A yalorixá Lídia Queiroz dos Santos, conhecida como Mãe Lídia, morreu aos 86 anos, na manhã desta quinta-feira (8), em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. A causa da morte não foi informada, mas segundo familiares, ela já estava com diversos problemas de saúde por conta da idade. Mãe Lídia é uma das responsáveis pelo Bembé do Mercado, o maior candomblé de rua do mundo.
A prefeitura do município do recôncavo publicou uma nota de falecimento para lamentar a morte da yalorixá. No comunicado, eles a definem como a matriarca do povo de santo de Santo Amaro: “Mãe Lídia foi defensora incansável dos valores culturais mais significativos e contribuiu com a luta contra o racismo e a intolerância religiosa em nosso município. Em tempo, a Prefeitura se solidariza com todos familiares (biológicos e espirituais) neste momento de dor”.
O secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Santo Amaro (Secult), Moysés Neto, informou que a morte da yalorixá é uma perda irreparável para o município e ressaltou que mãe Lídia sempre foi uma referência religiosa e espiritual para a maioria dos santamarenses. “Ela, além de tudo, era um ser humano espetacular. Ela dialogava com os yalorixás e babalorixás, mas também com pastores e padres. Ela quebrou diversos paradigmas aqui da cidade. A prefeitura decretou luto, é um dia extremamente triste para Santo Amaro e para todos os adeptos das religiões de matriz africana”, pontuou o titular da pasta.
Mãe Lídia nasceu e morreu em Santo Amaro. Foi iniciada no Candomblé em 1955, para Oxaguiã e Obaluaê e dedicou mais de 70 anos de vida à religião, sendo uma das mais antigas iniciadas no candomblé na cidade. A yalorixá comandou o terreiro Ilê Axé Yá Oman, um dos mais tradicionais da Bahia, por 48 anos.
Moysés Neto destacou também a contribuição de Mãe Lídia para o Bembé do Mercado, manifestação cultural e religiosa que acontece desde 1889 para celebrar o 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura. “Ela conseguiu dar uma outra conotação para os festejos. A gente chama Dona Lídia de matriarca do Bembé do Mercado”, disse.
O titular da Secult do município explica que anos antes do Bembé do Mercado ter sido registrado como Patrimônio Cultural do Brasil, em junho de 2019, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a celebração era muito marginalizada em Santo Amaro. A yalorixá, por sua vez, nunca deixou de celebrar a data e mobilizou toda a sociedade para comemorar junto com ela.
“Ela reuniu os filhos de santo dela e ia para o Largo do Mercado continuar essa história que é o Bembé. Ela motivou toda a sociedade e conseguiu manter os festejos. Depois tivemos o reconhecimento por parte do Iphan, mas antes disso, no momento que ninguém de fato dava a importância aos festejos, ela, com a saberia e sensibilidade que tinha, reunia os filhos de santo e falava: ‘temos que manter essa tradição, porque é uma tradição centenária que faz parte da nossa religião'”, acrescentou o secretário.
Babalorixá do terreiro Ilê Axé Ojú Onirê, que fica em Santo Amaro, Pai Pote também ressaltou a importância de Mãe Lídia para o povo de santo da cidade. “Ela era uma mulher negra forte, guerreira, que sempre lutou para manter a ancestralidade do nosso povo. Ela dedicou muitos anos da vida dela ao candomblé e segue dedicando. As pessoas de terreiro depois que morrem fortalecem a religião, o movimento negro e social, porque a ancestralidade é tudo para a nossa religião”, comentou.
O sepultamento do corpo de Mãe Lídia será realizado na sexta-feira (9), às 9h, no cemitério Campo da Caridade, em Santo Amaro.