A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA), uma das principais denominações evangélicas do Brasil, possui ao menos três offshores – empresas em paraísos fiscais que garantem sigilo financeiro – localizadas em Barbados e no Reino Unido. A prática, embora legal, atraiu atenção pública e questionamentos éticos, especialmente considerando que a IPDA é isenta de impostos no Brasil, de acordo com o que prevê o artigo 150 da Constituição para instituições religiosas.
As offshores da IPDA foram estabelecidas em diferentes períodos: a primeira, em Barbados, data de 1996 e ainda no nome do fundador David Martins de Miranda. Outras duas foram abertas no Reino Unido, em 2003 e 2009, e associam a filha de David, Débora Oliveira de Miranda Almeida, como “secretária”. Documentos indicam que milhões de reais arrecadados no Brasil foram transferidos para a offshore britânica entre 2005 e 2007, suscitando dúvidas quanto à destinação dos fundos e seu uso em projetos da igreja.
Desde a morte de David Martins em 2015, a Deus é Amor tem enfrentado uma série de polêmicas, especialmente a disputa familiar em torno do controle da denominação e do patrimônio, estimado em R$ 86 milhões. O surgimento das offshores nos Pandora Papers – investigação conduzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) – trouxe ainda mais atenção para a administração financeira da igreja.
Francisco Tenório, advogado e ex-membro da IPDA, revelou que doações de fiéis para a compra de imóveis e emissoras de rádio da igreja teriam sido, na prática, transferidas para o patrimônio pessoal dos líderes. Segundo Tenório, campanhas de arrecadação para fins religiosos foram utilizadas para “construir um império”, o qual, afirma, teria favorecido interesses privados mais do que as ações missionárias ou assistenciais da denominação.
Considerada uma das igrejas evangélicas mais conservadoras do Brasil, a Deus é Amor adota rígidas normas comportamentais para seus membros. Entre as regras estão proibições de assistir TV, consumir álcool e fazer tatuagens. As normas também determinam que homens evitem cabelos longos e mulheres não cortem os cabelos nem usem maquiagem, seguindo a doutrina da igreja.
O Metrópoles, que primeiro divulgou o caso, afirmou ter buscado resposta da igreja, mas ainda não obteve retorno sobre os questionamentos levantados.
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