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Igreja de quase 300 anos só tem missas durante o dia por falta de luz

No dia 31 de maio começa a trezena de Santo Antônio, mas este ano não haverá festa na Capela de Santo Antônio da Mouraria, em Nazaré. É que o sistema elétrico usado no prédio não é original e só consegue acender o altar e um único lustre em toda a igreja. O telhado está com problemas, há infiltração nas paredes e a área do coro precisou ser interditada devido ao risco de desabamento. Um projeto de restauração está sendo elaborado, mas ainda não tem recursos.

O número 124 da Rua da Mouraria tem uma fachada discreta e quase imperceptível no meio das casas e estabelecimentos comerciais. Os oito degraus levam a uma das capelas mais antigas do Brasil. A construção começou em 1724 e foi concluída em 12 de junho de 1726. O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan) desde 1938, mas, segundo os registros da Arquidiocese, nunca foi reformado.

As pequenas intervenções feitas no decorrer desses quase 300 anos não foram suficientes para sanar problemas que são visíveis. A rede elétrica original não pode ser usada, porque apresenta risco de incêndio, uma rede externa alimenta o prédio, mas só tem capacidade de acender as luzes do altar e um lustre da nave da igreja. Os fios estão à vista de todos. Por conta dessas limitações as missas só podem ser celebradas durante o dia.

Das escadas já é possível ver vegetação na fachada, um indício de infiltração. Ao cruzar a porta principal e olhar para cima, o visitante verá a área do coro, um espaço similar a um mezanino, e que está bastante deteriorado. O acesso foi interditado, porque pode ceder. As duas paredes laterais do templo têm painéis de azulejo português contando passagens bíblicas, mas estão desgastados pelo tempo. Eles levam até um altar que está com a pintura descascando e com infiltrações.

As imagens sacras também precisam de restauração. Rebocos da igreja do século XVIII estão caindo e o telhado precisa ser totalmente trocado, depois que os cupins fizeram um estrago. Um salão que faz parte do templo foi alugado. O inquilino colocou uma barreira separando o espaço do restante da igreja, o que desagradou a comunidade e que terá que ser retirada por determinação do Iphan.

Administração
Na época em que foi construída, a igreja ficava em uma área militar por isso era conhecida como a Capela dos Militares. Ela foi administrada pela Irmandade da Ordem Terceira, depois, pela Irmandade de Santo Antônio dos Militares, e por fim, pela Sociedade São Vicente de Paulo. Em setembro de 2022, os vicentinos devolveram a capela à Arquidiocese, por falta de condições para continuar administrado o templo.

O capelão Marcos Studart assumiu o comando. Ele contou que cerca de 50 fiéis participam das celebrações e que a maioria é idosa. A comunidade distribui pão e sopa, às terças-feiras, na Praça da Piedade, e fez campanhas para tentar reerguer o templo.

“A comunidade se organizou, se mobilizou e através de doações comprou novos ventiladores. Fizemos uma campanha para a aquisição de objetos litúrgicos, e os dizimistas e ofertantes ajudam a manter os dois funcionários que prestam serviços de segurança e acolhimento”, contou o capelão.

Ele agradeceu o empenho da comunidade, mas lembrou que intervenções maiores precisam ser realizadas pelos órgãos competentes. Durante a visita do CORREIO, a professora Silene Viana, 67 anos, levou quatro cestos repletos de flores para enfeitarem o templo e para serem distribuídas no Dia das Mães.

“Tenho uma relação muito próxima com essa igreja, frequentava há uns dez anos até que veio a pandemia e fechou. A gente estava sentindo muita falta. É uma igreja pequena, mas muito acolhedora”, disse.

Projeto
Um projeto de restauração está sendo elaborado por uma empresa privada a pedido da Arquidiocese, que supervisiona o trabalho. Dentre as intervenções, estará prevista a reforma da parte elétrica, do telhado, o restauro de todo o interior do templo, a remoção da barreira construída pelo inquilino e a recuperação da calçada. O salão, que hoje está alugado, será transformado em um espaço para cerimonias.

O projeto será concluído até junho, ainda não está com o orçamento fechado, mas precisará de ajuda para ser efetivado. A Arquidiocese informou que está em contato com o Iphan, atenta aos editais que surgirem para a área da cultura e pediu ajuda do poder público e da iniciativa privada.

Márcio Padro é graduado em Artes Visuais, com especialização em Arte e Patrimônio Cultural e Arte e Educação, e integra o departamento da Igreja que cuida do patrimônio. Ele explicou o trâmite.

“Qualquer intervenção feita em um bem tombado precisa que, antes, seja feito um projeto, protocolado no Iphan, analisado por um técnico e, somente a partir da aprovação é que é feita a intervenção”, disse. 

Procurado, o Iphan respondeu em nota, e afirmou que de acordo com o Decreto-Lei nº 25 de 1937, a responsabilidade pela manutenção e conservação dos bens tombados é dos seus proprietários, e que a superintendência do órgão na Bahia realiza fiscalizações técnicas regulares nos bens tombados situados no estado, dentro das atribuições legais do órgão. 

“O Iphan realizou vistorias recentes na Igreja, resultando na abertura de dois processos de fiscalização em tramitação que apuram a ocorrência de danos ao patrimônio cultural em decorrência da execução de obras sem autorização e do estado de degradação do imóvel. Durante a tramitação dos processos, o Iphan vem realizando reuniões com os responsáveis, buscando a reversão dos danos causados ao bem tombado”, diz a nota. 

Escola de Artes e Restauros

Em cima do altar, Santo Antônio, Santa Terezinha e Santa Edwiges parecem incrédulos diante da atual situação da Capela da Mouraria. Nossa Senhora, São Vicente de Paula, e São José completam o grupo. As imagens e os móveis, muitos do século XVIII, também precisam de restauro. O vice-coordenador da Comissão de Patrimônio da Arquidiocese, José Jorge Mendes, acredita que é preciso despertar uma nova cultura.

“Estamos em conversa com o estado e com a prefeitura para a criação de uma escola de artes e restauro. O objetivo é profissionalizar jovens para que se crie uma cultura preventiva para que nosso patrimônio não chegue a esse ponto. Educar para conservar. Ninguém conserva aquilo que não ama e que não conhece”, afirmou.

A proposta é que a escola funcione no Convento da Lapa, com professores da arquidiocese e investimento do pode público para a compra dos materiais e auxílios aos estudantes. A unidade seria voltada para a formação de jovens nessa área junto com outras iniciativas de melhoria do patrimônio histórico da cidade.

BOXE

As missas são realizadas na Capela da Mouraria às terças e quintas-feiras, às 16h, e aos domingos às 8h30. O contato com a instituição pode ser feito através do Instagram (@a13salvador). 

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