Um dia antes de deixar a reclusão após ser derrotado nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro se reuniu com o general da reserva Mário Fernandes no Palácio do Alvorada. O militar é um dos alvos da Polícia Federal (PF), que prendeu um grupo acusado de planejar um golpe de Estado e as mortes de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
Segundo investigação da PF, Mario Fernandes esteve com Bolsonaro no Palácio do Alvorada em 8 de dezembro de 2022. Ele permaneceu na residência oficial por 40 minutos, entre 17h e 17h40.
Durante conversa com Mauro Cid, o membro dos “kids pretos” revelou ter conversado com Bolsonaro naquele dia, e expressado ao ex-presidente sua insatisfação com as oportunidades perdidas de aplicar o golpe. Como resposta, Fernandes teria sido tranquilizado por Bolsonaro, que deu aval para a ação até 31 de dezembro daquele ano.
“Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes [sic], a gente já perdeu tantas oportunidades”, escreveu Mario Fernandes em uma mensagem enviada à Cid às 22h56 do dia 8 de dezembro de 2022″.
Além disso, o general golpista revelou uma preocupação quanto a perder o controle dos apoiadores de Bolsonaro acampados em Brasília, que poderiam se radicalizar ainda mais.
“A partir da semana que vem, eu cheguei a citar isso pra ele [Bolsonaro], das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismo e a gente perde o controle, né? Pode aconteceu de tudo. Mas podem esmaecer também”, disse Fernandes à Cid.
Atuação direta com golpistas
Na mesma conversa, o general da reserva revelou estar atuando diretamente na orientação dos golpistas, principalmente membros do agronegócio e caminhoneiros que acompanha em frente ao Quartel General do Exército (QG) em Brasília.
Ele, no entanto, solicitou que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro intercedesse para que o ex-presidente também agisse e instigasse apoiadores.
“E Cid, o segundo ponto é o seguinte, eu estou tentando agir diretamente junto às forças, mas, pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar”, pediu o membro dos “kids pretos”.
Bolsonaro aceita “assessoramento”
Um dia após o pedido do general Mario Fernandes, Bolsonaro deixou a reclusão que durava desde sua derrota nas eleições, em 30 de outubro daquele ano, e falou com apoiadores no Palácio do Alvorada. Na ocasião, o então presidente falou em “fazer a coisa cerca” e “vencer”, apesar de ter sido derrotado nas urnas.
“Não podemos esperar chegar lá na frente e olhar para trás e pensar no que não fizemos. Sabemos que o tempo voa. Cada minuto é um minuto a menos. Vamos fazer a coisa certa. Diferentemente de outras pessoas, vamos vencer”, disse Bolsonaro na época.
No mesmo dia, as investigações apontam que o ex-presidente se reuniu com o então comandante do Exército, general Estevam Cals Theophilo, para ajustar detalhes do golpe.
Em uma nova troca de mensagens com Cid, o general Mario Fernandes parabenizou a aparição pública de Bolsonaro e comemorou que o ex-presidente havia aceitado “nosso assessoramento”, se referindo ao grupo que planejava impedir a chegada de Lula ao poder.
“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele”, escreveu Fernandes em uma mensagem enviada às 23h50 do dia 12 de dezembro de 2022.