreve ter escorregado da barriga da petrolinense Maria das Graças. Gonzagão também compareceu ao seu ‘forró nº 1’ como baiano postiço, no CAB. “O cantor e compositor Luiz Gonzaga recebeu ontem à noite [18/6] das mãos do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Luís Eduardo [Magalhães], o título de Cidadão Baiano aprovado pelo Legislativo por iniciativa do deputado Galdino Leite. A sessão especial foi iniciada às 20 horas e teve a participação do coral da AL”, inicia a reportagem, que não está assinada. Logo acima, aparece uma foto de Gonzagão, usando óculos escuros de noite, sentado na tribuna da assembleia bem ao lado de Luís Eduardo, falecido em 1998. “Ao saudar o artista nordestino, hoje com 72 anos de idade, o deputado Galdino Leite [morto em 2018] ressaltou a importância do cantor para o Nordeste, afirmando que nenhum outro artista soube cantar tão bem a região como Luiz Gonzaga”, continua o texto, antes de transcrever um relato do autor do projeto contando um resumão da vida e obra do cantor e compositor “pernambaiano”. Gonzagão faleceu em 2 de agosto de 1989, aos 76 anos, num hospital da superlativa capital pernambucana, vítima de câncer de próstata. *O colunista entra de férias e o 40+ retorna em julho.

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