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Irmãs catadoras ajudam animais e pessoas com dinheiro dos recicláveis

Goiânia – Apesar do pouco dinheiro que arrecadam e que mal dá para garantir o sustento de casa, duas irmãs catadoras de lixo reciclável, na capital goiana, fazem questão de comprar ração e comida para ajudar animais e pessoas em situação de rua.

Valéria Barbosa de Souza, de 51 anos, e Vanuza Barbosa de Souza, 52, saem todas as noites pelas ruas de Goiânia, em um trajeto de cerca de 8 km, para coletar do lixo os materiais que elas revendem e, também, para ir deixando a ração nos pontos onde elas já sabem que terão cachorros e gatos durante a madrugada.

Veja imagens:

Moradoras do Setor Coimbra, as irmãs iniciam a jornada por volta das 19h e percorrem locais do bairro, indo, em seguida, para o Setor Oeste. A escolha do período noturno foi feita por dois motivos: além de ser quando os animais de rua estão mais calmos e ressurgem nos locais onde eles dormem, é mais fácil também para encontrar materiais nas caçambas e lixeiras.

“À noite, eles aparecem para procurar comida. O que chamou a nossa atenção é que eles sofrem muito. Todos os dias, fazemos a mesma coisa, mas é recompensador ver as pessoas não dormirem com fome e os animais também. Faz muito bem para a alma”, diz Valéria.

Episódios tristes na família A vida das irmãs foi revirada nos últimos anos, depois de uma sucessão de acontecimentos tristes na família. O pai faleceu há três anos de leucemia, um irmão foi assassinado, a mãe está com Alzheimer e Vanuza, que trabalhava em um hipermercado e ajudava em casa, adoeceu na função e teve que abandonar o emprego.

Ela passou a sentir dores na coluna e possui, ainda, uma lesão no cérebro. A família tenta, sem sucesso, aposentá-la e ainda aguarda uma resposta do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Tudo isso fez com que Valéria, que vivia na Europa – ela morava em Valência, na Espanha -, retornasse às pressas para o Brasil.

Hoje, uma terceira irmã cuida da mãe, enquanto Valéria cuida de Vanuza. Elas vivem por elas, sustentadas pelo dinheiro que tiram do lixo coletado. E apesar das dificuldades, ainda encontram um jeito de ajudar os que estão na mesma ou numa situação ainda pior.

“Estamos numa situação complicada, com aluguel atrasado, não temos salário fixo e o que a gente ganha é muito pouco. Estávamos com a vida boa, só que ela (Vanuza) adoeceu e a situação foi piorando. Estamos reciclando [lixo], porque temos que continuar a vida. É um jeito de não entrar em depressão e de trabalhar, porque se você ficar em casa, você começa a se desesperar”, expõe Valéria.

Dificuldade de arrumar emprego Assim que retornou ao Brasil para ficar ao lado da família, ela tentou encontrar emprego, distribuiu currículos, fez bicos como diarista, mas, como estava fora do mercado de trabalho no país havia bastante tempo, acabou não sendo chamada para entrevistas. Além disso, a pandemia da Covid-19 dificultou ainda mais e reduziu as chances de ela seguir com as faxinas.

Restou para Valéria e Vanuza a busca por alguma renda nas ruas. Na rotina entre praças, vielas e esquinas, elas notaram que muitas pessoas e animais estavam em situação ainda pior, sem nada para comer. Com o tempo, elas perceberam que, apesar da escassez, talvez fosse possível ajudar de alguma forma.

“É muito pouco dinheiro o que a gente ganha. Não é grande coisa, tem muita gente pegando recicláveis na rua e quase não sobra para nós, mas vimos que muitos animais e pessoas estão sofrendo, e decidimos ajudar”, explica. Vanuza tem uma nova ida ao INSS marcada para o próximo dia 19/9.

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