Suspeito de ameaçar uma psicóloga e de favorecer o ex-marido dela em processos de divórcio litigioso e de alimentos que tramitavam na 3ª Vara de Família (antiga 5ª Vara da Família), o juiz Antônio Mônaco Neto nega ter chamado Rafaella Santos Boaventura para uma reunião de “lavagem de roupa suja” em seu gabinete com Mário Soto sem a presença de advogados. No entanto, a defesa de Rafella disse que a psicóloga se sentiu ameaça, principalmente pelo fato da insistência do magistrado para o tal encontro, uma vez que a cliente que tem duas medidas protetivas contra o ex.
“Não. Eu disse que tinha receio que o Mário fizesse alguma coisa contra a Rafalela. Se ela quisesse levar o advogado, se Mário quisesse também ir com o advogado, todo a conversa seria na presença dos advogados”, declarou o magistrado que, além de titular da 3ª Vara de Família, é juiz eleitoral titular da 13ª Zona Eleitoral. Por conta da denúncia, Antônio Mônaco responde a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
O caso veio à tona depois que o CORREIO revelou com exclusividade a gravação feita por Rafaella e o processo que põem em questão a conduta do juiz. No áudio, Mônaco diz a psicóloga: “- Rafaella, bote na sua cabeça uma coisa: esse homem é apaixonado por você. Tenho medo, tenho hoje um medo do que ele pode fazer…”. em seguida, ela pergunta: “O senhor acha que ele é capaz de me matar e os meninos e depois se matar?”. E o juiz responde: “Com os meninos, não! Jamais faria isso com os filhos. Ele faria isso com você!”.
Sobre a gravação, Antônio Mônaco disse que o material é ilegal. “Ela gravou toda a minha conversa sem a minha autorização, em que eu falava com ela, dizia que estava muito preocupado com a situação dela, disse que estava disposto em ajudá-la em qualquer momento. Toda essa prova é considerada prova ilícita, porque não tinha conhecimento da gravação”, disse o juiz a reportagem.
No entanto, a defesa de Rafaella diz o contrário. A gravação consta no PAD, através de casos semelhantes em que as decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) validaram a prova com base que as inovações do Pacote Anticrime na Lei 9.2961/1996 não alteram o entendimento que é lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o consentimento do outro.
O juiz diz que que está perplexo com a atitude de Rafaella. “Estou estupefato pelo fato dela ter aberto um processo administrativo contra mim, porque nunca passei a mão pela cabeça de Rafaella e de Mário, porque quem me conhece, sabe que sou um juiz imparcial, extremamente honesto, sou respeitado pelo Tribunal de Justiça a minha integridade é inconteste”, declarou o magistrado que teve o PAD aberto por unanimidade pela corte do TJ-BA em junho deste ano.
Juiz teria favorecido Mário, que vive vida luxuosa e não paga pensão dos filhos, diz ex (Foto: Divulgação) |
Alguns desembargadores nomeados como relatores do PAD se consideram suspeito para julgar o caso, ou seja, quando há razões subjetivas que possam comprometer a parcialidade do juiz. Foram eles: Joanice Guimarães, Maria de Lourdes Pinho Medauar, José Alfredo Cerqueira da Silva, Edson Ruy Bahiense Guimarães e Maria da Purificação da Silva. Atualmente a relatora do processo é a desembargadora Aracy Lima Borges.
Antônio Mônaco negou ainda que tivesse ameaçado Rafaella. “Eu não ameacei Rafaella. Eu procurei preservar a dignidade dela, a integridade física e moral de Rafaella. O que eu disse à Rafaella foi que eu tinha receio que o Mário tentasse contra a vida dela, que com relação aos filhos ele não faria nada, mas em relação a ela, ela poderia ser vítima de violência doméstica. Eu só ajudei Rafaella”, declarou.
Casamento e divórcio
A reportagem assistiu ao julgamento que decidiu pelo PAD e teve acesso ao processo através de fontes do TJ-BA. Nos autos, constam que Rafaella e Mário Soto se casaram em 2011, quando ela já era dona de clinicas de psicologia. No entanto, em junho de 2016, ela saiu de casa com o primeiro filho e grávida do segundo, após ameaças e agressões do marido. Mesmo após conseguir medida protetiva, Mário Soto invadiu uma das clínicas dela com um martelo. Rafaella, então, entrou com cinco processos de divórcio litigioso e de alimentos, em 2016. Alguns desses processos foram parar na 5ª Vara da Família através de sorteio eletrônico e outros foram “puxados” de outras varas pelo juiz Antônio Mônaco Neto.
Segundo a denúncia, o magistrado passou a protelar as ações movidas por Rafaella. Em contrapartida, vinha dando agilidade ao processo movido, dois anos depois do divórcio, por Mário Soto contra a psicóloga, onde ele alegava que mesmo antes do casamento, vivia em união estável com Rafaella, o que, lhe daria direito às clínicas.
Fotos e vídeos
Preocupada com a segurança dos filhos, que saiam com o pai quando esse ia buscá-los em alguns finais de semana, e tentando provar a capacidade financeira do ex para pagar a pensão, Rafaella encontrou anúncio em site especializado vinculado à conta pessoal de Mario Soto Alvarez (Masoto, membro desde 2015), com telefone e endereço. No site, o ex-marido vendia a Mercedes-Benz C 200 preta, no valor de R$ 46.900, do juiz Antônio Mônaco Neto, o mesmo veículo usado por ele para buscar os filhos e visitar amigos, em 2020. A psicóloga fez vídeos e fotos de vários momentos dele com o carro.
Mário Soto com o carro do juiz instantes depois de deixar os filhos na casa da ex (Divulgação) |
Fez imagens também da Mercedes do juiz estacionada na garagem do prédio onde mora Mário Soto, no Condomínio Victoria Loft, na Av. Sete de Setembro, 1838, Corredor da Vitória.
TJ-BA
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) foi procurado através de e-mail para saber sobre o andamento dos processos e para comentar sobre as acusações contra o juiz e como está o andamento do PAD contra o magistrado. “Em observância ao quanto estabelece o art. 36, inciso III, da Lei Orgânica da Magistratura – LOMAN e o Código de Ética da Magistratura, o Poder Judiciário do Estado da Bahia (PJBA), não emite qualquer opinião sobre processos em andamento, processos pendentes de julgamento. O pronunciamento ocorre nos autos”, afirmou o TJBA, em nota.
A reportagem foi atrás de um posicionamento quando à conduta do juiz ao TRE-BA, mas não houve resposta até o momento da publicação desta reportagem.
Mário Soto Alvarez também foi procurado e, por telefone, informou que não falaria sobre o assunto no momento.