A operação da Polícia Federal (PF), que prendeu agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) na sexta-feira (20/10), expôs mais uma vez um ponto de divergência entre os ministros da Defesa, José Múcio, e da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
Depois do 8 de Janeiro, Dino aconselhou o presidente Lula (PT) a “desbolsonarizar” o Gabinete de Segurança Institucional, de Gdias à época, e demitir todos os militares e funcionários da gestão anterior que estivessem em postos chave. Lula comprou a ideia, mas foi impedido por Múcio.
Na ocasião, o ministro da Defesa avaliou que os ânimos estavam muito inflamados e não era uma boa ideia comprar brigas com as Forças Armadas.
A manutenção se mostrou um erro. O sentimento no Palácio do Planalto após as operações de ontem é de espanto, por Múcio “não ver o problema embaixo do nariz”, segundo integrantes do governo.
O Ministério da Justiça de Dino apontou dois erros de Lula ao ouvir Múcio: a manutenção de parte da equipe de Augusto Heleno no GSI até pelo menos abril; e a nomeação de Paulo Maurício Fortunato Pinto como “número 3” da Abin —alvo da operação de ontem.
As críticas também vieram do Congresso. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) fez chegar ao Palácio do Planalto o recado de “eu avisei”. Calheiros sabatinou Luiz Fernando Corrêa, atual chefe da Abin, e criticou a indicação de diretores na agência, sobretudo a de Fortunato Pinto.
O secretário de planejamento da Abin, Paulo Maurício Fortunato Pinto, foi afastado de seu cargo por suspeita de integrar um esquema de espionagem irregular contra jornalistas, políticos, ministros e adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A determinação partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fortunato Pinto teria sido o nome do alto escalão que teve apreendido em sua residência US$ 171.800 em espécie.