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Jornalista Dom Phillips dava aulas gratuitas de inglês em bairros periféricos de Salvador

O jornalista Dom Phillips, assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, ensinava inglês gratuitamente há cinco meses em um projeto social para jovens dos bairros de Alto do Cabrito e Marechal Rondon, localizados no subúrbio de Salvador. A última aula do professor aconteceu no dia 28 de maio e a previsão de retorno era para o dia 9 de julho, depois do recesso junino. 

As aulas de Dom faziam parte do projeto Jovens Pensantes da Associação Emília Machado Bahia (Aemba), que tem como missão prestar assistência às pessoas de baixa renda nas áreas de educação, saúde, trabalho, esporte, cultura e lazer, capacitando adolescentes e jovens para se tornarem jovens aprendizes no mercado de trabalho.

A vice-presidente da entidade, Edlane Leal, conta que foi o jornalista que conheceu o projeto e decidiu se oferecer para participar. “Ele dava aula desde dezembro, era muito querido e sempre admirava a evolução dos alunos”, disse. 
Edlane afirmou que os alunos estão muito abalados com a perda do professor e estão recebendo suporte da Aemba. “A gente está dando suporte para os alunos, porque eles já perderam a presidente da associação há dois meses, então é luto em cima de luto”, completou a vice-presidente da entidade. 

Dom Phillips com alunos de inglês (Foto: reprodução/redes sociais)

Aluna de Dom Phillips, Edla Kyesi,  de 13 anos, ressaltou que o jornalista era muito mais que um professor de inglês. “Dom Phillips, ou Dominique, que era como a gente conhecia ele, era uma pessoa maravilhosa e ajudou todos da maneira que ele conseguiu. Ele não só contribuiu de uma maneira descontraída para que vários de nós pudéssemos aprender inglês, mas nos ensinou a sermos menos tímidos quando o assunto é aprender”, declarou a adolescente. 

Segundo ela, o professor se preocupava com coisas que ele nem precisava e estava sempre empenhado em ajudar. “Ele fez o seu melhor todos os dias da vida dele, ajudando quem ele não precisava ajudar e mudando o que ele não precisava mudar e, no final, essa coisa brutal aconteceu, ele não merecia”, concluiu a aluna. 

Para Antônio Carlos, 14, que também tinha aula de inglês com Dom, o jornalista tentava transformar o aprendizado da língua estrangeira em algo simples e era muito querido por todos os alunos. “O professor Dom saiu do seu país, da sua terra natal, para vir para um país distante e atuar em causas que ele não precisava atuar. O trabalho dele não se resumia apenas ao curso. Ele se preocupava com a preservação da natureza, com a crítica ao garimpo ilegal e com o desmatamento da Amazônia. Mesmo depois de sua morte, o seu trabalho não pode terminar, porque um trabalho importante desse tem que continuar para as outras gerações”, destacou o estudante. 

Nas redes sociais, a associação publicou relatos de alunos, na ferramenta de Stories do Instagram, sobre Dom Phillips. Em um deles, a jovem , identificada como Michele, 15, demonstrou sua tristeza em ter perdido o professor e também a sua inconformidade com a crueldade do mundo. “Tento entender como o mundo pode ser tão cruel. Nós ficamos muito impressionados que teríamos aula de inglês com um britânico e, como sabemos, no começo não era fácil pronunciar uma língua diferente, mas como mas mesmo com a dificuldade, ele sempre ajudou e quando acertamos os seus olhos brilhavam”, comentou a menina. 

Michele também relembrou que o professor avisou que iria para a Amazônia na última aula antes do recesso do São João. “Lembro que o senhor [Dom Phillips] disse: ‘vou viajar para a Amazônia, mas já já estarei de volta’. Eu fiquei tão feliz, o senhor falava sobre a Amazônia com brilho nos olhos, mas depois fomos surpreendidos com o senhor e o seu companheiro desaparecidos e imploramos a Deus e o nosso anjo da guarda que cuidasse do senhor”, completou.  

Outra aluna, identificada apenas como Aduana, também publicou um relato para falar sobre a tristeza de perder o professor de uma forma tão brutal e para agradecer pelos seus ensinamentos. “É triste ver você partir dessa maneira. Que Brasil é esse que se você faz o bem você morre e se você não faz nada você morre também?”, indagou a jovem. 

* Com orientação de Monique Lôbo 

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