InícioEditorialLaços, freiras e muita saudade: Ex-alunos relembram histórias do Colégio Mercês

Laços, freiras e muita saudade: Ex-alunos relembram histórias do Colégio Mercês

Um espaço acolhedor em que laços fortes eram criados. É assim que ex-alunos do Colégio Nossa Senhora das Mercês, que anunciou o fechamento após a finalização deste ano letivo, vão se lembrar da instituição. Ao longo de 125 anos de história, milhares de alunos aprenderam, fizeram amigos e utilizaram o espaço do colégio religioso, que fica localizado na Avenida Sete de Setembro, no Centro da capital baiana. Para muitos, a sensação que fica é a de uma perda irreparável, que se assemelha à de um parente que foi embora. 

A chef patisserie Aline Leone, 41, estudou nas Mercês entre os anos de 1983 e 1997. Ela se recorda que entrou no colégio ainda bem nova, quando tinha por volta dos 2 anos de idade. “As minhas maiores amizades foram construídas dentro das Mercês. A escola tinha uma percepção de educação diferenciada, então eu criei uma família lá dentro”, conta. 

Aline mantém até hoje um grupo de amigas que se denominam As Ursulinas, em referência à congregação católica Companhia de Santa Úrsula, que fundou o convento e posteriormente a escola. Foram essas amigas que deram apoio à chef quando sua mãe adoeceu antes de falecer, há oito anos.

“Eu costumo dizer que as pessoas hoje falam muito de doação, mas a gente cresceu entendendo que caridade é dividir”, afirma Aline Leone. 

Aline Leone e colegas durante um passeio da escola no início dos anos 1990

(Foto: Acervo Pessoal)

É comum ouvir entre ex-alunos a história de que vários membros da família estudaram no Colégio Mercês. Três irmãos de Aline passaram pela instituição. Ela relembra com carinho a forma que um deles foi tratado pela comunidade quando foi diagnosticado com leucemia. “A escola o acolheu de  forma muito humanizada, isso há mais de 20 anos”, diz. 

Também estão guardadas nas memórias de adultos que já passaram pelas Mercês passeios escolares e campeonatos de esportes. O assessor Hilton Oliveira, 39, estudou durante 16 anos no colégio e relembra uma viagem que fez com colegas para Imbassaí. “Apesar da escola ser católica, não era tão rigorosa como as pessoas pensam. Lembro de passeios para o Litoral Norte, ficávamos tomando banho de rio e de piscina”, conta. 

Hilton Oliveira e sua turma em 1989

(Acervo Pessoal)

Porém, a lembrança principal que tem da época de infância é a de ir até as Mercês andando na companhia dos amigos.

“A gente marcava de sair juntos para o colégio de manhã e, como dizemos no bom baianês, descia aquela barca toda andando para as Mercês”, lembra Hilton Oliveira.

Uma prova das relações de amizade que são levadas para toda a vida é a turma da gerente comercial Carla Castro, 54, que se formou em 1985. A cada três meses eles se reúnem em uma confraternização e, ao ficarem sabendo da possibilidade de fechamento do colégio, decidiram remarcar o evento para fevereiro do ano que vem. Com o ingresso a R$120, os amigos pretendem arrecadar dinheiro para doar para as freiras.

“É um encerramento de um ciclo de uma maneira muito triste”, diz Carla sobre o fechamento.  

A turma de Carla Castro concluiu o período no colégio em 1985

(Foto: Acervo Pessoal)

O apresentador de televisão Leonardo Sampaio, 43, estudou nas Mercês durante o Ensino Médio, entre 1994 e 1996. Triste com a notícia do encerramento das atividades da escola, ele conta que os momentos de intervalo das aulas e a resenha entre os colegas é o que mais o marcou.

“Na época, eu morava no bairro de Roma e ia de ônibus para o colégio. Lembro muito do convívio diário, os momentos com os amigos foi o que mais me marcou”, conta. Léo do Pida, como é conhecido, mantém amizades da época do colégio até hoje.

Freiras icônicas

Sendo um colégio religioso, as Mercês possui uma série de regulamentos que devem ser seguidos pelos alunos. Aline Leone lembra que as freiras determinavam até a coloração das meias que os alunos deveriam usar em sua época de estudante. “As freiras eram bem rígidas. Lembro de Irmã Laíse, que era a tenebrosa que nos beliscava”, lembra a chef, rindo. 

“Irmã Tereza também já tinha uma certa idade na época, mas era muito carinhosa. Tenho lembranças que quando tinha vontade de comer algo na cantina e não tinha dinheiro, ela sempre dava um jeitinho de liberar sem ninguém saber”, conta Aline Leone. 

Outros ex-alunos ouvidos pela reportagem contam de uma irmã que era conhecida como Freira da Discórdia no início dos anos 1990. A rigidez de não deixar os alunos se paquerarem rendeu à freira o apelido entre os estudantes mais ousados.

“Tinham colegas que usavam uma rampa que dava acesso às salas para paquerar no recreio e as freiras não gostavam nada disso”, relembra um dos ex-alunos

Atividades religiosas do Convento das Mercês vão continuar

Apesar de boatos de que o Convento das Mercês também iria fechar com o encerramento das atividades da escola, o gerente administrativo e financeiro do Colégio Nossa Senhora das Mercês, Lionel Reis, afirma que as atividades religiosas vão continuar ocorrendo no local. Segundo ele, atualmente oito freiras residem no convento. 

Lionel Rios também confirmou em entrevista à reportagem que a condição financeira da unidade escolar é a razão para o fechamento. “Já ocorria uma diminuição no número de alunos matriculados a cada ano e, com a pandemia, a situação se agravou até ficar insustentável”, explica. 

Sobre o fato dos alunos e ex-alunos serem tão apegados à instituição, Lionel acredita que a relação de proximidade tem a ver com o fato da tradição de mais de um século. “Existe um lado emocional muito forte entre os alunos por ser uma escola secular. Os pais que estudaram matricularam seus filhos e é uma tristeza muito grande ter que anunciar o fechamento”, diz.

*Com orientação de Monique Lôbo.

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